A economia
brasileira encolhe desde 2014. Até o momento, o PIB per capita teve uma
contração de -9%, ou seja, o valor da riqueza corrente por habitante vem
diminuindo. As projeções para 2017 indicam que a economia permanecerá
estagnada, o que significa que o PIB per capita amargará nova queda, uma vez
que a população continuará crescendo.
Nessa dinâmica recessiva, o país seguirá fechando estabelecimentos; fomentando a desnacionalização da economia, com a venda de empresas públicas e privadas, de reservas naturais e de outros ativos; promovendo o desmonte do Estado, das políticas públicas e subtraindo direitos sociais; fragilizando os espaços de diálogo social e de democracia participativa; subordinando cada vez mais o desenvolvimento produtivo ao interesse da riqueza financeira; destruindo instituições públicas que promovem e sustentam o desenvolvimento econômico e social. Desemprego, arrocho salarial, informalidade, pobreza, violência e desigualdade são fenômenos que crescem e se espalham no território.
Para os setores que construíram e viabilizou o atalho ao poder central, o impeachment era um mal necessário, que geraria otimismo, reverteriam às expectativas e mobilizaria a vontade do capital, especialmente internacional, para investimento e ampliação da capacidade produtiva da economia. O crescimento também faria com que fossem esquecidas as violências às instituições de nossa combalida democracia.
Entretanto, a vida insiste em se revelar muito mais complexa, porque a) homens e mulheres, com as instituições e organizações de que dispõem em cada contexto, resistem e insistem em outros caminhos; b) os poderosos interesses de investidores, empresas e estados pelas riquezas aqui existentes atuam em múltiplos espaços e jogam com diferentes iniciativas e recursos; c) a capacidade de a sociedade civil construir unidade a partir do bem comum e do interesse geral é frágil, lenta e permeada por múltiplos interesses contraditórios.
A crise política e institucional se agrava a cada novo fato e, com
seus desdobramentos, tem revelado a profundidade e extensão da corrupção. Há,
portanto, inúmeras práticas a serem eliminadas no mundo das empresas e na
governança do Estado, e muitas pessoas a serem punidas.
Se o combate à corrupção deve gerar, de um lado, nova governança e
relacionamentos entre os setores público e privado, precisa também, de outro,
permitir e impulsionar as organizações para produzir, com outros tipos de
controle. Destruir os milhares de empregos, paralisar as obras em curso,
aniquilar projetos, desmobilizar competências e capacidades é abrir mão de
valiosíssimos e essenciais instrumentos nacionais de desenvolvimento.
Desemprego e arrocho salarial, crédito extorsivo e endividamento das famílias retiram o protagonismo econômico do mercado interno de consumo. Lucros em queda, juros proibitivos, demanda congelada paralisam as atividades produtivas. Um mundo que pretende vender mais do que comprar fragiliza as exportações de manufaturados, já afetadas pela desindustrialização e prejudicadas pelo câmbio intencionalmente valorizado. Não há tração interna para a economia crescer.
A crise política, que se agrava com mais denúncias de corrupção,
aprofunda ainda mais o poço. A experiência internacional mostra que não se
elimina definitivamente a corrupção e que esta, infelizmente, é um problema que
atinge a todos os países. O que cada sociedade faz é construir instituições e
práticas para combater este problema, além de punir os responsáveis, de maneira
permanente e incondicional. É uma tarefa muitíssimo complexa, que requer grande
legitimidade social e política, imenso esforço institucional e vontade coletiva
para enfrentar as mazelas do presente, com um olhar determinado para o futuro.
A indignação não deve dar lugar ao ódio na construção desse futuro, pois esse
caminho inevitavelmente conduz ao desastre.
A transição para outro caminho é, na verdade, uma construção
política bastante delicada, a ser levada com extremo cuidado para que a
sociedade não venha, novamente, a se tornar a grande vítima. A natureza dessa
crise institucional amplia os desentendimentos e dificulta a construção de outro
futuro, em que haja crescimento, inclusão e relações transparentes entre os
setores privado e público.
Essa saída é essencialmente política, ou seja, requerem a pactuação de novas relações sociais, regras, instituições, práticas de governança e de gestão do uso do recurso público. E mais: será necessário afirmar o sentido e o conteúdo de um projeto de desenvolvimento nacional que indique a dinâmica produtiva da economia brasileira e a centralidade do Estado como promotor e coordenador de novas práticas que incentivem o crescimento econômico e ajudem no equilíbrio da relação capital e trabalho.
Na democracia, somente a legitimidade da escolha das urnas, precedida de amplo e profundo debate, pode abrir caminhos para a transição rumo a trajetórias que enfrentem e superem a crise política e permitam retomar o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Precisamos parar de afundar e jogar a escada que permitirá a saída do poço, a retomada.
Por: Clemente Ganz Lúcio, diretor Técnico do DIEESE.
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