O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, implode um acordo político feito pelo governo ao dizer que
engavetará futura medida provisória de Michel Temer que suavize pontos da
reforma trabalhista aprovada ontem no Senado.
Maia também comete um erro
político, porque quebra um entendimento que viabilizou a aprovação da reforma.
Isso é mau sinal na política.
Também é mais um indicativo
de que o presidente da Câmara se movimenta de forma independente do governo e
abraça uma agenda própria, de quem se candidata indiretamente ao lugar de
Temer. Maia fez mais um gesto de descolamento de Temer.
A reforma trabalhista foi
aprovada rapidamente e com o texto integral da Câmara, sem mudanças pelo
Senado, porque o governo se comprometeu a editar a medida provisória alterando
pontos do projeto, como proibir a liberação para que grávidas e lactantes
trabalhem em locais insalubres e flexibilizar o imposto sindical, deixando de
torná-lo obrigatório.
Engavetar a medida
provisória agradará ao lobby empresarial, que foi o grande vencedor ontem, mas
renderá contestações políticas a Maia. Ele dá um passo para se colocar como um
fiador radical de reformas desejadas pelo mercado financeiro e o empresariado.
Pode buscar uma candidatura presidencial como um candidato de direita que não
tenha a inconsistência de Jair Bolsonaro e que seja menos dúbio do que os
tucanos. Esse posicionamento vai atrair aliados, mas também inimigos.
Maia (DEM-RJ) alega que não
participou do acordo para suavizar a reforma e que seria preciso parar de
mentir no Brasil e aprovar projetos de mudança. No entanto, ele deveria ter
dito isso antes da votação no Senado, já que invoca o argumento de que não se
pode mentir mais no país. O partido dele, o DEM, também deveria ter abraçado
essa posição publicamente.
O líder do DEM no Senado,
Ronaldo Caiado (GO), criticou Maia. Disse que é inadmissível o presidente da
Câmara ter dito isso após a aprovação do projeto. Até agora, pelo menos
publicamente, o DEM faz parte da base de apoio do governo.
Mais: a trabalhista é uma reforma
delicada. Os defensores afirmam que gerará emprego. Os críticos dizem que
prejudicará os trabalhadores, porque direitos conquistados há décadas foram
extintos e flexibilizados. Obviamente, é uma reforma que fragiliza os
empregados na negociação com os empregadores.
A declaração de Maia mostra
que as senadoras que protestaram ontem tinham razão. Um argumento apresentado
por elas é que Temer não teria condição política de aprovar via medida
provisória, por exemplo, a mudança em relação a grávidas e lactantes. Sem o
apoio de Maia, que controla a pauta de votação da Câmara, vai vigorar a versão
mais draconiana da reforma. Obviamente, é pior para os trabalhadores.
Descolamento
A aprovação da reforma
trabalhista ajuda a estratégia de Temer para sobreviver no cargo, mas não
resolve o problema. Teria sido um desastre para o presidente a rejeição da
reforma, porque equivaleria a um diagnóstico de fim da força congressual, de
fim de governo. Nesse sentido, a aprovação dá fôlego a Temer para continuar
lutando.
Mas a decisão de Maia de
engavetar a futura medida provisória do presidente, se for mantida, vai deixar
Temer mal politicamente. Maia também tem sido um apoiador da agenda de reformas
de Temer. Sinalizava ter compromisso com o presidente. Essa decisão de
engavetar a MP enfraquece Temer.
Por:
Kennedy Alencar (http://www.blogdokennedy.com.br)
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