No século XIX, o resplendor do progresso não oculta a questão social, caracterizada
pelo recrudescimento da exploração do trabalho e das condições subumanas de
vida: extensas jornadas de trabalho, de dezesseis a dezoito horas, sem direito
a férias, sem garantia para velhice, doença e invalidez; arregimentação de
crianças e mulheres, mão de obra mais barata; condições insalubres de trabalho,
em locais mal iluminados e sem higiene; mal pagos, os trabalhadores também
viviam mal alojados e em promiscuidade.
Com a ampliação do setor de serviços, aumenta a classe média,
multiplicam-se as profissões de forma inimaginável e nos aglomerados urbano os escritórios
abrigam milhares de funcionários executivos e burocratas em geral.
Na nova organização acentuam-se as características do individualismo que
levam à atomização e dispersão dos indivíduos o que faz aumentar o interesse
pelos assuntos da vida privada (e menos pelas questões públicas e políticas),
além da procura hedonista de formas de lazer e satisfação imediata (talvez
justamente porque o prazer lhes é negado no trabalho alienado).
Assim, a exploração e a alienação, embora ainda existam, não aparecem
como atributos da esfera da produção, mas da esfera do consumo. Ao prosperarem
materialmente, os trabalhadores (as) passam a compartilhar do “espírito
capitalista”, sucumbe aos apelos e promessas da sociedade de consumo.
O torvelinho produção-consumo em que está mergulhado o homem contemporâneo
impede-o de ver com clareza a própria exploração e a perda de liberdade, de tal
forma se acha reduzido na alienação ao que Marcuse chama de uni-dimensionalidade (ou seja, a uma só
dimensão).
Ao deixar de ser centro de si mesmo, o homem perde a dimensão de
contestação e crítica, sendo destruída a possibilidade de oposição no campo da
política, da arte, da moral. Os sistemas de controle da sociedade aprisionam o
indivíduo numa rede aparentemente sem saída. E infelizmente, a maioria dos
brasileiros (as) tem pobreza no falar, pobreza no pensar e impotência no agir.
Enquanto prevalecerem as funções divididas do homem que pensa e do homem
que só executa, será impossível evitar a dominação, pois sempre existirá a
ideia de que só alguns sabem e são competentes e, portanto, decidem: a maioria
que nada sabe é incompetente e obedece. Por isso, a questão fundamental, hoje,
é a da necessidade da reflexão moral sobre os fins a que a técnica atende e observar
se está a serviço do homem ou da sua exploração.
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