Apesar dos tempos bicudos
que vivemos, há uma maneira fácil de ganhar um dinheirinho: apostar que, na
hora em que tomar qualquer decisão, o capitão Bolsonaro fará uma burrice.
Problema talvez seja encontrar quem aceite a aposta inversa.
A ridícula ideia de nomear
um filho como embaixador é suficiente como exemplo. Estava vago o posto de
embaixador nos Estados Unidos e o que faz Bolsonaro? Sai-se com uma invenção
tosca.
Perderia seu dinheiro quem
apostasse que manteria o atual embaixador ou nomearia alguém à altura. Filho,
desqualificado e em Washington, alguém imaginaria que o capitão fosse capaz de
tanta burrice? Pois foi.
A relação que com ele guarda
uma parte da elite a obriga a procurar algum sentido em suas patuscadas. Não é
que apareceu um diretor da Confederação Nacional da Indústria para declarar que
o filhinho embaixador faria milagres, alavancando as exportações brasileiras?
Pode haver quem tente tirar leite das pedras, mas o fato permanece: foi mais
uma burrice, das grossas.
E viva as burrices! O
apetite do capitão para cometê-las é uma das razões para ter certeza de que sua
passagem pelo primeiro plano de nossa vida politica será breve.
Houve um momento em que era
possível que Bolsonaro se tornasse uma liderança respeitável, capaz de
representar uma parcela significativa de nossa sociedade, logo após a vitória
no segundo turno da última eleição.
Naquela altura, um político
inteligente poderia, até com facilidade, agregar outro terço do eleitorado ao
que votara em seu nome, constituído pelas pessoas menos politizadas e de menor
participação. Estava a seu alcance chegar ao final de 2018 tendo-as a seu lado,
o que o tornaria uma figura política de primeira grandeza. Bastava que não
fosse o velho capitão Bolsonaro, sempre a fazer burrices, mas era.
Completa seis meses de
governo em situação frágil, com Moro e a Lava Jato desmoralizados, e o
horizonte nublado. Não por acaso, põem-se a assobiar no escuro, tentando
afastar os fantasmas da insignificância e da impopularidade, fingindo-se
animado com as chances de reeleição. Faz o mesmo que seu amigo Michel Temer,
que se pavoneou como candidato “forte” durante uns três meses em 2017, para
terminar assistindo a eleição pela televisão, escondido no Palácio do
Jaburu.
As pesquisas mostram que
Bolsonaro foi incapaz de expandir sua base de apoio desde a eleição. Os números
da avaliação positiva que preserva sugerem que não conseguiu incorporar
praticamente ninguém, nem entre as pessoas que votaram em Haddad, nem entre
quem ficou indiferente a ambos.
Há de haver várias razões
para isso e uma delas é a burrice de Bolsonaro, que o faz achar que precisa
dialogar apenas com seus eleitores, supondo que, com eles, ganha toda eleição.
Ou então que, à custa de mutretas como as que o beneficiaram em 2018,
conseguirá impedir que qualquer adversário o derrote.
O capitão, ao que tudo
indica, acredita que seu eleitorado é estável e homogeneamente ideológico,
constituído por pessoas movidas a chavões da ultradireita primitiva. Essa gente
existe, fantasiada de verde-amarelo, falando besteiras e seguindo perfis que
disseminam idiotices na internet. Mas não passa de uma pequena minoria, que se
pode estimar em algo próximo a 10% da população.
Muito mais que a metade dos
eleitores que votaram em Bolsonaro nem sabe qual é sua ideologia, nunca ouviu
falar em anticomunismo, ante esquerdismo ou bobagens do gênero. São pessoas que
acreditaram que o capitão entregaria, no curto prazo, três resultados
palpáveis: a retomada do crescimento econômico, com mais renda e empregos, o
aumento da segurança, com a derrota da criminalidade, e a regeneração dos
costumes políticos. E, se há hoje uma certeza, é que nenhuma delas está acontecendo
ou ocorrerá em seu governo.
É apenas uma questão de
tempo para que o terço de apoio do capitão comece a minguar. Com a qualidade de
sua turma e da liderança que exerce, não há hipótese de que consiga, em prazo
razoável, entregar aquilo com que se comprometeu. A cada nomeação canhestra, a
cada escolha despropositada de prioridades, a cada iniciativa sem pé nem
cabeça, a possibilidade de que faça um bom governo fica mais remota e menor sua
sustentação.
Não será pequeno o custo
social em que implicará, nem bonito o espetáculo do fracasso administrativo do
governo do capitão Bolsonaro, mas já entrou em cartaz e logo estará à vista de
todos. Graças, em parte relevante, à sua burrice.
Por:
Marcos
Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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