Braga Netto chegou ao
encontro com a ordem de dispensá-los. Abriu a reunião com esse comunicado.
Disse que as mudanças eram para o "realinhamento" das Forças Armadas
com Bolsonaro e a manutenção do apoio ao governo. Os comandantes do Exército, Marinha
e Aeronáutica já planejavam entregar os cargos em solidariedade à demissão do
general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa, no dia anterior, mas
os dois últimos consideravam até mesmo ficar a depender do teor da conversa.
O substituto de Azevedo,
porém, não deu tempo para que eles anunciassem a decisão. O novo titular da
Defesa entrou no gabinete com a demissão dos três comandantes pronta. A portas
fechadas houve várias contestações sobre a forma como a dispensa foi feita. Um
dos oficiais questionou duramente Braga Netto ao lembrar que as Forças Armadas
são instituições de Estado, e não de governo.
Em recentes manifestações,
porém, Bolsonaro tem se referido ao Exército como "meu Exército",
contrariando a caserna. O Estadão apurou que o mais exaltado na reunião foi o
almirante Ilques. Conhecido por colegas por ser um cavalheiro, muito educado,
Ilques perdeu a paciência e elevou a voz. Quando o tom subiu e o clima ficou
ainda mais tenso, os ajudantes de ordens foram saindo "à francesa" do
gabinete.
Os oficiais já haviam
combinado no dia anterior, após a demissão de Azevedo, que não dariam nenhum
passo que pudesse violar a Constituição ou caracterizar interferência em
medidas tomadas por governos estaduais durante a pandemia de covid-19, como o
lockdown. As Forças Armadas também deixaram claro que jamais concordariam com
ingerência no Legislativo e no Judiciário.
Na lista das seis mudanças
ministeriais promovidas por Bolsonaro na segunda-feira, 26, a que mais
surpreendeu foi justamente a saída de Azevedo, definido por seus pares como um
ministro competente e sensato. Azevedo foi assessor especial do ministro Dias
Toffoli quando o magistrado presidia o Supremo Tribunal Federal (STF).
Pujol entrou na reunião todo
paramentado, com bota de montaria, culote e carregando um bastão de comandante,
enquanto Ilques e Bermudez usavam fardas sociais. O comandante do Exército e
Bolsonaro também vinham se estranhando há tempos porque o comandante do
Exército sempre resistiu a ofensivas do presidente, que muitas vezes foram
interpretadas como incentivo a medidas autoritárias. No ano passado, por
exemplo, Bolsonaro chegou a participar de uma manifestação diante do Q.G do
Exército que pedia a volta do Ato Institucional n.° 5 (AI-5), o mais duro da
ditadura militar, e o fechamento do Congresso e do Supremo.
O maior foco de críticas a
Bolsonaro nas Forças Armadas, porém, está na Marinha. Integrantes da força
sempre consideraram a falta de compostura de Bolsonaro no cargo e os erros
cometidos por ele na condução da crise de coronavírus - incentivando
aglomerações e desestimulando o uso de máscaras - como inadmissíveis para um
presidente da República.
Fonte:
https://www.terra.com.br
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