O cálculo é da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), que constantemente tem advertido as autoridades de
saúde sobre o andamento da pandemia em território nacional. Sem nunca ter tido
redução expressiva na transmissão da doença, o país vive atualmente o seu pior
momento desde o início da pandemia, em março de 2020. Já são mais de 275 mil
mortes e cerca de 11,3 milhões de infectados.
Na última quinta-feira (11),
por exemplo, o país teve 23% das mortes registradas em todo o mundo na data. O
alerta veio do renomado cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que destacou, na
sexta (12), o “estado crítico” da pandemia no país e chamou a atenção para o
“risco regional e global” que o país representa hoje.
Preocupação semelhante tem a
cúpula da Organização Mundial da Saúde (OMS), para a qual o Brasil representa
hoje uma ameaça em escala planetária. “A situação é muito preocupante. Estamos
profundamente preocupados. Não é só o número de novos casos que aumenta, mas os
de mortes também”, resumiu, na sexta (12), o diretor-geral da entidade, Tedros
Ghebreyesus.
O panorama do país se
traduz, por exemplo, na frequente lotação dos hospitais. Segundo a Fiocruz, o
cenário desta semana é de 20 estados dentro daquilo que a instituição considera
como “zona de alerta crítico” em termos de ocupação de UTIs e 13 unidades da
Federação com 90% de ocupação dos leitos.
A médica de família Nathalia
Neiva Santos, da Rede de Médicas e Médicos Populares, lembra que a situação
chegou a este ponto por conta do descontrole do problema, alimentado pela falta
de uma política séria de lockdown no país.
A conduta do presidente da
República, Jair Bolsonaro (sem partido), tem sido apontada frequentemente por
profissionais de saúde como um entrave à boa gestão da pandemia. Na quinta
(11), ele voltou a atacar governadores por conta das políticas de isolamento e
afirmou que “lockdown não é remédio.”
“Isso faz com que a pandemia
não seja controlada. E não só não seja controlada, como gere novas variantes,
como ocorreu em Manaus agora no começo do ano, com a variante P1”, ressalta
Nathália, ao mencionar os novos desafios que vêm surgindo no cenário.
Apesar da falta de
coordenação nacional, o município de Araraquara (SP), por exemplo, tem mostrado
que a política de isolamento dá bons resultados. A cidade viveu, em fevereiro,
um pico de lotação em enfermarias e UTIs, mas passou a adotar um rígido
lockdown e os casos de covid caíram pela metade já no início de março.
“O preocupante é que, muitas
vezes, o lockdown vem como resposta a um colapso, mas poderia ser adotado em
estágios anteriores, pra gente evitar esse número de mortes tão alto como tem
acontecido. Ele é um remédio amargo, a gente sabe das implicações que tem, mas
é o que se tem de resposta, combinado com a vacina”, afirma a médica de
família.
Vacinação
No quesito vacinação, o
Brasil também segue em ritmo lento, com menos de 5% da população imunizada. E o
problema virou caso de Justiça: cinco partidos ingressaram no Supremo Tribunal
Federal (STF) na última quinta (11) para pedir que o governo Bolsonaro seja
formalmente obrigado a agilizar a vacinação e a garantir o produto para toda a
população. O pedido partiu das siglas PT, PSB, PSOL, PCdoB e Cidadania.
No mundo, países como
Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, que largaram na frente em termos de
vacinação contra a covid, foram ultrapassados pelo Chile, que vem chamando a
atenção nesse aspecto.
O país andino alcançou uma
média de 1,67 doses aplicadas para cada 100 habitantes. O índice supera o de
Israel, que vinha se destacando por ter uma média de 1,2, apesar de não estar
promovendo exatamente uma imunização em massa por negar a vacinação ao povo
palestino.
“O Chile é uma grande
surpresa e, ao mesmo tempo, uma chama de esperança porque existe uma
dificuldade dos países latinos em operar a vacinação”, avalia Nathalia Santos.
“É importante entender que
eles não só estão vacinando como combinam a vacinação com o lockdown. A vacina
não traz respostas imediatas para o controle de casos, por isso são necessárias
medidas restritivas. O Chile tem dado esse exemplo de um controle combinado”,
finaliza.
Por: Cristiane
Sampaio, Portal da Vacina.
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