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sábado, 3 de maio de 2014

No Brasil a média de acidentes do trabalho é de 700 mil por ano...

E essa história ainda não acabou vamos em frente!

Conheça o teor da carta desabafo de Jacqueline Carrijo, Auditora Fiscal do Trabalho, enviada para auditores, procuradores, juízes do país.

Olá colegas! Boa tarde!

Eu não tenho o que comemorar de conquista para os trabalhadores que defendemos, e também eu não tenho palavras de estímulo para ninguém. Até pensei em desistir da redação, mas não dá para perder o tempo das coisas mesmo que ainda eu esteja comovida.

Hoje é um dia triste para todas as autoridades do trabalho, para todos que importamos com a dor e sofrimento dos trabalhadores no Brasil. O Dia do Trabalho vem logo depois do dia em memória das vítimas de acidentes do trabalho e da aprovação na câmara dos deputados do projeto que revoga da Lei dos Motoristas. Ironia do acaso.

No Dia do Trabalho ainda estamos recuperando o ânimo depois da derrota do povo brasileiro na câmara dos deputados com aprovação do projeto de Lei que manterá o estado de calamidade pública nas estradas brasileiras, com mais e mais mortes de motoristas, passageiros (incluindo trabalhadores transportados) provocadas por jornadas de trabalho perigosas e más condições de trabalho.

No Brasil a média de acidentes do trabalho é de 700.000 por ano. O Setor de Transportes é o setor com o maior número de mortes de trabalhadores no País. De acordo com a OMS o Brasil aparece em quinto lugar entre os países recordistas em mortes no trânsito.

O que temos para comemorar? Nada. As lágrimas e a dor das famílias das vítimas dos acidentes do trabalho – das vítimas fatais aos mutilados e loucos criados pelo sistema da super exploração do trabalho humano - ditam o tom amargo da minha resposta. E compartilhamos a dor e sentimento de revolta com as vítimas dos acidentes de trânsito e seus familiares.

Esse número de 700 mil acidentes do trabalho por ano e o fato de estar em quinto lugar entre os países recordistas em mortes no trânsito mostram dados de grandes catástrofes no mundo. Impressiona quem se incomoda. Mas esse número não incomoda as autoridades que detêm o poder político e de mando para ordenar, ou reordenar, uma política nacional de segurança do trabalho e de trânsito para a redução de acidentes.

Vida e Justiça são palavras insignificantes para muitas “autoridades” no Brasil, desde que o lucro e desenvolvimento econômico para alguns sejam garantidos. Ficamos desolados com tudo que aconteceu no congresso nacional. Como o Procurador do Trabalho, Dr. Paulo Douglas, disse e foi assim que também senti na carne: “nós levamos uma surra”. Apanhamos, é verdade. Mas estamos firmes e continuamos na defesa de quem precisam de nós, os trabalhadores (as).

Essa é nossa posição definida. Estamos fazendo bem a nossa parte na luta, marcando a nossa posição na história do direito do trabalho e de defesa da classe trabalhadora. SINAIT, ANMPT, MPT estão marcando posição firme de autoridades do trabalho com dignidade. Assim como a história dos calados, omissos ou simplesmente dos aliados dessa vergonha nacional aprovada também está sendo escrita e contada.

Nessa semana perguntamos onde está a resistência da classe trabalhadora. Necessitamos que os trabalhadores estejam de prontidão, em multidão, defendendo bravamente os interesses coletivos, que manifestem com atitude coletiva vivaz a sua vontade geral. Precisamos da expressão de vontade verdadeira, da atitude coletiva da classe trabalhadora para fazer o que é preciso.

E fazer o que importa no âmbito do direito coletivo exige unidade. Mas os trabalhadores não estavam lá em massa, em multidão. E pior, para a nossa indignação, ainda tivemos que suportar falsos defensores dos direitos dos trabalhadores erguendo bandeiras em defesa das alterações prejudiciais da classe trabalhadora.

A representatividade, a importância dos sindicatos está banalizada, desmoralizada entre os trabalhadores, e pelo próprio governo. O resultado dessa constatação foi refletido na Câmara dos Deputados.

E qual é a nossa responsabilidade nisso tudo como autoridades do trabalho? Quem estuda a nossa história compreende a minha fala. Qual tem sido o nosso papel no enfraquecimento do sindicalismo no Brasil, nessa onda de desmoralização da autoridade moral das entidades de classe? O quanto nós estamos distantes das questões estruturais relevantes promovidas pela desregulamentação das relações econômicas, da flexibilização do trabalho? Qual tem sido a contribuição de cada autoridade do trabalho no auxílio desse movimento de individualização das demandas, fomentado atuações dentro de relações privadas e, obviamente, enfraquecendo a atuação coletiva, a dos sindicatos?

Sinceramente eu penso que não podemos colocar a culpa da falta de mobilização da classe trabalhadora somente na falta de representatividade dos sindicatos ou na agenda mundializada do capital. Eu me recuso ficar nos contornos superficiais desse problema. É injusto. Auditores do Trabalho, Procuradores do Trabalho, Juízes do Trabalho também se distanciaram dos conceitos fundamentais, históricos, existenciais do Direito do Trabalho. E aqui eu chamo à responsabilidade cada um de nós.

O que estamos fazendo com a liberdade sindical enquanto direito humano de expressão de poder e de autodeterminação da classe trabalhadora? Eu aprendi que liberdade sindical é um direito humano universalmente reconhecido. 

Mas o que de fato estamos fazendo com Ela quando não favorecemos com todo o nosso conhecimento e poder reservado em Lei para promover o equilíbrio de forças nas relações de trabalho que os sindicatos sérios sejam ouvidos e desempenhem com honra, posição de igualdade o seu papel ativo na promoção do desenvolvimento econômico, social e político da classe trabalhadora e da nação? Afinal de contas, somos construtores ou destruidores do sindicalismo no Brasil?

A confiança que o trabalhador deseja depositar nas suas entidades sindicais, que legitima a representação, depende também, e muito, da nossa atuação no mundo do trabalho. O que aconteceu no Congresso Nacional nessa semana foi novamente revelador do quanto deixamos de fortalecer as entidades de classe que são defensoras verdadeiras, honestas dos interesses dos trabalhadores.

Ora, os falsos defensores dos trabalhadores (as), os corruptos, os covardes na luta pela conquista e preservação dos direitos sociais têm que ser banidos, expulsos do MTE, MPT, JT, Sindicatos, Federações, Centrais, Governos. E essa tarefa compete a todas as autoridades do País. Ou será que fiz leitura equivocada da Constituição Federal de 1988?

Não podemos ficar concentrados nas ações negativas, perversas de pessoas, e no final condenar todos os trabalhadores ao abandono. Enfraquecer o movimento sindical é enfraquecer a classe trabalhadora. Vejam o que aconteceu nessa semana.É preciso repensar nossas condutas e estar conscientes dos impactos de cada decisão administrativa e judicial tomada, e avaliar o quanto isso repercute na segurança nacional.

Precisamos vigiar e orientar nossas condutas todos os dias para que possamos contribuir de verdade na construção de um cenário justo e equilibrado de forças políticas. O prejuízo da falta de reflexão desse problema dentro das nossas instituições fomenta os ambientes de trabalho que flagramos onde as pessoas vivem em estado ameaçador e ameaçado.

Os trabalhadores vivem com medo de perder o emprego, de redução de salários, de serem punidos ou perder a vida por defender os seus direitos. Que País nós estamos ajudando construir? De medo, opressão no trabalho? A perda da expressão da vontade geral dos trabalhadores está diretamente relacionada à nossa forma de atuar, também. Mas tudo isso pode mudar, só depende da nossa vontade e coragem.

O descaso, desprezo, arrogância dos detentores do poder político, econômico com os direitos fundamentais dos trabalhadores brasileiros é evidente, e hoje não há nada, nem ninguém que abale essa certeza e confiança. Com a certeza da falta de resistência da classe trabalhadora e confiantes na sua inércia, nessa semana eu vi com tristeza e desolação o cenário que foi montado na Câmara dos Deputados para aprovar o projeto de lei que revoga a Lei 12619/12.

E assim acontecerá novamente, teremos outras leis aprovadas que causarão prejuízos sociais, humanos irreparáveis para o País se não houver uma mudança de mentalidade e comportamento das autoridades brasileiras, das representações sindicais, do povo brasileiro. A responsabilidade é de todos nós!

Esse é o meu desabafo. E essa história ainda não acabou. Vamos em frente!

Jacqueline Carrijo

Auditora Fiscal do Trabalho

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