“Vamos trazer de volta o
programa de mutirões que foi criado quando minha vice, Luiza Erundina, foi
prefeita de São Paulo. É possível construir em grande quantidade porque nesse
sistema são as famílias que constroem suas casas, as construtoras são excluídas
e tudo fica mais barato”, disse. “Moradia não é projeto eleitoral. Para mim é
questão de vida”.
Em resposta ao oponente Bruno
Covas (PSDB), que reduz a solução de gargalos em diversos setores à assinatura
de novos contratos com investidores, Boulos não deixou por menos. “Covas, vocês
insistem muito nessa questão das parcerias com a iniciativa privada”, disse,
referindo-se também ao governador tucano João Doria.
“Mas vocês não conhecem a
realidade de pessoas de baixa renda, que nem podem passar na porta do banco,
que precisam decidir entre pagar o aluguel ou comer, ou que moram de favor,
sofrendo todo tipo de humilhação, ou em encostas. Nós não podemos nos isentar
dessa responsabilidade.”, afirmou Boulos.
Pandemia
A segunda onda da infecção
pelo novo coronavírus no país, que ainda não controlou nem a primeira, foi
outra questão que expôs os desacertos das políticas adotadas na cidade com o
maior número de casos e mortes e a incapacidade da atual gestão que busca a
reeleição. Como se pudesse enganar a todos, Covas afirmou que conduziu ações
conjuntas com o estado, que foram construídos hospitais de campanha e que ao
contrário de muitos lugares, em São Paulo “os médicos não tiveram de escolher
quem iria viver”.
Isso em resposta a Boulos, que
afirmou que, se eleito, faria tudo o que não foi feito em São Paulo – as
testagens em massa, o isolamento, o envolvimento dos agentes comunitários de
saúde na busca de casos de contaminação e investimentos para ampliar a
capacidade dos hospitais públicos.
Chamado de “engenheiro de obra
pronta”, Boulos dispensou o título, já que a “obra falhou”: lembrou que nenhum
hospital de campanha foi construído na periferia, onde mais morrem vítimas da
covid-19, não foram feitos investimentos em hospitais e ao contrário do que diz
o tucano, faltou respiradores em diversos hospitais.
Dinheiro público
Um ponto alto do debate foi a
discussão em torno de recursos para a execução dos projetos. Enquanto Covas
falava em planos para atrair investimentos da iniciativa privada, já que
segundo ele a prefeitura tem dificuldades de caixa, Boulos propôs o equilíbrio
das contas por meio da cobrança dos grandes devedores.
“Há R$ 130 bilhões na dívida
ativa que poderiam ser cobrados. Para isso vamos contratar mais auditores,
modernizar o sistema para digitalizar tudo. Mas muitas vezes não há interesse
de cobrar. Há ainda prejuízos com contratos com a gestão do lixo, de mais de R$
300 milhões ao ano segundo o Tribunal de Contas. Por que você e Doria não
mexeram nesse vespeiro?”, questionou.
A pergunta despertou a ira do
tucano, que ele desconversou para ganhar tempo. Covas disse se sentir ofendido
“nos princípios morais que aprendeu em casa”. E se limitou a dizer que muitos
contratos de varrição, assinados na gestão anterior, haviam sido alterados.
Questionado sobre a proposta
de reforma tributária que tramita na Câmara, que retira ainda mais recursos dos
municípios, Boulos foi enfático: “Sou contra tirar mais recursos de São Paulo
como de qualquer município. A União já concentra mais recursos que os
municípios”, disse, se comprometendo a liderar um movimento de prefeitos no
Congresso para exigir mudanças na proposta do governo Bolsonaro.
Tom agressivo
O debate, que durou duas
horas, foi marcado pelo tom agressivo do atual prefeito de São Paulo. “Como
chefe de movimento que é, em que está acostumado a mandar, não sabe que nem
todo dinheiro em caixa quer dizer que é para se gastar. E que política se faz
com diálogo”, emendou ao questionamento de Boulos sobre a insuficiência de
investimentos municipais no combate à pandemia, que deveria incluir a ajuda
econômica a pequenos comerciantes e trabalhadores informais.
Mas a agressividade foi dando
lugar ao desconforto causado pela associação de seu nome ao de João Doria. O
BolsoDoria, segundo Boulos, que Covas quer esconder porque foi eleito em 2018,
em uma eleição marcada pelo ódio. “Tinha gente apertando botão da urna
eletrônica com cano de revólver. Desta vez, o voto foi de esperança, não de
ódio”. E também por uma réplica do candidato do Psol: “Covas quer criminalizar
o movimento. Fiquei assustado com o seu discurso de raiva após o resultado das
urnas, ao se referir às nossas propostas como radicalismo. Você não precisa
fazer eco ao discurso do autoritarismo”.
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