Há uma máxima na
historiografia que diz que os ventos e as ondas estão sempre do lado dos
navegantes competentes. Para se arriscar aos mares é preciso estar
preparado. Deve-se compreender a
movimentação do céu, das águas e das maresias. As imprudências e os delírios
levam as embarcações ao naufrágio.
A realidade é que o País
está sem comando. O timoneiro não tem mais controle sobre o leme. Há uma
miscelânea na conjugação de verbos que está despedaçando as velas. Há um
confronto de ações desnecessárias. Temos que ter consciência, neste momento,
que a saúde e a vida das pessoas é o que importa.
Alguns estados e municípios
já estão entrando em colapso devido à pandemia do coronavírus. Ora, o Congresso
Nacional já deu e está dando todas as condições necessárias para que o governo
federal haja com rapidez e eficiência. A morte e a fome não esperam. Os números
aumentam todos os dias.
E o pior de tudo isso é que
mais um enfrentamento se avizinha. E não será pouca coisa. Neste contexto de
naus, timoneiros e mares arredios, posso dizer que a tempestade será uma das
mais bravias enfrentadas pelo nosso País. O desemprego será avassalador. E com
ele a carestia, o aumento da pobreza e da miséria, milhões de famintos e
insatisfeitos. O governo está antevendo isso? Temos um plano estratégico básico
para enfrentar esse desafio?
Dados do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre) apontam que, mesmo
com as atuais medidas tomadas pelo governo, a renda do brasileiro deve cair
5,2% neste ano. O desemprego, que hoje está na casa dos 12,5%, chegará
facilmente aos 17,8%. Outro cenário, dessa mesma instituição, aponta uma queda
ainda maior, de 7% no PIB e uma taxa de desemprego de 23,8%. Estamos falando de
quase o dobro de desempregados que antes tínhamos da pandemia. Ou seja, quase
25 milhões, um recorde. Isso será o caos.
Recentemente, a Oxfam Brasil
realizou um debate onde ficou claro que a pandemia, além de aumentar o
desemprego, vai ressaltar mais ainda a desigualdade social em nosso País. Disse
um convidado: “Você tem famílias que moram muitas vezes em 10, 12 pessoas, em
casas pequenas, numa realidade bem diferente de possibilidades de isolamento
que a gente tem em uma parcela pequena da população”. Como se vê, os mais
atingidos serão os vulneráveis. Temos hoje 40 milhões na informalidade, 55 milhões
na pobreza e 13,5 milhões na extrema pobreza. É obvio que esses números tendem
a aumentar. Onde vamos parar?
Logo após as reformas
trabalhista e previdenciária e da lei do teto de gastos, fiz vários alertas que
essas ações do governo não criariam um emprego sequer. O que foi constatado,
pois não são políticas de desenvolvimento e de crescimento, de emprego e renda.
Elas são de contração econômica e só tem por objetivo aumentar os lucros do
setor financeiro. Portanto, a atual crise econômica e social, que tomou forma e
corpo agora e suas perspectivas, tem também sua marca e seu DNA lá atrás.
Daí a importância de o
seguro-desemprego ser estendido até o final do ano ou enquanto durar a crise.
Da mesma forma, o auxilio emergencial, a renda básica, a ajuda aos micros e
pequenos empresários e outras propostas que o Senado e a Câmara já aprovaram. O
governo tem que colocar em prática e tocar o barco. Nessa mesma esteira está a
extensão do programa bolsa família e o fim do teto de gastos.
Entre 1933 e 1937, Roosevelt
implantou um feroz, no bom sentido, plano para recuperar a economia norte-
americana, que vinha sofrendo com a queda da Bolsa em 1929 e a depressão. O chamado New Deal. A proposta foi
fundamental para empregados e empregadores. Houve forte investimento do Estado
em obras públicas como, por exemplo, na construção de infraestrutura, na
fixação do salário-mínimo, na criação do seguro-desemprego e o
seguro-aposentadoria. Milhões de empregos foram criados. Empresas tiveram
condições mínimas de se manterem e funcionarem.
O Brasil precisa de um
grande entendimento. Não haverá saída se não pensarmos com o coração e a alma,
se não deixarmos as ideologias e as disputas de poder de lado. Caso contrário,
teremos feridas expostas que levarão décadas para serem cicatrizadas. Se for
preciso, como disse Tiago de Melo, vamos mudar o nosso jeito de caminhar.
Por:
Paulo
Paim Senador (PT-RS).
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