Brasil bate recordes após
recordes de mortos e contaminados pela Covid-19, o sistema de saúde está
entrando em colapso e, a cada dia, mais gente rompe o isolamento social,
aumentando o risco de contágio, bem no momento em que entramos na fase mais
aguda da pandemia. "E daí?", pergunta Bolsonaro, como quem diz que
não tem nada com isso. "Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias,
mas não faço milagres".
Tal presidente, tal povo.
Difícil saber o que veio primeiro, o que é causa e o que é efeito. Esta manhã,
ao sair do Alvorada, acompanhado de uma tropa de choque de deputados, disposto
a afrontar os jornalistas, o presidente lavou as mãos. "Não adianta a
imprensa querer colocar na minha conta essas questões que não cabem a
mim". Cabem a quem, então? Ao Papa, ao Exército da Salvação, ao presidente
do Flamengo, à ONU?
"Relatores da ONU
denunciam o governo brasileiro diante do que chamam de políticas econômicas e
sociais irresponsáveis que colocam milhões de vidas em risco", informa
Jamil Chade, correspondente do UOL na Europa. Rompida a porteira, enquanto o
sinistro ministro da Saúde, sempre vigiado por um general, governadores e
prefeitos discutem "medidas de afrouxamento para a vida voltar ao
normal", o gado bolsonarista saiu atropelando o que viu pela frente para
invadir lojas e shoppings, como se fosse véspera de Natal, depois do fim da
guerra contra a pandemia.
Só que ainda estamos no meio
dessa guerra e, segundo o Datafolha, 46% dos brasileiros já são a favor do
relaxamento das regras. Em São Paulo, só 48% estão ficando em casa. Ou seja,
quase metade da população apoia o suicídio coletivo deste país desgovernado por
um mentecapto, cercado por filhos dementes e generais de pijama, dançando à
beira do abismo.
No país que já conta com
mais de 5 mil mortos e 73 mil casos confirmados, passando a China, assiste-se a
uma verdadeira farra do boi, e Bolsonaro ainda tem a coragem de culpar a
quarentena por essa tragédia anunciada. Viraram tudo do avesso do
avesso do avesso e ninguém sabe mais o que é certo e o que é errado, o que deve
ou não fazer, o que é mentira e o que é verdade, com autoridades acusando umas
às outras.
Se acusarem a população pela
própria desgraça, não estarão tão errados. Afinal, ninguém é obrigado a seguir
o líder, correr para o matadouro e achar bonito. Vida que segue.
Por:
Ricardo
Kotscho, Colunista do UOL
http://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho
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