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terça-feira, 7 de abril de 2020

Mas o que quer dizer o 'Mito da Caverna', de Platão?


A alegoria pode ser lida em A República e mostra o diálogo entre Sócrates e Glauco sobre ignorância e conhecimento - sobretudo sobre a importância de se ter acesso a conhecimento para sairmos da caverna (e para queremos ficar fora dela).

O mito começa com Sócrates pedindo para Glauco imaginar um grupo de pessoas vivendo acorrentadas numa caverna desde a infância, amarradas pelos pés e pescoço e impossibilitadas de mudar de lugar e até mesmo de olhar para o lado.

A luz que chega vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, e tudo o que veem é a sombra de objetos sendo carregados projetada na parede na frente deles - e essa sombra seria a única coisa verdadeira para esses prisioneiros.

Sócrates sugere, então, imaginar esses prisioneiros sendo libertados e “curados de sua desrazão”.

“Se um desses homens fosse solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras anteriormente.” Ele continua: “O que ele poderia responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o com perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?”.

Sócrates questiona ainda: “E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram?”.

No caso de tirarem a pessoa à força da caverna e a obrigarem a subir, a sair, ele sofreria e se irritaria. “E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros.”

É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas do alto, explica Sócrates. Primeiro, ele distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos objetos refletidas na água e em seguida os próprios objetos. À noite, poderá contemplar as constelações e o próprio céu e, de dia, a luz do sol. “Depois disso, poderá raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que produz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.”

Sócrates continua seu raciocínio. “Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles?”

Imaginando que esse homem liberto volte à caverna, agora com a visão ofuscada pelas trevas, e não mais pela luz, e tente emitir um juízo sobre as sombras, ele poderia entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados. “Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam?”

Platão conclui dizendo que é preciso assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, à luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no alto, ele escreve, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível.

“Nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a ideia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência.” E finaliza: “Acrescento que é preciso vê-la se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública”.

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