A alegoria pode ser lida em
A República e mostra o diálogo entre Sócrates e Glauco sobre ignorância e
conhecimento - sobretudo sobre a importância de se ter acesso a conhecimento
para sairmos da caverna (e para queremos ficar fora dela).
O mito começa com Sócrates
pedindo para Glauco imaginar um grupo de pessoas vivendo acorrentadas numa
caverna desde a infância, amarradas pelos pés e pescoço e impossibilitadas de
mudar de lugar e até mesmo de olhar para o lado.
A luz que chega vem de um
fogo que queima por trás deles, ao longe, e tudo o que veem é a sombra de
objetos sendo carregados projetada na parede na frente deles - e essa sombra
seria a única coisa verdadeira para esses prisioneiros.
Sócrates sugere, então,
imaginar esses prisioneiros sendo libertados e “curados de sua desrazão”.
“Se um desses homens fosse
solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar
para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria
ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras
anteriormente.” Ele continua: “O que ele poderia responder se lhe dissessem
que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto
da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que
ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam,
obrigando-o com perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria
embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras
do que os objetos que lhe mostram agora?”.
Sócrates questiona ainda: “E
se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam,
que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as
consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram?”.
No caso de tirarem a pessoa
à força da caverna e a obrigarem a subir, a sair, ele sofreria e se irritaria.
“E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz de ver
nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros.”
É preciso que ele se
habitue, para que possa ver as coisas do alto, explica Sócrates. Primeiro, ele
distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos objetos refletidas
na água e em seguida os próprios objetos. À noite, poderá contemplar as
constelações e o próprio céu e, de dia, a luz do sol. “Depois disso, poderá
raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que produz as estações e os
anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo, a causa de
tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.”
Sócrates continua seu
raciocínio. “Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da
ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria
feliz com a mudança e teria pena deles?”
Imaginando que esse homem
liberto volte à caverna, agora com a visão ofuscada pelas trevas, e não mais
pela luz, e tente emitir um juízo sobre as sombras, ele poderia entrar em
competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados. “Os prisioneiros
não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que
não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços,
fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o
matariam?”
Platão conclui dizendo que é
preciso assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, à luz
do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação
do que há no alto, ele escreve, considera que se trata da ascensão da alma até
o lugar inteligível.
“Nos últimos limites do
mundo inteligível aparece-me a ideia do Bem, que se percebe com dificuldade,
mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto
e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo
inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência.”
E finaliza: “Acrescento que é preciso vê-la se quer comportar-se com sabedoria,
seja na vida privada, seja na vida pública”.
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