O
desastre histórico poderia ser evitado? Os que definiram o caminho que nos
levou ao atual retrocesso civilizacional irão agarrar-se à tese da
inevitabilidade. É um habeas corpus poderoso. Qualquer questionamento será
tratado como rebaixamento da discussão, argumento “dor de cotovelo” de uma
alternativa hipoteticamente mais correta que jamais poderá ser comprovada.
A
crise do capitalismo, os ventos que empurram o mundo para a direita e a facada
inesperada serão avocados para sustentar que não havia saída. “Como podem ver,
a vitória esmagadora comprova que nada podia ser feito. Qualquer um perderia”.
Será? Houve alguma novidade na conjuntura? Milhões se levantaram quando Lula
foi preso? Não era previsível uma poderosa onda de direita? Fomos pegos de
surpresa?
A
falta de governabilidade sobre os fatos é sempre um confortável caminho para
justificar o fracasso. Que razões motivaram as decisões que nos levaram ao
isolamento? Na eleição nacional, o PT prefere perder liderando a ganhar
liderado. Hegemonismo clássico de olho na sobrevivência partidária. Foi
coerente com sua história e trajetória. Sai como a maior força da Câmara.
Bancada federal e burocracia sobreviveram. “Salvaram-se todos”.
O
PCdoB, que tinha como resolução a construção de uma Frente Ampla, aderiu à
Frente de Esquerda. Existem algumas hipóteses para a guinada. A primeira é que
não foi possível construir a sonhada Frente Ampla. As conversas com atores mais
amplos de outros partidos com o objetivo de construir uma liderança mais ampla
para a Frente foram verdadeiras ou apenas rito formal para justificar mais uma
adesão ao PT?
A
segunda hipótese é o pragmatismo imposto pela necessidade de ultrapassar a
cláusula de barreira. Neste caso, a opção petista foi consequência da não
construção ao longo do processo de alternativas ou imposição da realidade
objetiva? PDT, PSB e Psol cresceram bancadas e votações. O PT perdeu deputados,
mas manteve a maior bancada. O PCdoB viu sua votação encolher e foi barrado
pela cláusula de barreira.
A
terceira hipótese é que prevalece entre os comunistas a visão de que não existe
caminho para a esquerda sem o PT. Seria necessário o amadurecimento da sigla -
que viria com a derrota - para construir junto com os companheiros um novo
caminho.
O
resultado vai fazer aflorar virtudes ou aprofundará a visão hegemonista como
instrumento de sobrevivência? Prevalecerá a postura dos governadores petistas
que foram contra a candidatura própria ou a aliança entre a bancada e a
burocracia partidária, apoiada por Lula?
O
PSB engavetou nesta eleição o esforço de Eduardo Campos de conferir identidade
nacional à legenda. Os socialistas decidiram não ter candidato e não apoiar
ninguém em nome de seus projetos estaduais. É possível pensar interesses
estaduais descolados da questão nacional? Bolsonaro promoverá um cerco?
Ciro
caminhou isolado. O isolamento foi resultado da falta de habilidade do
pedetista? Da falta de força? Se fosse um candidato mais “dócil” do PDT, do
PSB, do PCdoB ou de outro partido mais amplo, o PT teria apoiado?
PT
e Bolsonaro foram protagonistas de uma polarização que empurrou o país para o
abismo. Lula é vítima da exceção e do arbítrio. Decidiu responder com o fígado
mordendo a isca que lhe colocaram ou a derrota sempre foi uma “possibilidade
aceitável”?
Numa
guerra claramente assimétrica, enfrentar o inimigo de peito aberto é suicídio.
Os esquerdistas gritam: “o centro não existe mais! Foi arrebanhado pela
direita!” Será?
Um
candidato mais amplo apoiado pela esquerda, ou por parte dela, jamais levaria à
conformação de forças que se juntou em torno da extrema-direita. Poderia perder
da mesma forma? Obviamente que sim. Perder é do jogo. Perder com a política
errada, um grave erro.
#NaoVaiTerGolpe,
#LulaLivre, #EleNao. Esquerdistas cantaram a fantasia da guinada triunfante à
esquerda enquanto conduziam o exército para o abismo. Abandonar a Frente Ampla
foi um erro histórico.
Todos
precisam baixar a bola. Ciro cometeu grave erro no segundo turno. Depois de
conduzir a esquerda para uma derrota histórica, não tem cabimento o PT querer
impor sua liderança.
Só
uma nova conformação política, ampla, de frente, livre de sectarismos,
conseguirá oferecer resistência ao que se avizinha. Contra as sombras,
sabedoria, amplitude e firmeza histórica. É o único caminho.
Por: Ricardo Cappelli - https://congressoemfoco.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário