Idolatrado
por candidato do PSL tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido pela
Justiça como torturador durante a Ditadura. “Ele me tirou da cela puxando pelos
cabelos e me batendo na cara. Aí eu fui sendo arrastada por ele ali no corredor
das celas, apanhando. Antes de subir as escadas, eu perdi a consciência e
acordei na sala da tortura toda urinada”.
O triste depoimento é de Crimeia Schmidt, na época grávida de sete meses
e uma das centenas de vítimas de Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-coronel chamado de herói pelo candidato da
extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL).
O
radical, que “homenageou” o torturador durante seu voto em favor do golpe de
2016 e cometeu crime de incitação à violência na ocasião, define da seguinte forma
a sua relação com o primeiro militar condenado pela Justiça pela morte de 60
inocentes e a tortura de ao menos outras 500 vítimas.
“Conheci
e fui amigo do Ustra. Sou amigo da esposa dele, sou uma testemunha viva de toda
essa história do que queriam fazer com nosso país (…) O coronel recebeu a mais
alta comenda do Exército, é um herói brasileiro. Se não concordam, paciência”,
disse Bolsonaro em discurso na sessão do Conselho de Ética da Câmara em 2016.
Não
chega a causar espanto às declarações do candidato, que já afirmou em
entrevista que o grande erro da ditadura “foi torturar e não matar” e que os
militares deveriam ter “fuzilado uns 30 mil naquela época”. Mas é conveniente
lembrar o quão cruel e criminoso foi Ustra para entender (e evitar) o projeto
de país que o deputado almeja para o país.
Nascido
em Santa Maria (RS) em 1932, Ustra teve ascensão rápida como militar até ganhar
notoriedade a partir do golpe de 64. Chefe do centro de investigações conhecido
como Operação Bandeirante (Oban), criada em São Paulo em 1969, ficou
rapidamente conhecido por “inovar”nas
técnicas de tortura aplicadas contra todos aqueles que lutavam contra o
regime autoritário imposto aos brasileiros. “Você vai conhecer a sucursal do inferno”,
costumava dizer Ustra às suas vítimas.
Espancamentos,
choques, afogamentos dividiam espaço com sadismos como colocar ratos e baratas
nas vaginas das mulheres. Ustra também causava pânico quando aparecia de
surpresa e levava os interrogados para os “passeios”: abraçava o detento e o
levava a uma sala onde havia o corpo de um militante. “Se você não falar, vai
acabar assim”, dizia. Além de não ter piedade nem com uma grávida, Ustra também
se divertia levando os filhos para ver as mães serem torturadas.
Com o
fim da ditadura militar na década de 1980, centenas de relatos começaram a
manchar a imagem do “herói” de Bolsonaro.
Mas somente em 2008 o militar foi condenado pelos seus crimes. Por decisão em primeira instância do juiz
Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, o coronel Ustra
tornou-se o primeiro oficial condenado em ação declaratória por sequestro e
tortura, mais de trinta anos depois de fatos ocorridos entre 1964 e 1985.
Ustra
morreu em 2015 sem pagar pelos seus crimes. Infelizmente, o criminoso segue
ameaçando as instituições democráticas por meio de seus súditos. Mesmo que
historiadores revelem o quão cruel foi a Ditadura Militar no Brasil, Jair
Bolsonaro adora dizer que o seu único livro de cabeceira é “A Verdade
Sufocada”, obra delirante do coronel Ustra e cujo título ainda ironiza suas
milhares de vítimas ao remeter a uma das técnicas de tortura utilizadas por
ele. A esperança precisa vencer o ódio.
Por: Redação da Agência PT de
Notícias
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