Descuido,
falta de equipamentos de segurança e até exaustão provocam 700 mil acidentes de
trabalho por ano em todo o país. Dados levantados pela Previdência Social e
pelo Ministério do Trabalho revelam a seriedade do problema, que atinge
trabalhadores de várias profissões.
O
Brasil é a quarta nação do mundo que mais registra acidentes durante atividades
laborais, atrás apenas da China, da Índia e da Indonésia. Desde 2012, a
economia já sofreu um impacto de R$ 22 bilhões, por conta de pessoas afastadas
de suas funções após sofrerem ferimentos durante o trabalho. Se fossem
incluídos os casos de acidentes em ocupações informais, esse número poderia
chegar a R$ 40 bilhões.
De
acordo com o Ministério da Fazenda, entre 2012 e 2016, foram registrados 3,5
milhões de casos de acidente de trabalho em 26 estados e no Distrito Federal.
Esses casos resultaram na morte de 13.363 pessoas e geraram um custo de R$
22,171 bilhões para os cofres públicos com gastos da Previdência Social, como
auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e
auxílio-acidente para pessoas que ficaram com sequelas. Nos últimos cinco anos,
450 mil pessoas sofreram fraturas enquanto trabalhavam.
Por
lei, as empresas são obrigadas a garantir a segurança de seus funcionários. Mas
cabe também ao trabalhador informar a ausência de equipamentos adequados a
situações perigosas. Os dados do governo levam em consideração a Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), que divide as profissões em áreas de atuação.
Portanto,
não existe uma classificação específica para cada categoria profissional. Em
1966, o governo criou a Fundacentro, entidade ligada ao Ministério do Trabalho
que tem como finalidade o estudo e a pesquisa das condições dos ambientes de
trabalho.
O
gerente de Coordenação de Segurança no Processo de Trabalho da Fundacentro,
José Damásio de Aquino, destaca que os números de acidentes laborais no Brasil
são muito elevados. “O quadro é grave, pois, nos últimos anos, a quantidade de
acidentes tem se mantido próxima de 700 mil por ano. É possível identificar
queda de 2014 para 2015. Porém, a variação em apenas um ano é pouca para
considerarmos que é uma tendência geral e que permanecerá pelos próximos anos”,
explica.
O
especialista ressalta que a situação pode se agrava por conta do número de
trabalhadores (as) que não são registrados. “É importante frisar que os dados
sobre acidentes de trabalho, disponibilizados pela Previdência Social, cobrem
apenas os segurados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que
representam cerca de 70% da PEA (População Economicamente Ativa). Assim,
podemos considerar que há uma subnotificação nos acidentes, pois muitos
trabalhadores, especialmente os informais, não entram nas estatísticas”,
completa o pesquisador.
Áreas
As
áreas nas quais ocorrem mais acidentes são a construção civil e o setor de
serviços. Na construção, o último dado sobre óbitos é de 2009, quando 395
trabalhadores morreram em serviço. Mas o número pode ser maior, já que, em
muitos casos, a certidão de óbito não contém a causa exata da morte, nem o
local onde ocorreu.
Já
entre o setor de serviços, as maiores vítimas de acidentes fatais ou
incapacitantes são os motoristas profissionais, com destaque para condutores de
caminhões e carretas. De acordo com dados do Sistema de Informações sobre
Mortalidade do Ministério da Saúde, desde 2010, ocorrem, em média, 15 mil
acidentes envolvendo motoristas do transporte de cargas, com 1,5 mil mortes por
ano.
Para
não integrar essa estatística macabra, o caminhoneiro Clovis Alves, de 42 anos,
desistiu de viajar pelas estradas brasileiras. O trabalhador optou por rodar
apenas no Distrito Federal após ser obrigado a sair da pista, na BR-101, para
evitar uma colisão frontal com outro caminhão.
Na
ocasião, o motorista que vinha no sentido contrário, em uma via de mão dupla,
dormia ao volante. “Há poucos metros de colidir, eu notei que ele dormia
enquanto dirigia. Tive que jogar o veículo para uma pista lateral, de terra.
Naquele dia eu fiquei traumatizado com a situação. Cheguei em casa e contei
para a minha esposa, que sempre temia que eu sofresse um acidente. Durante
esses anos, vi amigos morrerem nas estradas, e pessoas saqueando as cargas em
meio à tragédia”, conta.
Monitoramento
em tempo real
Uma
parceria entre a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Ministério
Público do Trabalho (MPT) resultou em uma ferramenta que monitora em tempo real
os dados sobre acidentes de trabalho no Brasil. O Observatório Digital de Saúde
e Segurança do Trabalho informa pela internet a quantidade de acidentes, com
mapa sobre as regiões onde mais ocorrem, custos para a Previdência Social e
tipos de acidentes.
Conforme
o observatório, nos últimos cinco anos, 544 mil pessoas sofreram cortes e
lacerações corporais em decorrência de acidentes durante o exercício da
atividade profissional. Um dos criadores do site, o oficial de Projeto da OIT,
Luis Fujiwara, destaca que as informações são importantes para criar políticas
públicas com o objetivo de reduzir o número de acidentes e mortes nas
organizações.
“Praticamente
todos os acidentes de trabalho no Brasil poderiam ser evitados. Os números de
ocorrências e de pessoas que ficam inválidas ou precisam de auxílio-doença são
altíssimos. Isso tudo gera um prejuízo bilionário para a economia. Estimamos
que, se forem contabilizados os números de empregos informais, o custo dos
acidentes chega a R$ 40 bilhões”, revela.
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