O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB-SP) já foi citado em pelo menos três delações de
ex-executivos da Odebrecht, todas no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia
Federal e do juiz Sergio Moro. Recentemente, o dono da construtora, Emílio Odebrecht,
afirmou ter feito “pagamentos ilícitos” durante as campanhas eleitorais de
Fernando Henrique à Presidência da República, nos anos de 1993 e 1997.
A acusação do empresário
deveria ser motivo de constrangimento para quem costuma se apresentar como
campeão da moralidade. Mas não. Só fez mudar o discurso: conforme as acusações
vão chegando nos tucanos, mais se fala que caixa dois não é corrupção, é
“apenas” um “ilícito” contábil. E é assim, com a fidelidade da mídia
tradicional, que trata bem diferente as irregularidades de que acusam o PT, que
Fernando Henrique continua circulando pelas altas rodas, certo de sua
impunidade.
E foi com tal capacidade de
potencializar o cinismo que Fernando Henrique esteve em Brasília, na
terça-feira da semana passada (25 de abril), para um jantar com a presidenta do
Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia. O encontro não constava da agenda
da ministra e o teor da conversa foi mantida em absoluto sigilo, o que torna
esse encontro inadequado, para dizer o mínimo.
O ex-presidente não é
investigado no STF. Por não ter mais foro privilegiado, o ministro Edson Fachin
enviou à Procuradoria da República em São Paulo o inquérito para investigar as
acusações feitas contra o tucano máximo. Mas o PSDB, partido de Fernando
Henrique, é.
São sete dos 12
parlamentares tucanos – três no Senado e quatro na Câmara – que serão julgados
pelo Supremo. Quatro deputados do PSDB são acusados de participação no núcleo
de propina da Odebrecht.
Entre os senadores, estão
dois ex-candidatos à presidência da República: Aécio Neves (MG) e José Serra
(SP). O primeiro figura em cinco inquéritos. A lista ainda tem o atual ministro
das Relações Exteriores, Aloysio Ferreira Nunes.
Outras figuras, como a
ex-governadora e deputada federal Yeda Crusius (RS), o ex-senador José Aníbal
(SP) e o ex-governador de Minas Antonio Anastasia também são denunciados nos
processos.
Tucanos graúdos, como os
governadores Geraldo Alckimin (SP), Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO), além
do prefeito de Ribeirão Preto (SP), Duarte Nogueira, e o de Manaus, Arthur
Virgílio Neto, tiveram os processos remetidos ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ). O mesmo tribunal onde Fernando Henrique esteve na semana passada
participando de um seminário. O mesmo STJ que abriga os ministros Humberto
Martins, e Benedito Gonçalves, citados nas negociações de delação de executivos
da OAS a procuradores de Curitiba.
Coincidentemente, após as
visitas aos amigos nos tribunais superiores, o ex-presidente declarou à
imprensa “não há razões para eu estar em
apuros”. De fato. Os tucanos são imunes à Justiça. Apesar das inúmeras
denúncias, não há nenhuma iniciativa do Judiciário contra os figurões do PSDB.
Uma nova denúncia envolvendo
o governador Geraldo Alckmin evidencia, mais uma vez, os dois pesos e as duas
medidas da justiça brasileira. O depoimento do ex-executivo da Odebrecht em São
Paulo Luiz Bueno foi excluído do processo de investigação contra o governador
tucano nos documentos entregues ao Supremo Tribunal Federal.
Segundo relatos que integram
o processo da Procuradoria-Geral da República (PGR), Alckmin recebeu R$ 8,3
milhões em 2014 e R$ 2 milhões em 2010 “não declarados”. No inquérito, Bueno
foi descrito pela PGR, como “peça-chave” por ser o responsável por negociar
valores e organizar os repasses da propina para Marcos Monteiro, hoje
Secretário de Planejamento e Gestão de Alckmin, nos esquemas que envolvem a
campanha de Alckmin em 2014 – Metrô de
SP, trens da CPTM, Rodoanel e outras grandes obras na capital paulista
incluídas.
Apesar de o juiz Sergio Moro
já ter afirmado, em entrevistas e palestras – que hoje no Brasil ninguém esta
acima da lei, fato é que até o momento nenhum político tucano sofreu condução
coercitiva, foi interrogado, investigado, teve seu nome achincalhado na Rede
Globo ou foi preso.
Nada indica que, nos casos
de FHC, Serra, Aécio e outros tucanos de alta plumagem, será adotado o mesmo
procedimento que adversários políticos de Moro e do PSDB receberam e continuam
recebendo.
É preciso lembrar à ministra
Carmem Lúcia, parodiando um antigo dito popular, “o cala-boca ainda não
morreu”. Os brasileiros vão continuar questionando os tribunais, perguntando e
insistindo: quando veremos um tucano na cadeia?
Rede Brasil Atual
[http://www.redebrasilatual.com.br/]: 02/05/2017.
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