No livro: “A Ditadura dos
Cartéis – Anatomia de um Subdesenvolvimento” de 1978, Kurt Rudolf Mirow conta
sua luta como um dos diretores da empresa brasileira Codima S/A, instalada no
Brasil no tempo do Império em 1864, na qual combateu com veemência às
atividades predatórias das corporações estrangeiras no país e, descobriu que,
por detrás da destruição do parque industrial nacional existia um cartel
internacional.
O cartel da indústria de
material elétrico, registrado em Londres, com o nome de Internacional Eletrical
Association, coordenou as atividades dos diversos cartéis setoriais que
dominavam mais de 25 linhas de produção no mundo. Este de forma bem planejada manejava
as ferramentas, propositalmente, para exterminar empresas brasileiras que
pudessem abrir concorrência.
Depois de muita pesquisa e
investigação, Mirow então compreendeu que, se não o enfrentasse teria que
entregar a qualquer corporação internacional, um patrimônio construído por sua
família há mais de 100 anos. Então conseguiu comprovar que às “inofensivas
multinacionais” – consideradas responsáveis e beneméritas instituições -, não
passavam de fachadas para esconder os interesses escusos de repartir mercados,
fixar a qualidade dos produtos e sustentar seus preços e limitar concorrência e
evitar a queda da taxa média de seus lucros.
E que para atingir seus
objetivos recorriam a todos os expedientes, tais como: o oferecimento de
modesta indenização, privação de crédito, boicote, dumping (venda abaixo de custo), etc. Inclusive, chegavam a
utilizar o antigo método americano de empregar dinamite contra o possível
concorrente. Com detalhes estarrecedores conta a saga de quem sofreu a
realidade dos cartéis durante a década de 1970 em plena Ditadura Militar no
Brasil.
Este período foi
caracterizado pela realização de objetivos econômicos bem definidos de um setor
do empresariado estrangeiro, onde os gerentes norte-americanos e de outras
origens procuravam ajustar a superestrutura do País à força por eles adquirida,
com a desindustrialização e o esmagamento da incipiente burguesia brasileira.
Decisivamente no jogo do
“Poder Econômico”, as grandes corporações privadas influenciaram para dividir
os países entre Desenvolvidos e Subdesenvolvidos e que, infelizmente, o Brasil
aceitou o jogo que lhe foi imposto mesmo que nos momentos de crise
internacional tenha se mostrado autossustentável e preferiu fortalecer às
multinacionais Hudson, Bay Company, East Índia Comp., Companhia das Índias por
mais de 15 anos seguidos.
De forma proposital foi
liquidado sua própria estrutura industrial que aos poucos foi transferida aos
estrangeiros. “Em conferência realizada em 20 de fevereiro de 1976 na
Associação de Jornalistas Econômicos, o Sr. Roberto de Lima Neto, Diretor da
Mecânica Brasileira S/A, do BNDE, EMBRAMEC, reconheceu essa situação, ou seja:
a indústria nacional é ainda, bastante nova, estando várias empresas numa fase
que os economistas denominam infant-industrip.
Não é, portanto, razoável esperar que ela concorra em pé de igualdade com a
empresa estrangeira”, (P.18).
Outro instrumento letal
utilizado na disputa foi o “Monopólio da Tecnologia” via a formação do pools de patentes que explorava as
invenções dos outros com o sistema de licenciamentos mútuos (cross-licensing), cuja função era
arrematar e monopolizar todas as patentes e inovações tecnológicas de processos
industriais e futuros, para apropriação entre seus membros, sendo que a General
Eletric e a Westinghouse foram as primeiras em 1896, a reconhecerem a
utilização mútua de investimentos úteis para estes fins.
A prática dos acordos de
tecnologia tinha como objetivo dividir o mercado produtivo entre as
participantes e evitar a invasão de território alheio. Com a falta de
concorrência os consumidores não tinham como escapar dos preços abusivos
praticados pelos grupos participantes dos cartéis. Foi assim, no acordo dos
produtos de cabos elétricos, de aço, petróleo, bens de capital, fertilizantes,
produtos químicos, fumos, etc.
Mirar e abater possível
concorrente eram a missão das multinacionais no território nacional que
utilizavam técnicas diversas, para controlar o surgimento de indústrias novas.
Comprá-las, praticar dumping,
boicotar, foram alguns instrumentos habilidosamente utilizados logo no início
do aparecimento de um possível concorrente. Foi com esses métodos quem em 1960
o cartel da barrilha de soda cáustica resolveu destruir a CNA – Companhia
Nacional de Alcalis.
A teia de acordos de
proteção de mercado cativo (home Market protection
agréments), vinculada a contratos para utilização mútua de patentes (patente pool agreements), foi sempre
mantida, mesmo em períodos de guerra, para demonstrar sua eficácia no
patrocínio de concorrência predatória contra out-sider, firmas não associada ao cartel. Para atingir seus
objetivos foi sustentado contratualmente um “Fundo de Combate” por todos
associados que subvencionava preços a fim de aniquilar comercialmente todo
concorrente indesejável.
Aqui, no período pós-guerra
iniciaram a instalação de indústria de aparelhos elétricos e eletrodomésticos,
dentre elas a firma Consul, de Joinville – SC, cuja expansão constituía orgulho
de modelo brasileiro dos anos de 1965 a 1975 com desenvolvimento baseado na
importação de compressores de frio utilizados na fabricação de geladeiras. Por volta
de 1971, para não depender desses produtos importados, Sr. Wittich Freytag em
conjunto com a empresa Springer resolveu construir a EMBRACO S/A – Empresa Brasileira
de Compressores -, para concorrer com a fábrica Unifrio, de Niterói – RJ, então
a única instalada no país.
Seu destino foi igual o da
Edimetal S/A que em 1968 importou da Alemanha uma instalação completa de
produção de compressores no município de Barra Mansa, sob licença da empresa
norte-americana Tecumseh, mas teve um fim melancólico, previsto por um
funcionário do Banco do Brasil que em 1958 dizia que o Brasil não possuía
condições para prosperar indústrias deste seguimento.
Sem conhecer a sistemática
da operação do cartel da indústria elétrica, Wittich fez o empreendimento que
também não prosperou, pois infelizmente, não obtinha as informações
privilegiadas que autoridades brasileiras tinham em 1972, sobre o eminente
perigo de desnacionalização da Consul, que aos poucos foi incorporada pela
empresa Philips, que investiu pesado para ganhar mercado, inclusive, com
ameaças de montar uma fábrica de geladeiras em Rio Claro – SP.
Com dificuldades de
abastecimento de compressores; a falta de crédito do BNDE e a negativa do CIP
sobre a margem de lucro adequado, a partir de 1975, sem alternativa Freytag
vendeu a empresa. Só que o governo brasileiro vetou a transação e não lhe
ofereceu solução. A Consul continuou mergulhada em dificuldades
intransponíveis. Na ocasião o empresário disse o seguinte: “Querer concorrer
hoje com os grandes grupos é quase uma utopia”.
Este breve histórico da
proposital desindustrialização do País, causado pela falta de apoio aos
empreendimentos nacional, é uma prova de que o poder do grande capital, os
bancos, o capitalismo financeiro, exportadores, a oligarquia etc., só defendem seus
privilégios contra os interesses da nação e do povo. Ou seja, não são
democratas, são eternos conspiradores e responsáveis diretos pela grande desigualdade
social no Brasil.
Por:
Nailton Francisco de Souza, Diretor Executivo do SindMotoristas – SP e
Secretário Nacional de Comunicação da Nova Central Sindical de Trabalhadores
(NCST).
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