Apontado pelo Governo
Bolsonaro como o principal medicamento para o tratamento do coronavírus, a
cloroquina ainda não teve sua eficiência comprovada por estudos científicos. O
medicamento é usado para o tratamento da malária e doenças auto-imunes, como a
artrite e o lúpus, mas, a partir de estudos preliminares que indicavam que o
remédio tinha potencial para combater a covid-19 em laboratório, além de outros
estudos realizados com um número reduzido de pacientes, ele foi colocado por
várias autoridades como uma cura para a doença.
Na busca de um solução para
tentar salvar tantas perdas humanas, órgãos de saúde de vários países
autorizaram o uso da cloroquina em caráter emergencial, ainda que sem uma comprovação
científica definitiva. Diante disso, a comunidade científica pediu cautela,
justificando que ainda era necessário um estudo mais amplo para comprovar se a
droga tinha algum efeito contra o novo coronavírus, além de avaliar a dosagem
segura.
No Brasil, apesar da pressão
do chefe do executivo, o agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich publicou
durante a semana em uma rede social que a cloroquina é um medicamento com
efeitos colaterais, sua prescrição deve ser feita com base em avaliação médica
e que “o paciente deve entender os riscos e assinar o Termo de Consentimento
antes de iniciar o uso da cloroquina”.
De acordo com os resultados
dos dois maiores estudos já realizados com a cloroquina para o tratamento do
coronavírus, o medicamento não trouxe benefícios práticos, como a redução na
letalidade ou no tempo de internação. Outro problema são os efeitos colaterais,
como a arritmia cardíaca, que levaram a Associação Médica Americana a emitir um
comunicado pedindo que o uso da cloroquina fosse limitado a estudos clínicos e
dentro de hospitais sob rigoroso controle.
Conforme publicado no
Journal of the American Medical Association (JAMA), uma dessas pesquisas
analisou dados de 1.438 pacientes infectados pelo coronavírus entre 15 de março
e 24 de abril em hospitais de Nova York. O objetivo era saber se havia
diferença na taxa de mortalidade entre quatro grupos: os que foram tratados
apenas com a hidroxicloroquina (derivado da cloroquina com menor toxicidade);
os que receberam o medicamento associada à azitromicina (um antibiótico); os
que tomaram apenas a azitromicina; e os que não receberam nenhum medicamento. A
conclusão deste estudo é que não houve diferença significativa entre a taxa de
letalidade observada entre os quatro grupos.
O outro estudo foi publicado
no New England Journal of Medicine (NEJM). Realizado com 1.376 pacientes
americanos infectados pelo coronavírus, foi observado o resultado de
tratamentos com e sem hidroxicloroquina. Assim, 811 pacientes foram medicados por
cerca de cinco dias com a hidroxicloroquina e 565 pacientes não receberam o
remédio. A pesquisa foi concluída em 25 de abril, quando os autores indicaram
que pacientes com e sem o tratamento apresentavam o mesmo risco de morrer.
Apesar disso, ambos os
estudos usaram uma metodologia limitada, sem um controle de classificação dos
grupos, sendo necessárias pesquisas complementares para confirmar os
resultados. Levantamentos deste tipo estão em andamento em diversos países.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não existe nenhum
tratamento comprovado contra o coronavírus
Relatos de efeitos
indesejáveis de formas de tratamento da Covid-19 atingem mais de 500 casos, de
acordo com a Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Produtos de Saúde
(ANSM), incluindo problemas cardíacos atribuídos à hidroxicloroquina. Segundo a
agência, sua equivalente na Espanha, a AEMPS, deu conta de seis casos de
problemas neuropsiquiátricos em pacientes que usaram, entre eles três suicídios
e uma tentativa de suicídio.
Os problemas
neuropsiquiátricos apareceram principalmente nos primeiros dias de tratamento,
com doses elevadas, inclusive em pacientes sem antecedentes psiquiátricos. A
ANSM assinala que já se conhecia o risco de problemas psiquiátricos provocados
pela hidroxicloroquina e cloroquina, que poderiam se agravar no contexto da
pandemia e do confinamento. Neste sentido, há uma avaliação em andamento em
nível europeu.
Ela indica que "o
número de casos de efeitos cardíacos indesejáveis em tratamentos com o
medicamento administrada sozinha ou associada a outros remédios teve um aumento
menos importante do que nas semanas anteriores". A hidroxicloroquina, um
derivado da cloroquina, remédio contra a malária, é conhecida por provocar em
alguns pacientes anomalias elétricas do funcionamento cardíaco, visíveis por
meio de eletrocardiograma, que podem provocar arritmia e até a morte.
"Parece que os
pacidentes com Covid-19 são mais frágeis em nível cardiovascular e, em
consequência, mais suscetíveis do que outras pessoas de apresentar problemas
com remédios que são nocivos ao coração", como a hidroxicloroquina,
explicou em abril à AFP o diretor-geral da ANSM, Dominique Martin.
Levando em conta esta risco,
a agência sanitária francesa lembrou que, se estes medicamentos forem usados
contra a Covid-19, isto tem que acontecer dentro dos testes clínicos em
andamento.
Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional
Nenhum comentário:
Postar um comentário