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segunda-feira, 25 de maio de 2020

Número de vítimas do coronavírus em MG pode ser 800% maior que o divulgado


Levantamento da reportagem do Estado de Minas sobre dados do Ministério da Saúde (MS) e Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) mostra que o quadro mais grave de internação por doenças pulmonares como a infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) já afetou expressivamente mais mineiros que em 2019, com 8.099 doentes neste ano contra 1.024 do mesmo período do ano passado, uma alta de 691%.

Pilhas de diagnósticos pendentes somados a doentes e mortos sequer testados se acumulam em grande subnotificação no Estado e reverberam no meio acadêmico e clínico por mascararem a gravidade da doença no estado. As mortes saltaram de 116 para 1.088, um aumento de 838% durante a pandemia. Contudo, entraram na testagem para a COVID-19 apenas 3.139 (38,7%) doentes e 307 (28,2%) mortos com esse quadro, segundo o MS. Uma situação denunciada pelo EM desde o dia 10 e que vem piorando.

A SES-MG nega que haja subnotificação consistente e que cumpre a contento o que é preconizado pelo ministério. A situação é tão grave que uma pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia foi publicada com o título "Subnotificação de mortes pela COVID-19 no segundo estado mais populoso do Brasil" e destaca os mesmos números de mortes pela SRAG.

Pelos levantamentos feitos sobre dados oficiais, os pesquisadores encontram uma discrepância de 209,23% de números e evidenciam que um aumento de 648,61% de mortes pela SRAG no período analisado seja, na verdade, um efeito da COVID-19. O estudo também aponta um crescimento de 5,36% dos casos de pneumonia e 5,72% de insuficiência respiratória no estado, que seriam evidências claras de infecções pelo novo coronavírus ainda não diagnosticadas.

A orientação do MS é clara e a coleta de amostra e testagem é indicada para todos os casos de SRAG hospitalizados e todos os óbitos suspeitos. Contudo, mesmo entre os testes, a defasagem de diagnósticos "a confirmar", ou seja, ainda sem resposta, é das piores do país. Dos 3139 casos de doentes com SRAG, 1.385 (44%) ainda aguardam um resultado segundo dados da última semana epidemiológica fechados no MS. Esse resultado coloca Minas Gerais como o 13º estado em diagnósticos não confirmados proporcionais aos realizados.

O desempenho mineiro é ainda pior quando se observa o número de mortos por SRAG testados ante os demais estados da federação. Com 72 diagnósticos pendentes, dos 307 testados com o quadro respiratório grave, um índice de 23,5% que faz o estado ocupar a 19ª posição em relação a testagens pendentes de resultados para óbitos. O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva, afirma que os números de subnotificação são grandes, bem como testagens feitas de forma equivocada.

“Acredito que muitos dos casos ainda sem diagnóstico ocorram devido a exames que não são feitos como indicado e dão negativos. O PCR (exame de laboratório que usa enzimas para detectar a presença do vírus no paciente) é eficiente no início e o exame de sorologia (pesquisa pelos anticorpos) é mais adequado tardiamente. A tendência é que com a chegada recente de mais testes isso possa ser melhor explicado”, afirma o infectologista.

Oficialmente, Minas Gerais ocupa posição de destaque no controle da COVID-19, figurando como o segundo estado com menor taxa de doentes, com 29 casos positivos por 100 mil habitantes e a mesma posição entre os óbitos, registrando 1 morte para cada 100 mil habitantes pela COVID-19, segundo o MS. Mas a falta de confiança nos dados pendentes e a testagem considerada baixa despertam a desconfiança de que os números estejam defasados.

No dia 10 de maio, quando a reportagem do EM trouxe o alerta para números pendentes e baixo volume de exames, o número de mortes por SRAG em Minas Gerais era o 18ª pior, com taxa de confirmação para COVID-19 com 29% de exames pendentes. No caso dos positivos, Minas Gerais era o 17º pior, com 45,5% (quase a metade) dos quadros da síndrome ainda não definidos para a COVID-19 ou outro mal.


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