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sexta-feira, 29 de maio de 2020

PIB do Brasil cai 1,5% no 1º trimestre, início da pandemia, segundo IBGE


Estatísticas divulgadas nesta sexta-feira (19) pelo IBGE revelam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 1,4% no primeiro trimestre do ano (janeiro a março). Em abril a situação se agravou, como sugerem os dados do instituto sobre a taxa de desemprego, que subiu para 12,6%, e a população ocupada, que recuou 5,4% (menos 4,9 milhões de pessoas), na maior queda da história.

Na opinião da coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a retração foi causada, principalmente, pelo recuo de 1,6% nos serviços, setor que representa 74% do produto. A indústria declinou 1,4%, enquanto a agropecuária cresceu (0,6%). O consumo das famílias registrou recuo de 2%, o maior desde a crise de energia elétrica em 2001, segundo Rebeca.

Com isto, o PIB retrocede ao patamar verificado no segundo trimestre de 2012, ou seja, voltamos de onde tínhamos saído oito anos atrás. Mas o pior ainda está por vir, ao longo do ano a queda do valor agregado à produção nacional pode beirar os 10%, a julgar pelas estimativas de alguns economistas, e a taxa de desemprego aberto ultrapassar 20%.

Culpa do coronavírus? Não apenas. A economia já andava fraca antes da emergência da pandemia, com a produção praticamente estagnada, a taxa de desemprego acima de dois dígitos e 41% dos trabalhadores e trabalhadoras na informalidade, muitos deles auferindo rendas inferiores a um salário mínimo.

Este cenário social miserável se refletiu no fato de que mais de 100 milhões de cidadãos brasileiros se candidataram à renda emergencial de míseros R$ 600,00 aprovada pelo Congresso Nacional para amenizar os efeitos da crise agravada pela doença.

A causa da anemia econômica já foi apontada por inúmeros observadores e economistas que acompanham a conjuntura com olhos críticos. Reside na política de restauração neoliberal imposta aos brasileiros desde o golpe de 2016.

Ao lado das reformas trabalhista e previdenciária, que subtraíram direitos e ampliaram a precarização do mercado de trabalho, os golpistas impingiram a Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos por 20 anos.

Esses retrocessos, inaugurados no governo Temer e radicalizados por Bolsonaro, constituem as principais causas da estagnação da economia que desgraçadamente ocorreu de modo inusitado na sequência da severa recessão de 2015/2016. Não fosse o ajuste fiscal irracional e as reformas antissociais a recuperação econômica teria sido mais forte e efetiva.

Mas eis que diante do avanço devastador da crise o banqueiro Paulo Guedes, o ministro da Economia vassalo dos interesses dos seus pares, propõe mais do mesmo veneno. “A manutenção do teto de gastos constitui um pilar fundamental neste processo", afirmou o posto Ipiranga de Bolsonaro, para quem a crise abre a oportunidade "de implementar um conjunto amplo de reformas pró-mercado”.

É o caminho do contrassenso, desmoralizado pelo coronavírus que a despeito dos ideólogos neoliberais mostrou que a intervenção do Estado é indispensável para fazer frente às crises sanitária e econômica. Uma agenda para perpetuar a estagnação econômica, as escandalosas desigualdades sociais e a miséria.

São fartas as evidências de que o governo de Bolsonaro e Paulo Guedes é, hoje, o maior obstáculo no caminho do desenvolvimento nacional, assim como da democracia, da soberania e do bem estar social. Urge removê-lo para interromper a marcha célere da nação em direção à barbárie.

Por: Carlos Umberto Martins, Jornalista.

Novo presidente do TSE pautará cassação da chapa que elegeu Bolsonaro


Um dia após assumir a presidência Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na terça-feira (26/05), ministro Luís Roberto Barroso afirmou em entrevista online à imprensa que deve pautar, em breve, a cassação da chapa do presidente Jair Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo ele, o prazo máximo é de três semanas para que o tema seja alvo de julgamento na Corte.

Disse que sua gestão deve seguir a regra geral de seguir a ordem cronológica dos pedidos de liberação pelos relatores das ações. Inicialmente, devem ser analisadas duas ações judiciais que pedem a cassação de Bolsonaro e Mourão: a primeira foi movida por Marina Silva (Rede), e a segunda por Guilherme Boulos (PSOL). O julgamento das representações começou em novembro de 2019.

Os autores pedem a cassação dos registros de candidatura, dos diplomas ou o mandato deles, além da declaração de inelegibilidade. Na ação sustentam que o grupo virtual “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, no Facebook, teria sido alvo de ataques cibernéticos que alteraram o conteúdo da página, com a modificação de seu nome para “Mulheres COM Bolsonaro #17”.

Ressaltam que Bolsonaro, então candidato à presidência, teria publicado em seu perfil oficial no Twitter a mensagem “Obrigado pela consideração, mulheres de todo o Brasil”. A manifestação sinalizaria provável participação ou, no mínimo, ciência por parte dele.

Ao todo, foram ajuizadas 15 ações contra a chapa presidencial eleita. Destas, sete foram arquivadas definitivamente, com decisão transitada em julgado. As oito restantes permanecem em andamento, entre elas, as ações de Marina e Boulos. Outras duas ações foram movidas pela Coligação Brasil Soberano, dos partidos PDT e Avante.

As legendas apontam uso indevido de meios de comunicação e abuso de poder econômico em razão de disparos em massa no WhatsApp pela campanha de Bolsonaro. A Coligação O Povo Feliz de Novo, dos partidos PT, PCdoB e PROS, tem quatro ações em tramitação. Duas delas pautam a mesma queixa das ações do PDT/Avante.

Uma terceira ação trata do abuso de poder econômico em razão da colocação de outdoors com padrões e mensagens semelhantes, em pelo menos 33 municípios, distribuídos em 13 estados. A última ação trata do uso indevido dos meios de comunicação, relativo ao favorecimento da emissora Record. O caso já foi julgado improcedente, mas está em fase de embargos de declaração.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Ex-aliados de Bolsonaro detalham modus operandi do “gabinete do ódio”

No inquérito que apura esquema de notícias falsas e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados federais que foram aliados do presidente Jair Bolsonaro forneceram detalhes sobre o modus operandi do chamado “Gabinete do Ódio”.

Trata-se de uma estrutura que desfere ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às instituições, com conteúdo de ódio, subversão da ordem democrática e incentivo à quebra da normalidade institucional.

A partir dos depoimentos dos deputados, o relator do inquérito, Alexandre de Moraes, afirmou que provas colhidas e laudos periciais apontam para a real possibilidade de existência de uma associação criminosa dedicada à disseminação de fake news – o “Gabinete do Ódio”.

Coordenação feita por assessores

O deputado federal Heitor Freire (PSL-SP) citou os nomes de Matheus Sales, Mateus Matos Diniz e Tercio Arnaud Tomaz como principais integrantes do “Gabinete do Ódio”. Sales e Arnaud são assessores especiais da Presidência da República e Diniz é assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Os três são próximos ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e despacham no Palácio do Planalto.

Carlos é o filho zero dois do presidente e está na linha de frente do confronto e do tom beligerante da família nas redes sociais. O vereador é tido como o responsável pelas estratégias para as mídias digitais.

Freire disse que a atuação é regionalizada, com vários colaboradores nos diferentes estados, a grande maioria sendo assessores de parlamentares federais e estaduais. O uso das estruturas públicas para fins político-ideológicos foi detalhado pelo deputado.

Em seu depoimento, ele afirma que esses assessores parlamentares administram diversas páginas nas redes sociais, incluindo grupos de Whatsapp, e por meio dessas páginas divulgam postagens ofensivas, quase sempre orientados pelo trio de assessores da Presidência.

Por sua vez, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS) disse ter percebido que o movimento se organizava para atacar incessantemente a honra de qualquer pessoa que ousasse discordar da orientação do que chamou de “grupos conservadores extremistas”.

Segundo ele, a desmoralização do Supremo, do Senado e da Câmara visava pregar a desnecessidade de existência dessas instituições e, assim, alcançar uma ruptura constitucional.

Dois deputados que foram aliados de primeira hora de Bolsonaro, Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP), reiteraram as acusações que já vêm fazendo no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das fake news, que funciona no Congresso Nacional desde o ano passado.

Coordenação nas redes sociais

Joice, que foi líder do governo do Congresso, afirmou que a organização atuava de forma coordenada nas redes sociais. “Quando surgia alguma postagem ou hashtag ofensiva ao STF ou algum de seus membros, um dos integrantes do grupo retransmitia e em questão de minutos isso era disseminado pelas redes sociais e para inúmeros outros grupos, seja pela atuação de integrantes da organização, seja por utilização de robôs”, afirmou Joice.

Segundo ela, a cúpula dessa organização trabalha com a construção de narrativas e estuda os canais mais eficazes para sua rápida divulgação, contando para isso com o chamado “efeito manada”.

Ao reiterar a tese de uma coordenação nacional, Frota afirmou que a disseminação quase que simultânea, em diversos perfis do Twitter, de estados muito distantes, e com textos idênticos, é prova cabal da utilização de robôs.

Ele indicou que residência situada na QL 19, em Brasília, ocupada atualmente pelo blogueiro Allan dos Santos, pode ser a “sede” da milícia de ataques virtuais. No lugar funciona um estúdio do site “Terça Livre”, que veicula conteúdos de extrema-direita favoráveis ao presidente Bolsonaro.

O deputado Heitor Freire exemplificou a coordenação dos ataques com o vídeo que compara o STF  a uma hiena que deveria ser fustigada por um leão, representado pelo presidente Bolsonaro. De acordo com o deputado, a postagem ocorreu de forma quase simultânea em diversas páginas do Facebook.


quarta-feira, 27 de maio de 2020

O poder dos cartéis das multinacionais e sua inserção na história da indústria brasileira


No livro: “A Ditadura dos Cartéis – Anatomia de um Subdesenvolvimento” de 1978, Kurt Rudolf Mirow conta sua luta como um dos diretores da empresa brasileira Codima S/A, instalada no Brasil no tempo do Império em 1864, na qual combateu com veemência às atividades predatórias das corporações estrangeiras no país e, descobriu que, por detrás da destruição do parque industrial nacional existia um cartel internacional.

O cartel da indústria de material elétrico, registrado em Londres, com o nome de Internacional Eletrical Association, coordenou as atividades dos diversos cartéis setoriais que dominavam mais de 25 linhas de produção no mundo. Este de forma bem planejada manejava as ferramentas, propositalmente, para exterminar empresas brasileiras que pudessem abrir concorrência.

Depois de muita pesquisa e investigação, Mirow então compreendeu que, se não o enfrentasse teria que entregar a qualquer corporação internacional, um patrimônio construído por sua família há mais de 100 anos. Então conseguiu comprovar que às “inofensivas multinacionais” – consideradas responsáveis e beneméritas instituições -, não passavam de fachadas para esconder os interesses escusos de repartir mercados, fixar a qualidade dos produtos e sustentar seus preços e limitar concorrência e evitar a queda da taxa média de seus lucros.

E que para atingir seus objetivos recorriam a todos os expedientes, tais como: o oferecimento de modesta indenização, privação de crédito, boicote, dumping (venda abaixo de custo), etc. Inclusive, chegavam a utilizar o antigo método americano de empregar dinamite contra o possível concorrente. Com detalhes estarrecedores conta a saga de quem sofreu a realidade dos cartéis durante a década de 1970 em plena Ditadura Militar no Brasil.

Este período foi caracterizado pela realização de objetivos econômicos bem definidos de um setor do empresariado estrangeiro, onde os gerentes norte-americanos e de outras origens procuravam ajustar a superestrutura do País à força por eles adquirida, com a desindustrialização e o esmagamento da incipiente burguesia brasileira.

Decisivamente no jogo do “Poder Econômico”, as grandes corporações privadas influenciaram para dividir os países entre Desenvolvidos e Subdesenvolvidos e que, infelizmente, o Brasil aceitou o jogo que lhe foi imposto mesmo que nos momentos de crise internacional tenha se mostrado autossustentável e preferiu fortalecer às multinacionais Hudson, Bay Company, East Índia Comp., Companhia das Índias por mais de 15 anos seguidos.

De forma proposital foi liquidado sua própria estrutura industrial que aos poucos foi transferida aos estrangeiros. “Em conferência realizada em 20 de fevereiro de 1976 na Associação de Jornalistas Econômicos, o Sr. Roberto de Lima Neto, Diretor da Mecânica Brasileira S/A, do BNDE, EMBRAMEC, reconheceu essa situação, ou seja: a indústria nacional é ainda, bastante nova, estando várias empresas numa fase que os economistas denominam infant-industrip. Não é, portanto, razoável esperar que ela concorra em pé de igualdade com a empresa estrangeira”, (P.18).

Outro instrumento letal utilizado na disputa foi o “Monopólio da Tecnologia” via a formação do pools de patentes que explorava as invenções dos outros com o sistema de licenciamentos mútuos (cross-licensing), cuja função era arrematar e monopolizar todas as patentes e inovações tecnológicas de processos industriais e futuros, para apropriação entre seus membros, sendo que a General Eletric e a Westinghouse foram as primeiras em 1896, a reconhecerem a utilização mútua de investimentos úteis para estes fins.

A prática dos acordos de tecnologia tinha como objetivo dividir o mercado produtivo entre as participantes e evitar a invasão de território alheio. Com a falta de concorrência os consumidores não tinham como escapar dos preços abusivos praticados pelos grupos participantes dos cartéis. Foi assim, no acordo dos produtos de cabos elétricos, de aço, petróleo, bens de capital, fertilizantes, produtos químicos, fumos, etc.

Mirar e abater possível concorrente eram a missão das multinacionais no território nacional que utilizavam técnicas diversas, para controlar o surgimento de indústrias novas. Comprá-las, praticar dumping, boicotar, foram alguns instrumentos habilidosamente utilizados logo no início do aparecimento de um possível concorrente. Foi com esses métodos quem em 1960 o cartel da barrilha de soda cáustica resolveu destruir a CNA – Companhia Nacional de Alcalis.

A teia de acordos de proteção de mercado cativo (home Market protection agréments), vinculada a contratos para utilização mútua de patentes (patente pool agreements), foi sempre mantida, mesmo em períodos de guerra, para demonstrar sua eficácia no patrocínio de concorrência predatória contra out-sider, firmas não associada ao cartel. Para atingir seus objetivos foi sustentado contratualmente um “Fundo de Combate” por todos associados que subvencionava preços a fim de aniquilar comercialmente todo concorrente indesejável.

Aqui, no período pós-guerra iniciaram a instalação de indústria de aparelhos elétricos e eletrodomésticos, dentre elas a firma Consul, de Joinville – SC, cuja expansão constituía orgulho de modelo brasileiro dos anos de 1965 a 1975 com desenvolvimento baseado na importação de compressores de frio utilizados na fabricação de geladeiras. Por volta de 1971, para não depender desses produtos importados, Sr. Wittich Freytag em conjunto com a empresa Springer resolveu construir a EMBRACO S/A – Empresa Brasileira de Compressores -, para concorrer com a fábrica Unifrio, de Niterói – RJ, então a única instalada no país.

Seu destino foi igual o da Edimetal S/A que em 1968 importou da Alemanha uma instalação completa de produção de compressores no município de Barra Mansa, sob licença da empresa norte-americana Tecumseh, mas teve um fim melancólico, previsto por um funcionário do Banco do Brasil que em 1958 dizia que o Brasil não possuía condições para prosperar indústrias deste seguimento.

Sem conhecer a sistemática da operação do cartel da indústria elétrica, Wittich fez o empreendimento que também não prosperou, pois infelizmente, não obtinha as informações privilegiadas que autoridades brasileiras tinham em 1972, sobre o eminente perigo de desnacionalização da Consul, que aos poucos foi incorporada pela empresa Philips, que investiu pesado para ganhar mercado, inclusive, com ameaças de montar uma fábrica de geladeiras em Rio Claro – SP.

Com dificuldades de abastecimento de compressores; a falta de crédito do BNDE e a negativa do CIP sobre a margem de lucro adequado, a partir de 1975, sem alternativa Freytag vendeu a empresa. Só que o governo brasileiro vetou a transação e não lhe ofereceu solução. A Consul continuou mergulhada em dificuldades intransponíveis. Na ocasião o empresário disse o seguinte: “Querer concorrer hoje com os grandes grupos é quase uma utopia”.

Este breve histórico da proposital desindustrialização do País, causado pela falta de apoio aos empreendimentos nacional, é uma prova de que o poder do grande capital, os bancos, o capitalismo financeiro, exportadores, a oligarquia etc., só defendem seus privilégios contra os interesses da nação e do povo. Ou seja, não são democratas, são eternos conspiradores e responsáveis diretos pela grande desigualdade social no Brasil.

Por: Nailton Francisco de Souza, Diretor Executivo do SindMotoristas – SP e Secretário Nacional de Comunicação da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST).

segunda-feira, 25 de maio de 2020

PF identifica Carlos Bolsonaro como chefe de esquema criminoso de fake News


Em inquérito sigiloso conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a Polícia Federal identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news. Dentro da Polícia Federal, não há dúvidas de que Bolsonaro quis exonerar o ex-diretor da PF Maurício Valeixo, homem de confiança do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, porque tinha ciência de que a corporação havia chegado ao seu filho, chamado por ele de 02 e vereador do Rio de Janeiro pelo partido Republicanos.

Para o presidente, tirar Valeixo da direção da PF poderia abrir caminho para obter informações da investigação do Supremo ou inclusive trocar o grupo de delegados responsáveis pelo caso. Um dos quatro delegados que atuam no inquérito é Igor Romário de Paula, que coordenou a Lava Jato em Curitiba quando Sergio Moro, agora ex-ministro da Justiça, ​era o juiz da operação.

Valeixo, diretor da PF demitido por Bolsonaro, foi superintendente da polícia no Paraná no mesmo período e escalado por Moro para o comando da polícia. Não à toa, na sexta-feira (24), logo após Moro anunciar publicamente sua demissão do Ministério da Justiça, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo, determinou que a PF mantenha os delegados no caso.

O inquérito foi aberto em março do ano passado pelo presidente do STF, Dias Toffoli, para apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar ministros do tribunal. Carlos é investigado sob a suspeita de ser um dos líderes de grupo que monta notícias falsas e age para intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet. A Polícia Federal também investiga a participação de seu irmão Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de SP.

A partir de depoimentos e indícios já coletados, a PF agora busca um conjunto de provas que sustente um indiciamento ao fim da investigação.Procurado pela Folha por escrito e por telefone, o chefe de gabinete de Carlos não respondeu aos contatos. Para o lugar de Valeixo, no comando da PF, Bolsonaro escolheu Alexandre Ramagem, hoje diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Ramagem é amigo de Carlos Bolsonaro, exatamente um dos alvos do inquérito da PF que tramita no STF.

Os dois se aproximaram durante a campanha eleitoral de 2018, quando Ramagem atuou no comando da segurança do então candidato presidencial Bolsonaro após a facada que ele sofreu em Juiz de Fora (MG).

Carlos foi quem convenceu o pai a indicar Ramagem para o lugar de Valeixo. Os dois ficaram ainda mais próximos quando Ramagem teve cargo de assessor especial no Planalto nos primeiros meses de governo. Carlos é apontado como o mentor do chamado "gabinete do ódio", instalado no Planalto para detratar adversários políticos.

Segundo aliados de Moro, ao mesmo tempo que a PF avançava sobre o inquérito das fake news, Bolsonaro aumentava a pressão para trocar Valeixo. A exoneração de Valeixo do cargo de diretor-geral da corporação levou Moro a pedir demissão. Ele acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na polícia.

Na quinta-feira (23), Moro e Bolsonaro haviam se encontrado e a pauta da reunião foi a saída de Valeixo. A demissão de Moro foi antecipada pela Folha no mesmo dia. Nos últimos meses, o presidente pediu a Valeixo informações sobre os trabalhos da polícia, em reuniões e por telefone. Segundo a Folha apurou, Bolsonaro nunca recebeu dele dados sigilosos.

Bolsonaro enviou mensagem no início da manhã de quinta a Moro com um link do site Antagonista com uma notícia sobre o inquérito das fake news intitulada "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas". "Mais um motivo para a troca", disse o presidente a Moro se referindo à sua intenção de tirar Valeixo. Moro respondeu a Bolsonaro argumentando que a investigação, além de não ter sido pedida por Valeixo, era conduzida por Moraes, do STF.


Número de vítimas do coronavírus em MG pode ser 800% maior que o divulgado


Levantamento da reportagem do Estado de Minas sobre dados do Ministério da Saúde (MS) e Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) mostra que o quadro mais grave de internação por doenças pulmonares como a infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) já afetou expressivamente mais mineiros que em 2019, com 8.099 doentes neste ano contra 1.024 do mesmo período do ano passado, uma alta de 691%.

Pilhas de diagnósticos pendentes somados a doentes e mortos sequer testados se acumulam em grande subnotificação no Estado e reverberam no meio acadêmico e clínico por mascararem a gravidade da doença no estado. As mortes saltaram de 116 para 1.088, um aumento de 838% durante a pandemia. Contudo, entraram na testagem para a COVID-19 apenas 3.139 (38,7%) doentes e 307 (28,2%) mortos com esse quadro, segundo o MS. Uma situação denunciada pelo EM desde o dia 10 e que vem piorando.

A SES-MG nega que haja subnotificação consistente e que cumpre a contento o que é preconizado pelo ministério. A situação é tão grave que uma pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia foi publicada com o título "Subnotificação de mortes pela COVID-19 no segundo estado mais populoso do Brasil" e destaca os mesmos números de mortes pela SRAG.

Pelos levantamentos feitos sobre dados oficiais, os pesquisadores encontram uma discrepância de 209,23% de números e evidenciam que um aumento de 648,61% de mortes pela SRAG no período analisado seja, na verdade, um efeito da COVID-19. O estudo também aponta um crescimento de 5,36% dos casos de pneumonia e 5,72% de insuficiência respiratória no estado, que seriam evidências claras de infecções pelo novo coronavírus ainda não diagnosticadas.

A orientação do MS é clara e a coleta de amostra e testagem é indicada para todos os casos de SRAG hospitalizados e todos os óbitos suspeitos. Contudo, mesmo entre os testes, a defasagem de diagnósticos "a confirmar", ou seja, ainda sem resposta, é das piores do país. Dos 3139 casos de doentes com SRAG, 1.385 (44%) ainda aguardam um resultado segundo dados da última semana epidemiológica fechados no MS. Esse resultado coloca Minas Gerais como o 13º estado em diagnósticos não confirmados proporcionais aos realizados.

O desempenho mineiro é ainda pior quando se observa o número de mortos por SRAG testados ante os demais estados da federação. Com 72 diagnósticos pendentes, dos 307 testados com o quadro respiratório grave, um índice de 23,5% que faz o estado ocupar a 19ª posição em relação a testagens pendentes de resultados para óbitos. O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva, afirma que os números de subnotificação são grandes, bem como testagens feitas de forma equivocada.

“Acredito que muitos dos casos ainda sem diagnóstico ocorram devido a exames que não são feitos como indicado e dão negativos. O PCR (exame de laboratório que usa enzimas para detectar a presença do vírus no paciente) é eficiente no início e o exame de sorologia (pesquisa pelos anticorpos) é mais adequado tardiamente. A tendência é que com a chegada recente de mais testes isso possa ser melhor explicado”, afirma o infectologista.

Oficialmente, Minas Gerais ocupa posição de destaque no controle da COVID-19, figurando como o segundo estado com menor taxa de doentes, com 29 casos positivos por 100 mil habitantes e a mesma posição entre os óbitos, registrando 1 morte para cada 100 mil habitantes pela COVID-19, segundo o MS. Mas a falta de confiança nos dados pendentes e a testagem considerada baixa despertam a desconfiança de que os números estejam defasados.

No dia 10 de maio, quando a reportagem do EM trouxe o alerta para números pendentes e baixo volume de exames, o número de mortes por SRAG em Minas Gerais era o 18ª pior, com taxa de confirmação para COVID-19 com 29% de exames pendentes. No caso dos positivos, Minas Gerais era o 17º pior, com 45,5% (quase a metade) dos quadros da síndrome ainda não definidos para a COVID-19 ou outro mal.


sábado, 23 de maio de 2020

Bolsonaro mente! Vídeo evidencia intento de intervir na PF e revela aparato pessoal de informação


O registro da reunião ministerial de 22 de abril, cuja divulgação foi liberada por decisão de Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, na sexta-feira (22), traz novas evidências conclusivas sobre o que já se suspeitava: o presidente Jair Bolsonaro mente. Depois do vídeo, a versão presidencial de que queria interferir na sua segurança pessoal, e não na superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, torna-se completamente inverossímil.

Como demonstrou reportagem da TV Globo, menos de um mês antes da reunião Bolsonaro havia promovido o responsável por sua segurança e o substituído pelo então número dois na função. No vídeo, o presidente fala textualmente: “Já tentei trocar gente de segurança no Rio, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda (...) porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele, troca o ministro. E ponto final. Não estamos para brincadeira”.

Tudo o que ocorreu depois da reunião se encaixa na narrativa do ex-juiz Sergio Moro. Não há dúvidas de que o presidente trata da PF, um órgão de Estado, quando promete ir até o fim para fazer valer a sua vontade antes que a sua família seja atingida. De resto, o encontro do ministério entra para a história dos 130 anos da República no Brasil como um dos episódios mais execráveis do exercício do poder presidencial.

Evidencia-se, nos termos chulos, nos rompantes autoritários e nas exibições de incapacidade gerencial diante de uma crise monstruosa, que Jair Bolsonaro aviltou e avilta a Presidência da República, colocada pelos constituintes de 1988 no pináculo do edifício democrático. A democracia que o elegeu é a mesma que tem sido vilipendiada por seus atos e suas falas.

Partem do próprio presidente as ofensas a governadores. O celerado à frente da pasta da Educação quer cadeia para ministros do STF, que qualifica de vagabundos.

Mandatários estaduais e municipais também serão alvo de pedidos de prisão, promete a exaltada ministra que cuida, paradoxalmente, dos Direitos Humanos.

Um elemento a mais aparece no vídeo. Bolsonaro afirma que tem acesso a um dispositivo de inteligência particular. Ora, nada no ordenamento constitucional, nem nos princípios que norteiam as sociedades democráticas, autoriza o chefe de Estado a dispor de um aparelho pessoal de bisbilhotagem.

Por tudo o que se mostrou, o procurador-geral da República, Augusto Aras, está obrigado a aprofundar a investigação acerca da conduta de um mandatário que, além de cercar-se de assessores insanos, autoritários e incapazes, pode ter cometido crimes. Que Aras se mostre à altura do cargo que ocupa.

A apuração não pode se deter, ademais, diante de ameaças abjetas como a do general Augusto Heleno, do GSI, segundo o qual uma eventual apreensão do celular presidencial teria “consequências imprevisíveis”. Dados a baixeza e o desvario mostrados numa reunião formal, assusta de fato imaginar o que Bolsonaro diz em privado.

Por: editoriais@grupofolha.com.br em 23/05/2020

terça-feira, 19 de maio de 2020

Como superar o desequilíbrio inerente à relação de trabalho?


A nova forma de organização social e internacional do trabalho coloca a associação sindical e a consciência de classe diante de uma grande crise de viabilização da representação e união de trabalhadores (as) e a participação da massa operária de forma democrática nas relações com o Estado e, reposta mais precisa, para superar à desigual relação capital e trabalho é o fortalecimento da coletividade, união e solidariedade de classe.

Na sociedade contemporânea, fortemente estimulada ao consumo, que nem sempre reflete a real necessidade das pessoas. O dinamismo do mercado não permite que elas reflitam sobre realidade e interesses próprios, o que faz com que sigam rotinas sem observarem que não é exatamente o que lhes satisfazem ou as prejudicam.

Têm pessoas em nosso meio com interesses dúbios. Ou seja, não conseguem refletir e ficam reféns de um ciclo vicioso de consumo e trabalho, no qual precisa trabalhar cada vez mais e pensar menos. E por inúmeras razões, o tempo livre vira o tempo do consumo, o que torna a vida extremamente limitada.

Na visão do professor e escritor americano, David Konstan o homem vive numa época de “empobrecimento emocional coletivo” e as sociedades individualistas de nosso tempo sofrem de uma “síndrome crônica de empobrecimento social e emocional”. E a vida emocional do homem contemporâneo parece ter ficado restrita ao “universo do erotismo e das aventuras emocionais”.

Sendo que uma das formas de reverter essa situação de empobrecimento emocional do homem moderno é fazê-lo participar de eventos, que amplia os espaços para a vida social e pública e conduz as pessoas para a experimentação conjunta de emoções. Pois por meio de sua participação em eventos, o homem moderno “aprende a reaprender a ter emoções, desenvolver seu senso crítico, aprimora suas visões, preza a liberdade”.

Diante da conjuntura política e econômica que atravessamos desde 2016 com a retirada de Dilma Rousseff da presidência do Brasil e, principalmente, nesse momento de pandemia provocada pelo novo coronavírus, tem marcado um aprofundamento das políticas neoliberais representados pelo profundo ataque e retirada de direitos dos trabalhadores (as), após o fim do pacto de conciliação conquistado na (Constituição Federal de 1988). Desde então para o movimento sindical brasileiro, os anos passados foram de insegurança e incertezas econômicas e políticas.

O sindicato combativo, enquanto instrumento de luta frente ao capital, que dá a segurança e ameniza os impactos da exploração e impede a retirada de direitos, é encardo como uma grande ameaça à aplicação de políticas como as previstas nas leis aprovadas nos governos Michel Temer (MDB de 2016 a 2018) e atualmente por Jair Bolsonaro (ex-PSL).

As crises financeiras que aparecem com frequência, servem de munição para os empresários se juntarem para barrar as conquistas da classe trabalhadora, pois no Estado Neoliberal, enfraquecer os trabalhadores (as) e seus sindicatos é parte essencial para a implementação de todos os ataques pretendidos pela classe dominante.

O exemplo mais nefasto desta ruptura está no texto das leis da Reforma Trabalhista (13.467/2017) que alterou a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho -, que aprofunda a exploração da classe trabalhadora e a torna cada vez mais fragilizada na relação de trabalho; da Terceirização Irrestrita (13.429/2017); Emenda Constitucional (95/2016), que limita por 20 anos os gastos públicos e a Emenda Constitucional (103/2019) da Reforma da Previdência.

Um obstáculo para o desenvolvimento de um país é a parcela da economia que provém de atividades deliberadamente não declaradas ao poder público, para sonegar impostos ou por serem ilegais, e não melhorias nas condições de trabalho, salários e distribuição de renda, para que todos possam ter uma vida mais digna.

Por: Nailton Francisco de Souza (Porreta), diretor Executivo do SindMotoristas – SP e Secretário Nacional de Comunicação da Nova Central Sindical de Trabalhadores.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Hidroxicloroquina: efeitos colaterais em mais de 500 pacientes no mundo


Apontado pelo Governo Bolsonaro como o principal medicamento para o tratamento do coronavírus, a cloroquina ainda não teve sua eficiência comprovada por estudos científicos. O medicamento é usado para o tratamento da malária e doenças auto-imunes, como a artrite e o lúpus, mas, a partir de estudos preliminares que indicavam que o remédio tinha potencial para combater a covid-19 em laboratório, além de outros estudos realizados com um número reduzido de pacientes, ele foi colocado por várias autoridades como uma cura para a doença.

Na busca de um solução para tentar salvar tantas perdas humanas, órgãos de saúde de vários países autorizaram o uso da cloroquina em caráter emergencial, ainda que sem uma comprovação científica definitiva. Diante disso, a comunidade científica pediu cautela, justificando que ainda era necessário um estudo mais amplo para comprovar se a droga tinha algum efeito contra o novo coronavírus, além de avaliar a dosagem segura.

No Brasil, apesar da pressão do chefe do executivo, o agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich publicou durante a semana em uma rede social que a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais, sua prescrição deve ser feita com base em avaliação médica e que “o paciente deve entender os riscos e assinar o Termo de Consentimento antes de iniciar o uso da cloroquina”.

De acordo com os resultados dos dois maiores estudos já realizados com a cloroquina para o tratamento do coronavírus, o medicamento não trouxe benefícios práticos, como a redução na letalidade ou no tempo de internação. Outro problema são os efeitos colaterais, como a arritmia cardíaca, que levaram a Associação Médica Americana a emitir um comunicado pedindo que o uso da cloroquina fosse limitado a estudos clínicos e dentro de hospitais sob rigoroso controle.

Conforme publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), uma dessas pesquisas analisou dados de 1.438 pacientes infectados pelo coronavírus entre 15 de março e 24 de abril em hospitais de Nova York. O objetivo era saber se havia diferença na taxa de mortalidade entre quatro grupos: os que foram tratados apenas com a hidroxicloroquina (derivado da cloroquina com menor toxicidade); os que receberam o medicamento associada à azitromicina (um antibiótico); os que tomaram apenas a azitromicina; e os que não receberam nenhum medicamento. A conclusão deste estudo é que não houve diferença significativa entre a taxa de letalidade observada entre os quatro grupos.

O outro estudo foi publicado no New England Journal of Medicine (NEJM). Realizado com 1.376 pacientes americanos infectados pelo coronavírus, foi observado o resultado de tratamentos com e sem hidroxicloroquina. Assim, 811 pacientes foram medicados por cerca de cinco dias com a hidroxicloroquina e 565 pacientes não receberam o remédio. A pesquisa foi concluída em 25 de abril, quando os autores indicaram que pacientes com e sem o tratamento apresentavam o mesmo risco de morrer.

Apesar disso, ambos os estudos usaram uma metodologia limitada, sem um controle de classificação dos grupos, sendo necessárias pesquisas complementares para confirmar os resultados. Levantamentos deste tipo estão em andamento em diversos países. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não existe nenhum tratamento comprovado contra o coronavírus

Relatos de efeitos indesejáveis de formas de tratamento da Covid-19 atingem mais de 500 casos, de acordo com a Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Produtos de Saúde (ANSM), incluindo problemas cardíacos atribuídos à hidroxicloroquina. Segundo a agência, sua equivalente na Espanha, a AEMPS, deu conta de seis casos de problemas neuropsiquiátricos em pacientes que usaram, entre eles três suicídios e uma tentativa de suicídio.

Os problemas neuropsiquiátricos apareceram principalmente nos primeiros dias de tratamento, com doses elevadas, inclusive em pacientes sem antecedentes psiquiátricos. A ANSM assinala que já se conhecia o risco de problemas psiquiátricos provocados pela hidroxicloroquina e cloroquina, que poderiam se agravar no contexto da pandemia e do confinamento. Neste sentido, há uma avaliação em andamento em nível europeu.

Ela indica que "o número de casos de efeitos cardíacos indesejáveis em tratamentos com o medicamento administrada sozinha ou associada a outros remédios teve um aumento menos importante do que nas semanas anteriores". A hidroxicloroquina, um derivado da cloroquina, remédio contra a malária, é conhecida por provocar em alguns pacientes anomalias elétricas do funcionamento cardíaco, visíveis por meio de eletrocardiograma, que podem provocar arritmia e até a morte.

"Parece que os pacidentes com Covid-19 são mais frágeis em nível cardiovascular e, em consequência, mais suscetíveis do que outras pessoas de apresentar problemas com remédios que são nocivos ao coração", como a hidroxicloroquina, explicou em abril à AFP o diretor-geral da ANSM, Dominique Martin.

Levando em conta esta risco, a agência sanitária francesa lembrou que, se estes medicamentos forem usados contra a Covid-19, isto tem que acontecer dentro dos testes clínicos em andamento.

Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional

domingo, 17 de maio de 2020

Entrevista explosiva de empresário agrava a situação dos Bolsonaro


Quem deu ordem à Polícia Federal para suspender a operação que em meados de outubro de 2018, entre o primeiro e o segundo turno da eleição, tornaria público o envolvimento da dupla Flávio Bolsonaro-Fabrício Queiroz no caso da apropriação criminosa de parte dos salários pagos a funcionários da Assembleia Legislativa do Rio?

A Polícia Federal só age a mando da Justiça. É ela que autoriza suas operações a pedido do Ministério Público. Justiça e Ministério Público são informados quando a Polícia Federal, por alguma razão técnica, adia uma operação que tinha data marcada. Isso torna mais grave o que foi revelado hoje pela Folha de S. Paulo.

Suplente do senador Flávio Bolsonaro, o empresário Paulo Marinho contou à colunista Mônica Bergamo o que diz ter ouvido de Flávio em reunião na sua casa na quinta-feira dia 13 de dezembro de 2018. Foi na casa de Marinho que o então candidato a presidente Jair Bolsonaro gravou seus programas de propaganda eleitoral.

Uma semana antes do primeiro turno, o ex-coronel Miguel Braga, atual chefe de gabinete de Flávio no Senado, recebeu um telefonema de um delegado da Polícia Federal no Rio dizendo que tinha um assunto do interesse do senador eleito e que por isso queria encontrá-lo. Flávio preferiu mandar Braga ao encontro do delegado.

Braga voou para o Rio. Ali, na companhia de um advogado e de Val Meliga, pessoa da confiança de Flávio e irmã de dois milicianos, rumou para a Praça Mauá onde funciona a Superintendência da Polícia Federal. Do prédio, saiu o delegado que Flávio não diz o nome. Ainda na calçada, avisou a Braga mais ou menos assim:

– Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz, que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro em Brasília.

Aconselhou em seguida: – Eu sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição.

Braga avisou a Flávio, que avisou ao pai, que ordenou que ele demitisse Queiroz do seu gabinete de deputado estadual e disse que faria o mesmo com a filha dele. De fato, os dois foram demitidos no dia 15 de outubro. Bolsonaro elegeu-se presidente no dia 28. A operação da Polícia Federal só foi deflagrada no dia 8 de novembro.

Àquela altura, Sérgio Moro já fora convidado para ministro da Justiça. O convite se deu entre o primeiro e o segundo turno da eleição, intermediado por Paulo Guedes. Pouco antes do primeiro turno, Moro divulgara parte da delação feita por Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e de Dilma, com pesadas acusações contra o PT.

O que há de mais explosivo na entrevista de Marinho à Folha não é o relato da reunião com Flávio. É a revelação de que o ex-ministro Gustavo Bebbiano, demitido do governo por Bolsonaro, deixou um celular com mensagens em áudio e vídeo trocadas por ele com o presidente durante mais de um ano. Está guardado nos Estados Unidos.

O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que Bolsonaro ameaçou intervir na Polícia Federal, virou uma bombinha se comparado com o celular de Bebbiano – esse, nitroglicerina pura. A história contada por Marinho ajuda a explicar por que Bolsonaro quer há tanto tempo a Polícia Federal sob seu controle direto.

Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/noblat

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Exames de Covid-19 de Bolsonaro entregues ao STF podem ser falsos


Hackers invadiram o sistema eletrônico do Hospital das Forças Armadas e divulgaram quatro exames que alegam ser do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL). Os resultados clínicos datam de junho de 2019 a janeiro de 2020, antes dele ter feito testes para saber se tinha coronavírus. Os resultados dos exames de covid-19 entregues pelo governo ao Supremo Tribunal Federal (STF), podem ser falsos e deram negativo para a doença.

O grupo se autointitula Digital Space e divulgou os exames no Twitter na quinta-feira (14/05). Posteriormente, a conta do grupo foi suspensa pela rede social. O Exército confirmou ao jornal Estado de São Paulo que teve o sistema invadido, mas não respondeu sobre as veracidades dos exames vazados.

De acordo com o grupo, não foram encontrados os resultados de covid-19 feitos por Bolsonaro . Os hackers afirmaram que buscaram pelo nome do presidente e pelos codinomes que a Advocacia Geral da União (AGU) entregou a pedido do STF, mas não encontraram nenhum registro.

Bolsonaro realizou exames nos dias 12 e 18 de março, após retornar de viagem aos Estados Unidos, mas não divulgou os resultados. Ao menos 23 pessoas que o acompanharam foram diagnosticados com a covid-19, incluindo auxiliares próximos, como o secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.

Ao se recusar a divulgar os resultados, a exemplo do que fizeram outros líderes do mundo, Bolsonaro levantou dúvidas. O interesse em torno do resultado dos exames aumentou ainda mais depois que o presidente começou a participar de aglomerações. Em entrevista à Rádio Guaíba em 30 de abril, ele disse que “talvez” tenha contraído o coronavírus.

Inicialmente, a requisição pelo jornal Estado de São Paulo foi feita à Justiça de São Paulo, que deferiu o pedido. Posteriormente, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região confirmou a decisão da primeira instância. Bolsonaro então recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e o presidente da Corte, João Otávio de Noronha, deu decisão contrária e desobrigou o presidente da entrega dos exames. O jornal decidiu, então, acionar a mais alta Corte do país em busca de um desfecho definitivo para o imbróglio judicial.

Fonte: https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/hackers

quinta-feira, 14 de maio de 2020

O que era a 'Liga Anti-Máscara', que protestava contra restrições na gripe espanhola


Na São Francisco de 1919, no auge da pandemia de gripe que se espalhava pelo mundo, alguns moradores, cansados após meses de restrições, resolveram criar um movimento batizado de Liga Anti-Máscara. Desconfiados da eficácia do uso de máscaras para frear o avanço da doença, eles acusavam as autoridades de violar seus direitos constitucionais e pediam a volta à normalidade. Em um encontro realizado em 25 de janeiro daquele ano, chegaram a reunir mais de 2 mil pessoas.

Realizado há mais de cem anos, o protesto lembra as manifestações recentes em alguns estados americanos - e também em partes do Brasil e de outros países - contra as regras de distanciamento social, o fechamento do comércio e outras medidas impostas para conter a atual pandemia de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

Nos Estados Unidos, o uso de máscaras em espaços públicos para reduzir o risco de contágio pelo coronavírus é recomendado por especialistas médicos, incentivado pelo governo federal e obrigatório em alguns Estados e cidades.

Mas as medidas vêm gerando resistência, protestos e até episódios de violência. Na semana passada, um segurança de uma loja em Flint, no estado de Michigan, foi morto a tiros depois de impedir que uma criança entrasse no local sem máscara. Em Stillwater (Oklahoma), ameaças levaram as autoridades a revogar a exigência do uso de máscaras em estabelecimentos comerciais.

Semelhanças e diferenças

Assim como os manifestantes de agora, os integrantes da Liga Anti-Máscara eram contra a exigência por diferentes motivos. "Muitas pessoas (simplesmente) não gostavam de usar as máscaras", diz à BBC News Brasil a historiadora Nancy Bristow, autora do livro American Pandemic: The Lost Worlds of the 1918 Influenza Epidemic ("Pandemia Americana: Os Mundos Perdidos da Epidemia de Gripe de 1918", em tradução livre).

"Mas também havia pessoas que argumentavam que a exigência era uma violação de sua liberdade, intrusão excessiva do governo, coisas que estamos ouvindo novamente hoje", salienta Bristow, que é professora de Universidade de Puget Sound, no Estado de Washington.

Mas apesar da semelhança no discurso, Bristow ressalta que há uma diferença fundamental entre o movimento de 1919 e os protestos atuais: "Eles não tinham os dados e as evidências que temos hoje de que fazer isso (cumprir as medidas de emergência) vai salvar vidas. A diferença é que agora não se pode alegar ignorância".

Demora em reagir

A chamada gripe espanhola, que causou mais de 50 milhões de mortes ao redor do mundo, atingiu os Estados Unidos em três ondas, a partir da primavera de 1918 (outono no Brasil), quando focos foram identificados na Costa Leste, em soldados que haviam lutado na Primeira Guerra Mundial.

Não levou muito tempo para a doença se espalhar pelo país e chegar à Costa Oeste. Em São Francisco, então uma cidade de 500 mil habitantes, o primeiro caso foi confirmado em 24 de setembro de 1918, em um paciente que havia retornado de uma viagem a Chicago.

Mas as autoridades municipais, assim como ocorreu em outras cidades, demoraram a reagir. Inicialmente, determinaram apenas que doentes fossem colocados em quarentena e recomendaram que as pessoas praticassem boa higiene e evitassem multidões.

Somente em 18 de outubro, mais de três semanas depois do primeiro diagnóstico, foi decretado o fechamento de escolas e locais de lazer e proibida a aglomeração de pessoas. A essa altura, São Francisco já registrava mais de 3,7 mil doentes e 70 mortos.

O médico William Hassler, principal autoridade de saúde no governo municipal, considerava o uso de máscaras em público a maneira mais eficaz para impedir o avanço da doença e, em 25 de outubro, determinou sua obrigatoriedade. Quem desobedecesse estava sujeito a multa ou até mesmo prisão.

"São Francisco foi uma das primeiras grandes áreas metropolitanas a exigir que toda a população usasse máscaras", diz à BBC News Brasil o especialista em história da medicina Brian Dolan, professor da Universidade da Califórnia em São Francisco.

Símbolo de patriotismo

Em meio aos esforços nos meses finais da Primeira Guerra Mundial, o uso de máscaras começou a ser considerado símbolo de patriotismo. A imprensa da época estimava que 80% da população de São Francisco estivesse cumprindo a ordem nas semanas iniciais.

Mas centenas foram detidos por desobedecer. Muitos outros usavam de maneira errada. Há relatos até de pessoas usando máscaras com um buraco na boca, para fumar.

As máscaras da época eram feitas de gaze. A Cruz Vermelha fabricava e distribuía em todo o país, mas não havia o suficiente. Com a escassez, as autoridades recomendavam que a população costurasse suas próprias máscaras, com qualquer material disponível. Muitas eram feitas de tecidos porosos, o que prejudicava sua eficácia.

"Também se tornou um tipo de item da moda, assim como está acontecendo agora", observa Dolan.

Ao final de outubro, São Francisco tinha 20 mil pessoas infectada e mais de mil mortos. Mas o número de novos casos vinha diminuindo, e as autoridades decidiram que era hora de começar a levantar as restrições.

A partir de 16 de novembro, menos de um mês depois do início das medidas de emergência, restaurantes, hotéis, cinemas, teatros e arenas de esportes começaram a reabrir, com casa lotada.

O uso de máscaras ainda era obrigatório, mas muitas pessoas passaram a ignorar a determinação. O próprio Hassler e o prefeito, James Rolph, foram fotografados sem máscaras enquanto assistiam a um combate de boxe. Ambos pagaram multa.

Celebração prematura

Ao meio-dia de 21 de novembro, dez dias após o fim da Primeira Guerra Mundial, o som de sirenes ecoou pela cidade, anunciando o fim da obrigatoriedade. Em comemoração, multidões arrancaram suas máscaras e as jogaram no chão, cobrindo ruas e calçadas com o que um jornal da época descreveu como "vestígios de um mês tortuoso".

Mas a celebração logo se revelou prematura, e o número de casos da doença voltou a crescer. Duas semanas depois, o prefeito pediu que a população voltasse a usar máscaras em público, desta vez de maneira voluntária.

"Eles levantaram as restrições e, então, sofreram uma nova onda da pandemia. E em vez de reiterar as regras de distanciamento social, o que teria sido a decisão lógica, apenas se concentraram no uso de máscaras e na quarentena dos doentes, pensando que poderiam controlar a doença com essas medidas", diz Bristow.

Mas, sem obrigatoriedade ou risco de punição, a maioria da população ignorou a recomendação. Calcula-se que apenas 10% voltaram a aderir à medida. Com o número de doentes crescendo, em 17 de janeiro de 1919 as autoridades tornaram o uso de máscaras obrigatório novamente.

Resistência

Desta vez, porém, a exigência foi recebida com resistência. Comerciantes eram contra, temendo que a regra tivesse impacto negativo nas vendas. Muitos também questionavam a eficácia das máscaras para conter a pandemia.

Dolan lembra que, na época, a Associação Americana de Saúde Pública havia publicado um artigo em uma revista científica no qual dizia que as evidências sobre a eficácia das máscaras eram contraditórias.

"O desafio era que as pessoas diziam que, mesmo com as máscaras, não se estava evitando a propagação da doença", observa o historiador.

Foi nesse contexto que surgiu a Liga Anti-Máscara, formada por empresários, comerciantes e até alguns médicos e um integrante do governo, para pressionar pelo fim da obrigatoriedade que, segundo eles, ia "contra a vontade da maioria da população".

Na verdade, as mais de 2 mil pessoas presentes do encontro realizado pelo movimento representavam menos de 1% da população da cidade na época, mas muitos de seus membros eram influentes.

Alguns queriam assinaturas para um abaixo-assinado pelo fim da obrigatoriedade. Outros defendiam medidas mais drásticas, como a demissão de Hassler. O próprio encontro, com milhares de pessoas sem máscaras, pode ter ajudado a propagar a doença.

O prefeito inicialmente resistiu à pressão, afirmando que as posições do movimento não representavam o desejo da maioria dos moradores. Mas em 1º de fevereiro, uma semana após o encontro da liga, a exigência do uso de máscaras foi revogada.

Exemplo

Segundo historiadores, apesar de outras cidades americanas também terem registrado episódios de resistência à obrigação de usar máscaras, nenhuma teve um movimento tão organizado quanto o da Liga Anti-Máscara.

Bristow afirma que é difícil saber o impacto que o uso de máscaras teve no controle da doença em São Francisco. Mas ela e outros historiadores afirmam que a devastação provocada pela gripe espanhola na cidade mostra as consequências graves de levantar as restrições antes que a pandemia tenha sido controlada.

Apesar de inúmeras declarações das autoridades de que São Francisco havia vencido a gripe espanhola rapidamente, quando os números gerais do país foram compilados pelo governo federal, ficou claro que a doença teve efeito devastador.

A cidade registrou um total de 45 mil infectados e mais de 3 mil mortos, uma das mais altas taxas per capita nos Estados Unidos. No país inteiro, a gripe espanhola deixou 675 mil mortos.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional