"Os nazistas mantinham
os judeus em fome constante. Assim, os judeus se ocupavam apenas de uma única
tarefa durante o dia todo: procurar alimento, sobreviver, matar a fome imediata
e urgente. Não tinham tempo e nem energia para organizar conspirações,
rebeliões e planos de fuga. A vida se resumia a uma luta individualista, egoísta
e solitária pela mera subsistência.
De modo análogo, a maioria
dos brasileiros se ocupa apenas da sobrevivência e da dura conquista do básico:
moradia, comida, escola e saúde. E mesmo os poucos que conseguem manter esse
básico (especialmente a classe média) não têm tempo para se preocupar com mais
nada: acordam muito cedo, trabalham mais de 8 horas, retornam exaustos,
assistem o Jornal Nacional e vão dormir para reiniciar a labuta no dia
seguinte. A vida se resume a uma luta individualista, egoísta e solitária pela
manutenção do básico.
E as TVs, os jornais e
revistas reforçam e martelam diariamente essa ideologia do individualismo e do
trabalho maquinal: pense apenas em você; invista apenas em você; é cada um por
si; não reclame, trabalhe; não seja vagabundo, trabalhe até o fim da vida;
sempre foi e sempre será assim; com esforço você conseguirá vencer; a
meritocracia fará você vencer; os sindicatos não servem pra nada; a política não
presta; o coletivismo é um sonho; o socialismo morreu; os empresários vão melhorar
sua vida; o capitalismo selvagem e sem grilhões é o futuro.
E tudo isso é mostrado ao
público através de um lustro acadêmico e profissional. A propaganda é tão
intensa e tão bem feita que poucos conseguem perceber a grande farsa que existe
por trás dessa forma de pensar.
Diante desse cenário, a
grande maioria dos brasileiros pouco se importa se o país está passando por um
golpe de estado, se os direitos humanos já foram pro vinagre, se não existe mais
democracia, se a constituição foi rasgada, se existe prisão política, se haverá
uma ditadura militar, se os pobres da cracolância estão sendo tratados como
lixo.
Para quem a sobrevivência é
a única preocupação, essas questões parecem supérfluas, um luxo desnecessário
que só se justifica em países ricos. Tudo isso se apresenta como uma névoa de
acontecimentos, um falatório confuso, um ruído de fundo na vida cinzenta e
maquinal dos trabalhadores (as).
Querer que essa multidão de
autômatos se levante para lutar pela democracia é ser totalmente irrealista,
romântico e ingênuo. A grande massa de trabalhadores (as) sem sindicatos,
desorganizados e desinformados, apenas perceberão que algo mudou no país quando
forem terceirizados, quando não mais tiverem direito a férias e décimo
terceiro, quando a carga de trabalho aumentar e o salário diminuir, quando
descobrirem que não irá mais se aposentar.
A grande massa de trabalhadores
(as) não aprende pela informação (pois a única informação que possui vem de
seus algozes), aprende pela prática do dia-a-dia. Quando a grande massa de
trabalhadores (as) descobrirem que tudo mudou, já será tarde demais para mudar”.
Texto:
Professora Alessandra Vieira
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