Historiadores, sociólogos,
intelectuais, acadêmicos tremei. Chegamos ao século XXI sob um novo e
inquietante conceito de política. Bem diferente daquilo que o filósofo italiano
Antônio Gramsci dizia, em meados de 1919, conclamando os cidadãos a se tornarem
atores políticos: “Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência.
Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo. Organizai-vos,
porque precisamos de toda vossa força.”.
Nos últimos anos, pelo que
dizem os teóricos e os pensadores liberais, surgiram os novos conceitos,
modificando o formato e a prática da política. E todos os povos e nações
estariam sujeitos, submissos até, a essas novas práticas. Trabalhar e lutar
para mudar o mundo, construir uma nova sociedade? Esqueçam.
O indivíduo –
guardemos este nome – tornou-se o centro de tudo. Foi decretado o fim da
estrutura social. E do processo civilizatório. É cada um por si.
Fica também extinta, para
sempre, a solidariedade entre os homens. Nada temos a ver com nossos
semelhantes. O socialismo ou as diversas doutrinas igualitárias de inclusão
social tornaram-se obsoletos.
Vale agora o meu conforto,
meu bem-estar. No limite, a felicidade das pessoas que me estão próximas.
Parentes e afins. Seremos, todos “microempresários individuais”/MEI. Esta, a
simpática sigla.
“A FORÇA DO HOMEM
COLETIVO” de Auden? Apenas uma imagem poética. Fica abolido qualquer
resquício de solidariedade e compaixão pelos nossos semelhantes.
Vale agora o que os
modernos marqueteiros denominam “utopia das pequenas causas”. Os sonhos
individuais. Estes valores induzem o comportamento político-eleitoral dos
indivíduos.
Em
resumo, eis o formato da Nova
Política:
Constituem as mudanças
comportamentais necessárias para dar o suporte à insustentável ideologia
neoliberal. Para aqueles que fazem correlações com o livro “1984” de
Orwell, assegura-se que a comparação é pertinente.
Talvez esteja ocorrendo o
retorno do que os antigos chamavam “realpolitik”. Ou, algo bem pior. Coisa de
dar medo. Um sistema incompatível com a Democracia.
Receita
da manipulação – construindo a ingenuidade política
Como se faz a manipulação da
consciência e do comportamento dos indivíduos? Como se alimenta e controla o “rebanho
desorientado”, como o denominava Walter Lippmann?
Trata-se de uma história
antiga. A qual remonta às primeiras décadas do século XX. Época em que a
Propaganda ganhava contornos definidos. E cabia a esta nova “ciência” ensinar a
população a fazer as escolhas certas ao ir às compras, adquirir as melhores
ofertas. As essenciais e as supérfluas.
Logo se percebeu que a
Propaganda, que se mostrava tão eficiente para vender mercadorias, poderia ser
também muito útil no campo da manipulação política.
Sociedades cultas,
desenvolvidas, quando submetidas aos efeitos sutis da propaganda e da
manipulação, sucumbiam facilmente ao seu conteúdo ideológico. Por mais
estranhos que fossem.
A Elite descobriu que era
possível induzir a população a se comportar de acordo com os seus interesses
ocultos, facilmente assimiláveis pelo “rebanho desorientado”.
Foi assim, por exemplo, nos
Estados Unidos e na Alemanha na primeira metade do século XX. Chomsky demonstrou
que a participação dos Estados Unidos na I Guerra Mundial foi resultado de uma
grosseira manipulação midiática.
E sentencia definitivo: “
...a propaganda política patrocinada pelo Estado, quando aprovada pelas
classes instruídas, e quando não existe espaço para contestá-la, pode ter
consequências importantes. Foi uma lição aprendida por Hitler e por muitos
outros e que vem sendo adotada até os dias de hoje. ”
A assimilação do
Nazismo pelo povo alemão tornou-se possível graças à eficiência dos órgãos de
comunicação do regime hitlerista, sob a chefia de Joseph Goebbels.
Eles
aprenderam a lição
O Marketing e a Propaganda
foram assimilados pela política contemporânea. Ou vice-versa. Tornaram-se
irmãos siameses.
Por toda a segunda metade do
século XX, os embates da Guerra Fria tiveram o suporte de uma “comunicação/propaganda”
eficiente, sem nenhum escrúpulo, com o objetivo de manipular as formas de
sentir e o comportamento social e individual de pessoas e instituições.
Assim, foi criado o “perigo
vermelho”. E confirmado: os comunistas comiam criancinhas.
O
caso brasileiro
O que está sendo aplicado no
Brasil em anos recentes nada mais é que o requinte do uso indiscriminado desses
métodos. Aplicados em diversos cenários. E de eficácia comprovada.
É preciso enfatizar que a
ingenuidade política não é “coisa de brasileiros”. É construída por
pelos marqueteiros políticos. Com jurisdição no mundo inteiro. Mas há no Brasil
um tema que se presta muito bem à manipulação política: A CORRUPÇÃO.
Utilizada há décadas ,como
mísseis certeiros, para derrubar governos trabalhistas e populares. E também
para eleger candidatos presidenciais, capazes de varrer a corrupção, num passe
de mágica.
A linha do tempo mostra os
presidentes depostos: Getúlio Vargas em 1954; João Goulart em 1964; Dilma
Rousssef em 2016.
Candidaturas presidenciais:
Jânio Quadros em 1960; Fernando Collor em 1989. O “Homem da Vassoura” e o
“Caçador de Marajás”. São momentos de grave instabilidade política no país, que
funcionam como períodos históricos, a suscitar profundas reflexões.
Se paga o alto custo
da quebra da normalidade institucional, para obter, quando muito, um mínimo de
avanços no seu desenvolvimento econômico. E nenhum ganho da propalada “moralização
política”.
E para surpresa dos
moralistas de plantão, foram tão longe as ações penais e coercitivas contra os
corruptos atuais – aqueles que são condenados sem evidências criminais e que
não precisam de provas nos autos, bastam as convicções de alguns juízes - que
acabou por serem criadas, com toda carga de cinismo, dois tipos de corrupção: A
do MAL, praticada pelo Partido dos Trabalhadores e a do BEM, pelos partidos que
fazem o jogo da Elite.
O objetivo: fazer a Elite
brasileira retomar o Poder. E adotar, com pressa obscena, as regras
fundamentalistas neoliberais. A Globalização levada ao paroxismo. Desde que o
Neoliberalismo é filho dileto da Globalização.
Para os que perguntam,
honestamente, como foi possível ao país chegar a tal situação, vivenciando uma
das suas maiores crises institucionais, a resposta é simples. E ao mesmo tempo
complexa.
Simplesmente foi posta em
prática no país uma operação de tomada do Poder.Com métodos bem diverso dos que
vinham sendo aplicados habitualmente.
De forma total – ou
totalitária. Tramada externamente. Com execução local. Cidadãos brasileiros
exercendo, sem nenhum pudor, o papel de agentes de ocupação externa. Aplicando
em seu próprio país teorias abstrusas. Historicamente equivocadas.
A manipulação e a propaganda
política fazendo a classe média brasileira defender conceitos
político-ideológicos indefensáveis. Vestidos de amarelo. E batendo panelas. Manipulados
por profissionais da Comunicação, a tropa de choque tomou de assalto o Poder
Executivo, e rapidamente passou a aplicar tais conceitos.
Os brasileiros assistiram
perplexos e silentes, um teatro político grotesco, com o primeiro ato ocorrendo
num domingo, na Câmara Federal. Nesta inesquecível tarde de domingo, 17 de
abril de 2016, foi encenado um dos espetáculos mais grotescos da vida política
brasileira.
Um soturno prenúncio do que
estaria reservado ao futuro próximo do país. Como dizem os pessimistas, “o pior
sempre pode acontecer. ” Políticos de segundo time assumiram o controle do
Poder Executivo, passando a encenar uma peça macabra. Comandados por estranhos
atores, parecendo originários de filmes de terror.
Qual o futuro desse novo
regime, arauto da NOVA POLÍTICA? Somente o tempo, o Senhor da Razão, dirá.
Fonte: http://www.brasil247.com/pt/colunistas/genibertopaivacampos
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