Na terça (11/09) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou carta
na qual oficializou a sua substituição na chapa do PT à Presidência por
Fernando Haddad. Na mensagem, lida durante ato em frente à sede da Polícia
Federal, em Curitiba, Lula deu seu recado mais explícito ao afilhado político,
pedindo diretamente votos para a ele, escolhido como seu representante daqui
para frente.
Carta de Lula ao Povo
Brasileiro
Meus amigos e minhas amigas, vocês já devem saber que os tribunais
proibiram minha candidatura a presidente da República. Na verdade, proibiram o
povo brasileiro de votar livremente para mudar a triste realidade do país. Nunca
aceitei a injustiça nem vou aceitar. Há mais de 40 anos ando junto com o povo,
defendendo a igualdade e a transformação do Brasil num país melhor e mais
justo.
E foi andando pelo nosso país que vi de perto o sofrimento queimando na
alma e a esperança brilhando de novo nos olhos da nossa gente. Vi a indignação
com as coisas muito erradas que estão acontecendo e a vontade de melhorar de
vida outra vez. Foi para corrigir tantos erros e renovar a esperança no futuro
que decidi ser candidato a presidente. E apesar das mentiras e da perseguição,
o povo nos abraçou nas ruas e nos levou à liderança disparada em todas as
pesquisas.
Há mais de cinco meses estou preso injustamente. Não cometi nenhum crime
e fui condenado pela imprensa muito antes de ser julgado. Continuo desafiando
os procuradores da Lava Jato, o juiz Sergio Moro e o TRF-4 a apresentarem uma
única prova contra mim, pois não se pode condenar ninguém por crimes que não
praticou, por dinheiro que não desviou, por atos indeterminados.
Minha condenação é uma farsa judicial, uma vingança política, sempre
usando medidas de exceção contra mim. Eles não querem prender e interditar
apenas o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Querem prender e interditar o
projeto de Brasil que a maioria aprovou em quatro eleições consecutivas, e que
só foi interrompido por um golpe contra uma presidenta legitimamente eleita,
que não cometeu crime de responsabilidade, jogando o país no caos.
Vocês me conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar. Perdi minha
companheira Marisa, amargurada com tudo o que aconteceu a nossa família, mas
não desisti, até em homenagem a sua memória. Enfrentei as acusações com base na
lei e no direito. Denunciei as mentiras e os abusos de autoridade em todos os
tribunais, inclusive no Comitê de Direitos Humanos da ONU, que reconheceu meu
direito de ser candidato.
A comunidade jurídica, dentro e fora do país, indignou-se com as
aberrações cometidas por Sergio Moro e pelo Tribunal de Porto Alegre.
Lideranças de todo o mundo denunciaram o atentado à democracia em que meu
processo se transformou. A imprensa internacional mostrou ao mundo o que a
Globo tentou esconder.
E mesmo assim os tribunais brasileiros me negaram o direito que é
garantido pela Constituição a qualquer cidadão, desde que não se chame Luiz
Inácio Lula da Silva. Negaram a decisão da ONU, desrespeitando do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos que o Brasil assinou
soberanamente.
Por ação, omissão e protelação, o Judiciário brasileiro privou o país de
um processo eleitoral com a presença de todas as forças políticas. Cassaram o
direito do povo de votar livremente. Agora querem me proibir de falar ao povo e
até de aparecer na televisão. Censuram-me, como na época da ditadura.
Talvez nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as
pesquisas de intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se aceitasse
abrir mão da minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha dignidade pela
minha liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo brasileiro.
Fui incluído artificialmente na Lei da Ficha Limpa para ser
arbitrariamente arrancado da disputa eleitoral, mas não deixarei que façam
disto pretexto para aprisionar o futuro do Brasil.
É diante dessas circunstâncias que tenho de tomar uma decisão, no prazo
que foi imposto de forma arbitrária. Estou indicando ao PT e à Coligação “O
Povo Feliz de Novo” a substituição da minha candidatura pela do companheiro
Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a
posição de candidato a vice-presidente.
Fernando Haddad, ministro da Educação em meu governo, foi responsável por
uma das mais importantes transformações em nosso país. Juntos, abrimos as
portas da Universidade para quase 4 milhões de alunos de escolas públicas,
negros, indígenas, filhos de trabalhadores que nunca tiveram antes esta
oportunidade. Juntos criamos o Prouni, o novo Fies, as cotas, o Fundeb, o Enem,
o Plano Nacional de Educação, o Pronatec e fizemos quatro vezes mais escolas
técnicas do que fizeram antes em cem anos. Criamos o futuro.
Haddad é o coordenador do nosso Plano de Governo para tirar o país da
crise, recebendo contribuições de milhares de pessoas e discutindo cada ponto
comigo. Ele será meu representante nessa batalha para retomarmos o rumo do
desenvolvimento e da justiça social.
Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País, estão
muito enganados. Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o
nosso nome agora é Haddad.
Ao lado dele, como candidata a vice-presidente, teremos a companheira
Manuela D’Ávila, confirmando nossa aliança histórica com o PC do B, e que
também conta com outras forças, como o PROS, setores do PSB, lideranças de
outros partidos e, principalmente, com os movimentos sociais, trabalhadores da
cidade e do campo, expoentes das forças democráticas e populares.
A nossa lealdade, minha, do Haddad e da Manuela, é com o povo em primeiro
lugar. É com os sonhos de quem quer viver outra vez num país em que todos
tenham comida na mesa, em que haja emprego, salário digno e proteção da lei
para quem trabalha; em que as crianças tenham escola e os jovens tenham futuro;
em que as famílias possam comprar o carro, a casa e continuar sonhando e
realizando cada vez mais. Um país em que todos tenham oportunidades e ninguém
tenha privilégios.
Eu sei que um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida
minha inocência. E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo
do povo e da esperança. Nós todos estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil
feliz de novo.
Quero agradecer a solidariedade dos que me enviam mensagens e cartas,
fazem orações e atos públicos pela minha liberdade, que protestam no mundo
inteiro contra a perseguição e pela democracia, e especialmente aos que me
acompanham diariamente na vigília em frente ao lugar onde estou.
... Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum
opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo
mundo pela voz do povo, mais alta e mais forte que as mentiras da Globo. Por
isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no
companheiro Fernando Haddad para Presidente da República.
E peço que votem nos nossos candidatos a governador, deputado e senador
para construirmos um país mais democrático, com soberania, sem a privatização
das empresas públicas, com mais justiça social, mais educação, cultura, ciência
e tecnologia, com mais segurança, moradia e saúde, com mais emprego, salário
digno e reforma agrária.
Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será
Lula para milhões de brasileiros. Até breve, meus amigos e minhas amigas. Até a
vitória! Um abraço do companheiro de sempre.
Luiz Inácio Lula da
Silva
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