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terça-feira, 25 de setembro de 2018

As expectativas do autoritarismo nas eleições de 2018


Estamos há cerca de quinze dias das eleições gerais no Brasil e muitas das tensões oriundas das disputas políticas têm se aflorado na multiplicidade de cotidianos em que todos estamos inseridos, quando questões consideradas sensíveis acabam sendo objeto de longas discussões. Duas das explicações possíveis para tal envolvimento decorrem do fato do país está enfrentando um grave problema com o desemprego, amargando um baixo grau de investimento por parte dos governos federal, estaduais e municipais, além do teor virulento que a atmosfera política brasileira tem vivido pelo menos desde 2013.

Isto tem feito com que o eleitorado que sabe que a escolha do novo Presidente vai influenciar diretamente a sua vida para os próximos anos, passasse a cair de cabeça no assunto, refletindo o alto grau de politização da população em geral. Diferentemente do que se supunha não tem havido a recusa do eleitorado em participar das eleições, o que temos percebido, ao contrário, é a forte adesão deste eleitorado ao pleito.

As pessoas não têm titubeado quanto a sua adesão ao processo eleitoral, apesar de termos indecisos, esta indecisão não é sobre votar e sim, em quem votar. Assim, muitos têm participado e discutido com afinco as propostas e os temas concernentes aos seus e as suas possíveis candidatas. Pelo resultados das últimas pesquisas de opinião, três candidatos à Presidência da República tem a preferência do eleitorado.

Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), esse quadro se configurou deste modo após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por 6 votos a 1, em favor do afastamento do ex-presidente Lula da disputa, o que acabou consolidando um dos sentidos do golpe de 2016, uma vez que o candidato que possuía o maior percentual de intenções de voto e que de acordo com as pesquisas anteriores possuía chances de levar o pleito já no primeiro turno, teve seu direito cassado pelo partido da toga, como caracterizou Lincoln Secco.

Com o cenário que tem se desenhado nestas últimas semanas, Marina Silva derreteu mais uma vez, Geraldo Alckmin não passará de 10 por cento dos votos e a tendência é encolher ainda mais a importância do PSDB na política brasileira, fazendo do Estado de São Paulo o último reduto do partido antes da derrocada. Ter sido uma das bases de sustentação do golpe de 2016 e ter embarcado no (des)governo comandado por Michel Temer será o prelúdio dos tucanos no âmbito nacional e por isso, a suposta polarização entre PT e PSDB que marcou as últimas cinco eleições do país ao Executivo federal não se repetirá.

Nos parece que o último grande projeto associado aos tucanos que foi apresentado à nação, Uma ponte para o futuro, foi reprovado pela população e pelo conjunto do empresariado produtivo do país, por isso, o resultado que virá depois de 7 de outubro refletirá na ampliação do fisiologismo do partido. Quando juntamente com o (P)MDB os tucanos escreveram a várias mãos o projeto de governo de Michel Temer, a  tal ponte para o futuro, que Fernando Henrique Cardoso reconheceu como uma pinguela, mas que de acordo como o ex-presidente tucano, seria o caminho mais adequado a ser percorrido, o PSDB talvez tenha feito roleta russa com o tambor carregado.

Expressão distinta tem tido o Partido dos Trabalhadores que mesmo sofrendo ataques semanais de analistas políticos de plantão nas redações e estúdios dos grandes jornais e emissoras de rádios e televisão hegemônica, além da forte persecução de membros do judiciário brasileiro, o partido da toga, que a despeito de realizar o trabalho dentro dos marcos do republicanismo democrático, decidiu partidarizar a justiça e abrir questionamentos e dúvidas quanto à lisura dessas instâncias, o PT vem conseguindo manter-se como uma opção viável para resolver os graves problemas que o país vem enfrentando,  fossem os setores do judiciário e da mídia hegemônica menos passionais e comprometidos com as elites tradicionais, talvez o PT estivesse definitivamente enfraquecido nesta quase véspera de eleições.

No entanto, o que nos parece é que o Partido dos Trabalhadores foi capaz de construir um capital político sólido em função das grandes transformações que promoveu de norte a sul do país, mudando definitivamente a vida de milhares de pessoas pelo Brasil a fora, portanto, é da vida real das pessoas que estou me referindo, foi a segurança alimentar, o acesso a educação pública gratuita e de qualidade; os concursos públicos, o emprego, a incorporação das pautas identitárias como políticas públicas e assunto de Estado, que faz com que mesmo sem Lula na disputa, o candidato escolhido pela cúpula do partido, Fernando Haddad, crescesse numa única semana cerca de 10 pontos percentuais na disputa à vaga ao Palácio do Planalto. A construção do pacto social pelo lulismo como mais ou menos delineada no texto de Paul Singer em 1985, criou um protagonismo dos setores populares relativamente recente na história republicana.

A questão é que muito do que se sustentou este pacto social se estruturou na equação entre cidadania mediante ao acesso ao mercado de bens e serviços. Esta formulação seduziu grande parte dos grupos políticos na América Latina a partir dos anos de 1970 e 1980, no entanto, diversamente da social democracia europeia, a latino-americana incorporou desde o seu início a principal novidade econômica do período, notadamente, o neoliberalismo.

O lulismo trouxe em grande medida o elemento constituinte da formação do Partido dos Trabalhadores, o projeto de implementar (A Revolução Brasileira) tal qual contida na teoria social de Caio Prado Jr., criticada por ter sido incapaz de definir se a Revolução seria democrático-burguesa ou socialista, indubitavelmente por isso, durante esses anos o empresariado produtivo brasileiro, o capital especulativo e o agronegócio carreguem em seus balanços financeiros ampliação de suas riquezas.

A forte lembrança dos benefícios e ganhos que estes segmentos tiveram durante o lulismo, faz com que a relativa rejeição por parte destes grupos possa ser inclusive revertida no segundo turno das eleições, à vista disso, Haddad vem se aproximando do economista liberal, vinculado ao mercado e da redução do papel social do Estado, Marcos Lisboa.

Portanto, fazendo um exercício de síntese sobre a conjuntura atual, temos: o crescimento de Haddad em função do capital político do PT, o tipo de pacto social costurado pelo lulismo e a lembrança sobretudo dos governos petistas até 2013; já liderança nas pesquisas de opinião pelo postulante Jair Bolsonaro é resultado da suposta novidade que o candidato oferece para a resolução das principais questões brasileiras; o crescimento do pensamento conservador dos últimos anos e o papel de uma nova direita mais virulenta e contraditoriamente defensora da antipolítica; finalmente,  Ciro Gomes como um nome viável em função de um contraponto na mesma intensidade à figura de Bolsonaro, além da sua inteligência cativante e de seu entendimento de economia, que tem sido o grande fiador da política brasileira da Nova República.

Creditando o grau de confiabilidade que as pesquisas de opinião reputam, os três grandes nomes para a disputa do segundo turno das eleições no dia 28 de outubro, serão, como dito acima, dois desses três nomes, já que ela não será resolvida no primeiro turno com seria caso o nome do ex-presidente Lula estivesse na urna.

Quem estará no segundo turno me parece ser a grande questão, porque se até pouco tempo o PT liderava as pesquisas com Lula, a rejeição de sua candidatura pelo TSE praticamente jogou nos braços de Bolsonaro a liderança do pleito, portanto, o que configura é que o candidato tem seu lugar assegurado para a votação do dia 28 de outubro embora não devemos desprezar um arranjo sem Bolsonaro.

Quanto a Ciro Gomes e Fernando Haddad, que por sua vez está em tendência de ascensão enquanto Ciro em estagnação, é que repousa a maior incerteza. Tenho observado algumas angústias expressadas por segmentos do eleitorado que se opõem à candidatura de Jair Bolsonaro e grande parte desta angústia deve-se ao fato de que se acreditava que os articuladores do golpe de 2016 deixariam o trabalho inconcluso, ou seja, não agiriam no grande acordo nacional para impedir a candidatura de Lula.

A confiança de que o ex-presidente Lula estaria na disputa e venceria facilmente Bolsonaro criou algum alento para setores do eleitorado. Com o resultado do TSE, o cálculo passou a ser pelo chamado voto útil em um candidato que pudesse enfrentar o Messias. Tudo parecia mais ou menos resolvido até a tendência de ascensão de crescimento de Fernando Haddad, uma vez que antes dela Ciro Gomes aparecia em segundo nas intenções de voto, portanto, seria o candidato a enfrentar Bolsonaro no segundo turno e levaria consigo o apoio do PT e outros partidos do campo progressista.

E porque Ciro a princípio pareceu está seguro para o segundo turno? Talvez por ser aquele que aparecia bem nas pesquisas e como tendo a chance real de ir para o segundo turno seu nome passou a cair no gosto do eleitorado, seu projeto nacional parece que atraiu interesse de eleitores vinculados ao campo progressista também, mas sem dúvida nenhuma até aquele momento eram as pesquisas de opinião que acabava legitimando a escolha, como se tais pesquisas fossem quase o resultado antecipado das eleições, numa formulação parecida como: não precisa ir votar as pesquisas já decidiram.

Por: http://justificando.cartacapital.com.br

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