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domingo, 1 de março de 2020

Papa Francisco propõe um sistema econômico mais justo e sustentável


Mais de 2 mil jovens de 120 países confirmaram até agora a participação no encontro Economia de Francisco, de 26 a 28 de março de 2020 na cidade de Assis, Itália. Convocada pelo papa e estruturada com o auxílio do economista americano Joseph Stiglitz, a iniciativa conta com apoio do indiano Amartya Sen, ambos vencedores do Prêmio Nobel.

A reunião pretende repensar, debater e buscar novos rumos para a economia mundial, hoje dedicada de modo quase exclusivo aos interesses de maximização dos lucros de empresas e de poucos indivíduos, de modo a direcioná-la para a proteção da maioria e do meio ambiente.

As atividades preparatórias no Brasil incluíram um encontro com cerca de 500 interessados no fim de novembro, na PUC de São Paulo. O País terá 30 representantes vinculados a diferentes experiências. Inovador no conteúdo e no formato, o encontro pretende debater experiências e promover rodas de conversa em substituição às tradicionais exposições de papers e mesas-redondas.

A liderança caberá a jovens de até 35 anos, entre acadêmicos, agentes comunitários e empreendedores. A iniciativa floresceu em maio, quando o papa e Stiglitz comprometeram-se a trabalhar em conjunto para promover globalmente uma “economia social” que “olha para o futuro com a voz dos jovens em mente”. Os dois advertiram sobre os problemas de certas formas de economia de mercado que incentivam o comportamento individualista e invertem papéis.

“É necessário aprofundar as discussões sobre questões sociais e as mudanças geradas pela globalização nas sociedades, bem como pensar em ideias concretas sobre o que devemos fazer para a tecnologia e os mercados servirem à humanidade, e não o contrário”, propôs Stiglitz.

É fundamental, alertou, “trabalhar na educação de sistemas alternativos que não adoram dinheiro. Temos de tentar desenvolver programas e estudos sobre o conceito de economia circular, que contribuam para uma educação que esteja ciente dos limites do meio ambiente e que ensine a devolver ao ambiente o que é retirado dele”.

A convocação feita pelo papa sugere um encontro inédito sobre economia: “Estou escrevendo para convidá-los a uma iniciativa que tanto desejei, um evento que me permita conhecer quem hoje está se formando e está iniciando a estudar e praticar uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã”, conclamou Francisco.

“Na ‘Carta Encíclica Laudato si’”, prossegue o papa, “enfatizei como hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente conectado e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com os pobres e da solução dos problemas estruturais da economia mundial. É necessário, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações”.

Estima-se que a liderança mundial do papa, realizador do Sínodo da Amazônia, em outubro, durante o auge de queimadas na floresta, contribuirá para tornar o evento um marco na crítica à economia dominante. A iniciativa convergirá em torno de três grandes eixos, detalhados durante o evento preparatório na PUC-SP pela professora Patricia Dorneles, vice-coordenadora do curso de graduação em terapia ocupacional da UFRJ.

O primeiro são as linhas gerais e as perspectivas de articulação de outra economia, inclusiva, marcada pela justiça social, ética e humanismo. O segundo eixo é a agregação e valorização das práticas concretas que incluem, no País, “inúmeras experiências de economia solidária, agroecológicas, de bancos de crédito comunitários, criação de novas moedas, atividades de economia criativa, de controle territorial de produção e distribuição”.

O terceiro eixo, prossegue, são as mudanças nos currículos das faculdades de economia no mundo. “Não podemos pensar em outra economia se formarmos economistas a partir de uma concepção única ou absolutamente voltada para a competição e as técnicas, muitas delas antiéticas, que geram sofrimento e privações a grande parte da população. O chamamento do papa é no sentido de os participantes formularem nova orientação curricular para formar economistas humanistas e integradores”, sublinha a professora.


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