O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva falou hoje (3), na Escola de Economia de Paris, sobre a
experiência brasileira de combate à miséria. Lula foi convidado pelo economista
Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século 21. Piketty coordena um
laboratório de estudos sobre a desigualdade no mundo. O encontro, avisou o
economista, deve ser o primeiro ato de uma importante colaboração sobre o
desafio de se reduzir a desigualdade no mundo. “Foi muito interessante. Vamos
tentar ir ao Brasil com nossa equipe para aprofundar esse debate”, disse
Piketty.
Dados do extinto Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) mostram que a proporção de
pobres no Brasil caiu de 23,4% em 2002, para 7% em 2014. Isso significa que
26,3 milhões de pessoas deixaram de viver abaixo da linha de pobreza. Em 12
anos, o número de pobres caiu de 40,5 milhões para 14,2 milhões.
“Quero agradecer a
oportunidade de fazer o debate de uma coisa que me é muito cara”, disse o
ex-presidente no encontro que reuniu, em Paris, pesquisadores da desigualdade
de todo o mundo. “Nós temos que expor a desigualdade como um problema político,
uma questão de dignidade humana. Não haverá diminuição da desigualdade se a
gente não mexer no coração da riqueza”, avaliou.
Elite escravocrata
Durante os governos Lula e
Dilma Rousseff – a ex-presidenta também integra a comitiva na França – foram
retiradas 36 milhões de pessoas da miséria e 42 milhões alçadas à classe média.
Lula destacou o papel da
elite brasileira nessa situação aviltante que voltou a reinar no Brasil após o
golpe de 2016. “É muito difícil
compreender o Brasil se não levar em conta os 350 anos de escravidão. Somos uma
sociedade escravagista, embora a escravidão formalmente tenha sido extinta. Ela
existe na economia brasileira. Existe no patrimonialismo. A elite brasileira
nunca efetivamente se deu conta da necessidade de elevar a qualidade de vida
dos mais pobres”, expôs.
Programas sociais
O ex-presidente fez uma
exposição dos programas sociais que foram a base dos governos petistas com
objetivo de combater a pobreza e reduzir a desigualdade, como o Bolsa Família,
o Luz Para Todos, o ProUni. E lembrou como essas medidas mesmo incentivando a economia,
geraram incômodo em setores da elite brasileira.
“Fazer transferência de
renda foi uma decisão contra tudo e contra todos. Contra os chamados
especialistas. Quando tomamos a decisão de criar o Programa Fome Zero, muita
gente no Brasil escrevia que era melhor investir em estradas, em infraestrutra.
Meu argumento era: o povo não come cimento. O povo come feijão e arroz e é
disso que ele está precisando agora.”
Sobre como reduzir a
desigualdade que se agrava cada vez mais, Lula foi enfático. “Não existe
explicação humanitária para um cidadão ter 100 bilhões de dólares na sua conta
e 100 milhões de pessoas não terem o que comer. Não sei quanto tempo vou viver.
Mas se eu puder quero ajudar a criar indignação com a concentração de renda no
mundo.”
Lula na Europa
Na tarde desta terça-feira,
Lula participou, ainda do Festival Lula Livre, no Teatro du Soleil, em Paris. O
evento, com lotação esgotada há dias, foi promovido por uma série de entidades
internacionais como os comitês Lula Livre.
Lula iniciou seus
compromissos na França no domingo (1º), reunindo-se com políticos como deputado
francês Eric Coquerel e o líder do grupo França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon,
que visitou Lula em Curitiba quando o ex-presidente estava preso na sede da
Polícia Federal.
A agenda do ex-presidente
seguirá por outros países europeus. Em visita a Genebra, no dia 6, Lula se
encontrará com representantes do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), que
congrega mais de 340 igrejas em mais de 120 países. Na pauta, o ex-presidente deve
voltar a falar da desigualdade social, tema central também do encontro com o
Papa Francisco, no Vaticano. Ainda na Suíça, o ex-presidente participa de
encontro com representantes de sindicatos globais.
Já em Berlim, na Alemanha, o
petista se reunirá com lideranças políticas e com representantes do movimento
sindical alemão. No dia 9, participa de encontro em defesa da democracia no
Brasil, em ato público com representantes dos comitês internacionais Lula
Livre.
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