A Bolsa brasileira teve sua
maior queda do século nesta segunda-feira (09/03). O Ibovespa, maior índice
acionário do país, despencou 12,17%, a 86.067 pontos, menor patamar desde 26
dezembro de 2018. Essa é a maior queda diária, em termos percentuais, desde 10
de setembro de 1998, quando a Bolsa caiu 15,8%, em período marcado pela crise
financeira russa.
Nesta sessão, o índice abriu
em forte queda e, às 10h30, as negociações foram interrompidas quando a
desvalorização superou 10%. Esse é o nível para que se acione o chamado circuit
breaker, que leva à suspensão do pregão. É o primeiro circuit breaker desde o
episódio conhecido como Joesley Day, em maio de 2017, e sexto da história. A
suspensão foi de meia hora.
Os mercados financeiros de
todo o mundo vivem nesta sessão a perfeita definição de dia de pânico. O dólar
disparou, apesar da intervenção do BC (Banco Central). O risco-país tem alta
recorde. Os juros futuros sobem.
Desde o pico mais recente,
quando atingiu a máxima histórica de 119.527 pontos, em 23 de janeiro, o índice
cai mais de 27%. A queda apaga todo o ganho do mercado de ações desde o início
do governo de Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019.
O dólar abriu nesta segunda
em forte alta. Na máxima, bateu R$ 4,794, mas teve a disparada parcialmente
contida pela venda à vista de US$ 3 bilhões de reservas pelo BC – o triplo do
inicialmente previsto. O plano, na sexta-feira (06/03), era vender US$ 1
bilhão.
À tarde, o BC fez mais um
leilão à vista, vendendo US$ 465 milhões. Apesar das intervenções, a moeda
fechou em alta de 2%, a R$ 4,727. O turismo está a R$ 4,92 na venda. Em algumas
casas de câmbio, chega a ser vendido acima de R$ 5.
Dentre emergentes, o real
teve a quarta pior queda da sessão, atrás dos pesos colombiano e mexicano e do
rand sul-africano. O BC anunciou novo leilão à vista na terça (9), de US$ 2
bilhões, entre 9h10 e 9h15, logo na abertura das negociações.
O pessimismo sinaliza
principalmente uma piora nas perspectiva de impacto econômico com a
disseminação do coronavírus. A desaceleração da economia global por causa da
doença já é considerada inevitável. Pesam neste início de semana a decisão do
governo da Itália de colocar 16 milhões de pessoas no norte do país em
quarentena, e da guerra de preços do petróleo entre grandes países produtores.
O quadro é de muita aversão
a risco, com investidores em todo o mundo buscando ativos considerados mais
seguros, como ouro, dólar e títulos do Tesouro americano. A busca pelo Tesouro
faz o rendimento destes títulos desabarem. Nesta sessão, os rendimentos dos
títulos do Tesouro americano de dez e de trinta desabaram para suas mínimas
históricas: 0,997% ao ano e 0,543% ao ano.
Economistas agora aguardam
medidas do governo brasileiro para amenizar o impacto da crise. Nesta manhã, o
FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendou aos governos do mundo que sejam
ágeis na adoção de planos para evitar que o coronavírus tenham efeitos
prolongados de retração econômica. Sugeriu medidas como aumento do crédito e
liberação de seguro-desemprego.
O risco-país brasileiro,
medido pelo contrato de CDS (Credit Default Swap) de cinco anos sobe 40%, a
maior alta da história em um dia. O índice retorna ao patamar de dezembro de
2018, aos 200 pontos. Desde a deterioração dos mercados acionários com a epidemia
de coronavírus, em 20 de janeiro, a Bolsa brasileira cai 27,3%. Esse é o
primeiro período de grande turbulência de pequenos investidores, que mais que
dobraram a sua participação na Bolsa.
De 2018 até fevereiro, o
número de CPFs com ações compradas saltou 813 mil para 1,95 milhão. “O
psicológico fica afetado. Investidores inexperientes ficam ainda mais aflitos
porque é primeira vez que enfrentam uma queda acima de 10% e acabam se
desfazendo das ações. Quem não tem uma assessoria, acaba tomando decisões
precipitadas”, afirma Carolina Barros, sócia da Ella's Investimentos, agente
autônomo de investimentos ligada à XP.
Segundo Carolina, os
clientes pessoa física se desfizeram de cerda de metade da sua cesta de ações,
em busca de investimentos mais seguros, com preferência a CDBs de liquidez
diária e Tesouro Selic. A deterioração nos mercados nesta segunda sinaliza
ainda os efeitos negativos da retração no preço do petróleo. O contrato futuro
do barril do tipo Brent chegou a cair mais de 30% nesta sessão e agora é
negociado ao patamar de US$ 34,47, queda de 23,8%. É a menor cotação desde
2016.
“A decisão da Arábia Saudita
pega os mercados de surpresa e adiciona preocupações. Por ora, o impacto nos
mercados está sendo avassalador”, escreveu a corretora Guide em relatório desta
segunda.
As ações da Petrobras, cuja
receita é atrelada ao preço do barril de petróleo, tiveram a maior queda
percentual da história. As preferenciais (mais negociadas) despencaram 29,7%, a
R$ 16,05. As ordinárias (com direito a voto) caíram 31%, a R$ 16,92. Os
patamares são os menores desde agosto de 2018, quando a estatal se recuperava
de perdas decorrentes da paralisação dos caminhoneiros, quando a companhia
adotou programa de subvenção e o preço do diesel caiu.
“A mudança no preço do
petróleo envolve diretamente a rotina operacional não só da Petrobras, mas de
todas as companhias que pautam suas orientações com esse preço de referência”,
diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
No ano, o petróleo cai quase
50%, reflexo da percepção de que a demanda pelo produto será menor com a
redução da atividade econômica global. Uma queda de consumo já é certa:
querosene de aviação, com a redução das viagens causada pelo coronavírus.
O Goldman Sachs apontou que
o óleo pode ficar ao redor de US$ 30 por barril ao longo do segundo e do
terceiro trimestre, sem descartar uma queda para US$ 20.
Já os juros brasileiros
sobem, reflexo do temor de investidores sobre os impactos da doença sobre a
economia brasileira. Na dúvida, a preferência é por cobrar mais para emprestar
ao governo. A curva de juros futuros mostra uma aposta do mercado em Selic a 4%
ao ano, se distanciando dos 3,5%. Hoje, a taxa básica está a 4,25% ao ano.
Uma queda de braço entre a
Arábia Saudita (membro da Opep) e a Rússia, que se recusou a cortar a produção
para fazer frente à queda do preço da matéria-prima já está sendo chamada de
guerra do preço do petróleo, com impactos em escala global.
O Banco do Brasil se disse
confiante na retomada da economia brasileira e que está preparado para atender
clientes em momentos de necessidade e capital de giro.
“É natural que os ânimos do
mercado se exaltem diante de incertezas, mas os fundamentos econômicos de longo
prazo não mudaram, continuam sólidos. O coronavírus e o stress internacional
são pontuais e transitórios. Os mercados tendem a se acomodar após o susto do
inesperado, estamos confiantes na reaceleração da economia e do crédito",
afirma Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil.
No exterior, Bolsas
americanas tiveram o pior pregão desde 2008, ano da crise financeira. S&P
500 caiu 7,6%, Dow Jones, 7,8% e Nasdaq, 7,3%.
Fonte:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado
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