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sexta-feira, 27 de março de 2020

Consórcio Nordeste divulga carta com plano de combate à crise do coronavírus


Carta dos Governadores do Nordeste A favor da vida: Nós, governadores do Nordeste, em videoconferência realizada neste dia 27 de março, assim nos manifestamos:

1) Com bom senso e equilíbrio, vamos continuar orientados pela ciência e pela experiência mundial, para nortear todas as medidas, diariamente avaliadas, nesta guerra travada contra o Coronavírus. Reiteramos que parâmetros científicos indicam as ações preventivas e protetivas, de intensidade gradual e estágios progressivos ou regressivos, adequando-as sempre à realidade de cada região de nossos Estados;

2) Na ausência de efetiva coordenação nacional, que deveria ser assumida pelo Governo Federal, em articulação com os demais entes federativos, buscaremos avançar na integração regional e com as demais regiões, mobilizados pelo objetivo de salvar vidas e amenizar os impactos negativos sobre a economia dos estados. Acreditamos também que o Congresso Nacional tem papel decisivo no atual momento da vida brasileira;

3) Dispostos a fortalecer o embasamento de cada uma das nossas medidas, já construído sobre as bases apresentadas pela OMS, solicitaremos um pronunciamento oficial do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia, além do acompanhamento e orientação do Ministério Público Federal e do Ministério Público dos Estados;

4) Manifestamos nossa profunda indignação com a postura do Governo Federal, que contraria a orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade, como a OMS – que indicam o isolamento social como melhor forma de conter o avanço do Coronavírus -, e promove campanha de comunicação no sentido contrário, estimulando, inclusive, carreatas por todo o país contra a quarentena. Este tipo de iniciativa representa um verdadeiro atentado à vida;

5) De nossa parte, exigimos respeito por parte da Presidência da República, esperando que cessem, imediatamente, as agressões contra os governadores, assumindo-se um posicionamento institucional, com seriedade, sobre medidas preventivas. A omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da saúde pública. Assim agindo, expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica;

6) Enfatizamos que sempre estaremos abertos ao diálogo, neste esforço que precisa ser coletivo, tendo como meta a superação da ameaça representada por esta doença, que continua matando milhares de pessoas. Temos absoluta convicção de que o diálogo, o equilíbrio e a união serão sempre o melhor caminho para revertermos este quadro crítico. Seguimos firmes e vigilantes em defesa da vida das pessoas, inclusive na luta para impedir atos que possam significar riscos à saúde pública.

Assinam esta carta:
Rui Costa
Governador da Bahia

Renan Filho
Governador de Alagoas

Camilo Santana
Governador do Ceará

Flávio Dino
Governador do Maranhão

João Azevedo
Governador da Paraíba

Paulo Câmara
Governador de Pernambuco

Wellington Dias
Governador do Piauí

Fátima Bezerra
Governadora do Rio Grande do Norte

Belivaldo Chagas
Governador de Sergipe

27 de março de 2020

Sem restrição de contágio, mortes por coronavírus podem chegar a 1,15 milhão no Brasil


Sem medidas de isolamento social que reduzam a transmissão do novo coronavírus, o Brasil pode ter até 1,15 milhão de mortes provocadas pela doença, chamada de Covid-19.

Os cálculos foram feitos por uma equipe de 30 cientistas do Imperial College de Londres, e divulgados nesta quinta (26). A equipe britânica que fez o primeiro-ministro Boris Johnson abandonar abordagem mais leve

Os especialistas em doenças transmissíveis calcularam o número de infectados, pacientes graves e mortos em cinco cenários.

Nenhuma intervenção
Cenário em que a vida segue normalmente. Dessa maneira, o coronavírus contagiará 188 milhões de brasileiros, dos quais 6,2 milhões terão que ser hospitalizados e 1,5 milhão precisarão ser internados em UTI. Neste caso, o número de mortes estimado é de 1.152.283.

Distanciamento social
No caso de adoção de medidas como proibição de eventos, redução na circulação, restrição a encontros, uma estratégia mais branda e operacionalmente mais viável que as duas seguintes, o número de mortes chega a 627 mil brasileiros, nos cálculos do Imperial College.

São infectados 122 milhões de brasileiros, dos quais 3,5 precisarão de hospitalização e 831 mil terão que ocupar uma UTI.

Com distanciamento social e isolamento dos idosos
Protegendo os idosos, parcela da população mais suscetível a complicações e mortes provocadas pelo coronavírus, o número de mortes chega a 530 mil, nos cálculos dos cientistas. Nesse cenário eles só devem sair de casa apenas em situação de absoluta necessidade. São infectados 121 milhões de brasileiros, 3,2 milhões precisam ser hospitalizados e 702 mil ficam em estado crítico, que requer tratamento em UTI.

Com supressão tardia
Além de determinar o distanciamento social de toda a população, são feitos testes massivos, os casos positivos são isolados e os que tiveram contato com eles, monitorados. É o que fez a Coreia do Sul. As medidas são aplicadas quando há 1,6 morte por 100 mil habitantes por semana. Nesta semana, a taxa de mortes por 100 mil por semana brasileira foi 0,04. Essa abordagem mais rigorosa reduz o número de mortes a 206 mil.

São contaminados 49,6 milhões de brasileiros, dos quais 1,2 milhão precisarão ser internados em hospitais, e 460 mil terão necessidade de cuidados intensivos. No pico da pandemia, a necessidade será de 460 mil leitos de hospital e 97 mil leitos de UTI.

Supressão precoce
Estratégia semelhante à do cenário 4, mas com medidas aplicadas quando ocorre 0,2 morte por 100 mil habitantes por semana. Por ser o mais rigoroso, é o que mais reduz a sobrecarga dos hospitais e o número de mortes.

Nessa abordagem mais radical, morreriam 44 mil brasileiros. Seriam infectados pelo coronavírus 11 milhões de pessoas, das quais 250 mil precisariam de hospitalização e 57 mil, de UTI. No pico da pandemia, a necessidade de leitos de hospital seria de 72 mil; de UTIs, 15 mil.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

terça-feira, 24 de março de 2020

Governo está perdido e medidas vão causar pandemia social, avalia economista...


“A equipe econômica está completamente perdida”. A frase da economista Ana Luiza Matos de Oliveira, da Fundação Perseu Abramo, resume a percepção não só de especialistas, mas certamente de parte da população brasileira. Diante da crise global causada pela pandemia do coronavírus, as expectativas apontam para uma desaceleração consistente da economia mundial e o governo brasileiro não tem conseguido dar respostas à altura do desafio.

A insistência em optar por medidas que continuam a seguir no caminho da austeridade preocupa. Em todo o mundo, até mesmo representantes mais tradicionais do mercado defendem ações econômicas de amparo social. O Fundo Monetário Internacional (FMI) informou nesta segunda-feira (23) que vai ampliar fortemente os financiamentos emergenciais e que está pronto para usar toda a sua capacidade de empréstimos, que chega a US$ 1 trilhão. Mais de 80 países já pediram ajuda ao Fundo.

Na semana passada, a diretora gerente do FMI, Kristalina Georgieva, ressaltou a necessidade de ações coordenadas. “À medida que o vírus se propaga, a necessidade de um estímulo fiscal global coordenado e sincronizado é cada vez mais forte”, disse ela.

Anteriormente, a diretora de pesquisa do Fundo, Gita Gopinath, já havia dito que era necessário adotar medidas para garantir proteção à rede de relações econômicas e financeiras entre trabalhadores, empresas, financiadores, tomadores de empréstimos, fornecedores e consumidores. Gopinath foi além, afirmou que países ricos devem ajudar os que estão mais economicamente fragilizados.

No Brasil, em transmissão online que reuniu representantes de grandes empresas, o fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, foi ainda mais radical e chegou a citar as medidas tomadas pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial para reconstrução dos países europeus. “Precisamos de um plano Marshall, uma bomba atômica, para que o Brasil não entre em caos social”, sentenciou.

Se até mesmo o mercado parece perceber a importância de ações consistentes, coordenadas e que levem em consideração a necessidade de investimentos públicos, a equipe econômica de Jair Bolsonaro (sem partido) patina. Para a economista Ana Luiza Matos de Oliveira, as respostas não são apenas insuficientes, mas também perigosas.

“As medidas que o governo vem tomando vão no sentido de agravar essa crise sanitária e aprofundar o abismo social e econômico que pode ser gerado. A gente tem uma pandemia causada pelo vírus e a forma com que o governo faz a gestão dessa questão internamente, vai nos levar a uma pandemia social e econômica também”, afirma.

Contramão do mundo

O Ministério da Economia brasileiro anunciou um plano emergencial de R$ 147,3 bilhões. No entanto, a maior parte das medidas antecipa receitas que já seriam gastas ao longo do ano e posterga despesas para os empresários. Não há injeção significativa de novos valores na saúde, e o ministro Paulo Guedes já informou que o governo não cogita rever o teto de gastos. Isso significa que os investimentos em saúde e em outras áreas sociais continuarão congelados por vinte anos, como determina a emenda do teto de gastos (EC 95), aprovada no governo de Michel Temer e defendida por Bolsonaro e sua equipe.

Enquanto isso, países da União Europeia aprovaram a suspensão de regras da disciplina orçamentária, o que vai permitir que os governos aumentassem gastos públicos em saúde. Ana Luiza Matos de Oliveira afirma que a resposta do Brasil vem sendo a pior possível.

“Quando isso tudo passar, o Brasil liderado por Jair Bolsonaro vai ficar conhecido como o país que ofereceu a pior resposta possível à crise, em termos sanitários, econômicos e sociais. O Brasil está tomando medidas na contramão de todos os outros países, na contramão do que o FMI está pregando, na contramão do que o Banco Mundial está falando. São órgãos comprometidíssimos com a questão da austeridade fiscal e estão dizendo que agora que é preciso gastar com saúde, gastar em proteção social e que a gente precisa proteger os vulneráveis”, analisa.

Confiança do mercado

O discurso recorrente do ministro Paulo Guedes para justificar medidas de austeridade sempre foi a necessidade de criação de uma suposta confiança no mercado. Se antes da crise do coronavírus o crescimento pífio do PIB já demonstrava que a tática não estava surtindo efeito, agora as coisas pioram. Ana Luiza avalia que a falta de comprometimento com a proteção social em um momento de crise global passa o pior dos recados para investidores.

“Há algumas semanas alguém perguntou ao Paulo Guedes sobre os impactos do coronavírus na economia do Brasil. Ele respondeu que as pessoas não precisavam se preocupar porque nós temos um sistema financeiro muito consolidado. Eu achei curioso, porque a pergunta não estava falando de sistema financeiro. A economia é muito mais do que o sistema financeiro. Economia diz respeito a conseguir colocar comida na mesa da sua família, conseguir pagar as contas e ter perspectivas de melhora na situação econômica. Se para essa economia real, as coisas já não andavam bem, agora, com todo esse caos que está se formando, a gente percebe que esse outro lado financeiro também está se desfazendo”, aponta.

Na opinião da economista da Fundação Perseu Abramo, Paulo Guedes não tem conhecimento e experiência em gestão pública. “Por trás dessa tentativa de criar otimismo nos mercados, que em parte é sim o papel de um ministro da economia, está uma leitura descolada da realidade”.

Futuro incerto

Frente aos impactos econômicos do coronavírus, o governo revisou a previsão de crescimento do PIB brasileiro. As expectativas, que já foram de 2,1%, foram praticamente zeradas, e agora estão em 0,02%. A economista avalia que o país chega enfraquecido ao enfrentamento das consequências que a crise global vai gerar.

“Todas essas reformas que o Brasil fez desde 2016, a partir do arcabouço da austeridade, fizeram com que a gente chegasse a essa crise de uma forma muito mais vulnerável. Temos menos instrumentos para combater  a vulnerabilidade social, para combater debilidades que temos no Sistema Único de Saúde. Esse cenário de desmontes com a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e a Emenda Constitucional do teto de gastos contribuem para que a gente esteja mais fragilizado perante à crise”, afirma.

A economista destaca ainda que, com a crise atual, fica cada vez mais nítido para a população que as medidas de austeridade prejudicam os interesses sociais. “Esse momento que a gente está mostra que várias forças estão se unindo e estão vendo que muitas dessas regras que foram colocadas são medidas que nos impedem de tomar decisões necessárias em momento de crise”.

Durante a conversa de Ana Luiza Matos com o Brasil de Fato, o governo enfrentava as repercussões de uma decisão que permitiria a suspensão de salários por quatro meses e deixava a cargo do trabalhador a negociação com os patrões sobre essa possibilidade. Ao longo da manhã, o termo Bolsonaro Genocida, chegou a figurar entre os assuntos mais comentados do Twitter. No meio da entrevista, a economista foi informada de que Bolsonaro havia voltado atrás na decisão. Novamente um recado de que o governo está desorientado.

“Uma MP que não durou nem 12 horas. O governo está perdido! Tentando ajudar o governo a pensar, tem vários grupos de economistas que estão se juntando e apresentando propostas. Houve um manifesto dos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um manifesto da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um estudo do Instituto de Economia da Unicamp. A gente elenca algumas medidas que a gente entende que deveriam ser tomadas no longo prazo e no curto prazo para passar por essa crise de uma forma mais suave. A gente está tentando falar e pressionar sobre isso, porque parte desse ‘volta atrás’ do Bolsonaro, é também por pressão e nós temos que continuar”, defende.

Fonte: Brasil de Fato

segunda-feira, 23 de março de 2020

XI Jinping, presidente da China, lê carta de LULA ao seu país


O ex-presidente Luiz Inácio da Lula da Silva enviou na última sexta-feira uma carta ao presidente chinês Xi Jinping pedindo desculpas, em nome do povo brasileiro, às ofensas proferidas pela família Bozo ao país asiático. A ação pode ser considerada como uma das maiores humilhações de Bolsonaro até agora. Lula assume de vez o papel de líder brasileiro na atualidade. O conteúdo da carta foi lido em público, hoje, pelo presidente chinês. Leia a íntegra.

Leia a íntegra da carta:

São Bernardo, Brasil, 20 de março de 2020

“Caro presidente Xi Jinping,

Em nome da amizade entre os povos do Brasil e da China, cultivada por sucessivos governos dos dois países ao longo de quase cinco décadas, venho repudiar a inaceitável agressão feita a seu grande país por um deputado que vem a ser filho do atual presidente da República do Brasil.

Tal atitude, ofensiva e leviana, contraria frontalmente os sentimentos de respeito e admiração do povo brasileiro pela China. Creio expressar o sentimento de uma Nação, que tive a responsabilidade de presidir por dois mandatos, ao pedir desculpas ao povo e ao governo da China pelo comportamento deplorável daquele deputado.

Como é de seu conhecimento, setores expressivos da sociedade brasileira condenaram aquela agressão, incluindo os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal do Brasil.

Lamento, entretanto, que o atual governo brasileiro não tenha feito ainda esse gesto pelos canais diplomáticos e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que deveria ter sido o primeiro a tomar tal atitude. Seu silêncio envergonha o Brasil e comprova a estreiteza de uma visão de mundo que despreza a verdade, a Ciência, a convivência entre os povos e a própria democracia.

Lamento especialmente que esta agressão tenha ocorrido na conjuntura de um contencioso comercial entre a China e os Estados Unidos, país ao qual a política externa brasileira vem sendo submetida de maneira servil por este governo. Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump.

Este governo passará, sem ter estado à altura do Brasil, mas nada poderá apagar os laços de amizade e cooperação que vimos construindo desde 1974, quando o então presidente Ernesto Geisel restabeleceu as relações entre o Brasil e a República Popular da China.

Praticamente todos os presidentes brasileiros, desde então, fortaleceram nossa relação nos mais diversos campos. Recordo que, ainda em 1988, o presidente José Sarney assinou os acordos para a construção do satélite sino-brasileiro, que viria a ser lançado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 1994, os presidentes Itamar Franco e Jiang Zemin estabeleceram a Parceria Estratégica Brasil e China, que tem frutificado em benefício mútuo. Desde 2009 a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em meu governo, o Brasil reconheceu a China como economia de mercado e construímos juntos os BRICS, inaugurando um novo capítulo na ordem mundial.

Recentemente, expressei minha solidariedade ao povo e ao governo da China no enfrentamento ao coronavírus. Recebo agora a notícia de que os esforços admiráveis nesse combate resultaram na interrupção, pelo segundo dia consecutivo, da transmissão do vírus em seu país. Parabéns por esta vitória e sigam lutando.

Esta é a verdadeira imagem da China que nós, brasileiros e brasileiras, aprendemos a admirar, numa convivência de mútuo respeito. Um país com o qual desejamos manter e aprofundar as melhores relações de amizade e cooperação, inclusive no combate à grave pandemia que também nos atinge.

Receba minha saudação respeitosa e fraterna, que se estende a todo o povo chinês,

Por: Luiz Inácio Lula da Silva

sexta-feira, 20 de março de 2020

Lula: Contra coronavírus, país precisa de governo, mas não tem...


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou na quarta-feira (19/03) um vídeo em que fala sobre a crise do coronavírus, da importância das pessoas se cuidarem e da obrigação que o governo deveria ter, nessa hora, de atuar para proteger e orientar as pessoas, liberando recursos para enfrentar a doença e para garantir o salário e a renda dos milhões que já não estão podendo trabalhar.

Lula criticou a irresponsabilidade, a falta de inciativa e de coordenação do governo Bolsonaro, que colocam em risco toda a população. Ele decidiu falar ao país porque ficou inconformado com a entrevista de Jair Bolsonaro na noite quarta-feira. “O governo precisa garantir que as pessoas não vão ser mandadas embora (por causa da doença) e os empresários têm de garantir que as pessoas vão receber seu dinheiro”, afirmou o ex-presidente.

“Imaginei que fosse uma entrevista para bem orientar o povo brasileiro de como melhor se comportar para evitar o coronavírus e como o governo irá fazer para minimizar possíveis sofrimentos da sociedade, mas o que vi foi um show de narcisimo”, disse Lula sobre a fala de Bolsonaro. “Não estava preocupado em orientar a sociedade e o povo, estava preocupado em se desfazer da imagem que criaram por ter falado tanta bobagem ao longo da semana”.

De acordo com Lula o importante era o presidente ter avisado ao povo o que vai fazer de investimento. E deu exemplos: “Avisar quanto vai gastar no SUS, porque a emenda 95 (emenda do teto dos gastos) tirou R$ 22,5 bilhões do SUS; quanto vai gastar em leitos, com hospitais, médicos, enfermeiros”.

“A entrevista serviu apenas para mostrar que nós, nesse instante, não temos governo, não temos alguém que seja capaz de orientar as pessoas”, disse Lula. “Ele está preocupado é com sua imagem, seus panelaços e manifestações, em se autodenominar o mito”, acrescentou em referência a Bolsonaro. “Ele gosta tanto dele que se acha mais importante que qualquer outro ser humano, quando deveria apenas governar para 210 milhões e não apenas para satisfazer seu ego e o ego dos filhos”.

Cobrou medidas do governo para proteger o conjunto da população e especialmente “os mais vulneráveis, os mais fragilizados, que além de tudo são os que menos consomem proteínas e calorias, estão mais fracas e precisam receber um cuidado maior”. Segundo Lula, “é para isso que o país precisa de governo, para cuidar das pessoas e dentre elas as que mais precisam”.

Elogiou o papel da imprensa, tanto a tradicional quanto a independente, na divulgação de informações sobre o coronavírus para a o público, além de destacar a atuação de muitos governos estaduais e prefeituras desde o início da crise. Ele cobrou do governo federal que também forneça “informação segura” para a população, o que não vem ocorrendo. “É o governo federal que tem de ser o coordenador (das ações), mas não vejo intenção nem vontade de política de fazer”, disse Lula.

Destacou que, para que a crise do coronavírus não se transforme em algo mais grave do que já é, é preciso colocar dinheiro novo em seu combate, muito além do que foi anunciado pelo governo. “É preciso que o tesouro coloque tanto dinheiro quanto for necessário para salvar as pessoas”, afirmou. “E depois vamos cuidar da economia, porque a economia brasileira já vinha muito ruim; e não era por causa do coronavírus, ele apenas vai agravar, como agravou em todas as partes do planeta.”

Ao longo de sua mensagem insistiu em aconselhar as pessoas a tomarem cuidados com a higiene, lavar constantemente as mãos e evitar contatos para se protegerem e proteger as pessoas próximas. Ele comparou os cuidados com a doença ao comportamento das pessoas diante de uma abelha. “Quando é uma abelha só, a gente nem se preocupa, mas quando vê um enxame você sai correndo”, disse. “Esse cuidado é para evitar que o coronavírus venha como um enxame para cima de nós”.

No encerramento da mensagem destacou a importância da solidariedade neste momento. “Que o amor prevaleça sobre o ódio e a solidariedade prevaleça sobre o descaso”, disse Lula. “É hora cuidar do outro, com solidariedade, este é o maior antídoto contra o coronavírus”. E concluiu: “Espero voltar a fazer atividades públicas com todos vocês, com muita saúde, porque o que eu mais quero é recuperar a democracia em nosso querido Brasil”.



segunda-feira, 9 de março de 2020

Bolsa despenca 12%, na pior queda do século


A Bolsa brasileira teve sua maior queda do século nesta segunda-feira (09/03). O Ibovespa, maior índice acionário do país, despencou 12,17%, a 86.067 pontos, menor patamar desde 26 dezembro de 2018. Essa é a maior queda diária, em termos percentuais, desde 10 de setembro de 1998, quando a Bolsa caiu 15,8%, em período marcado pela crise financeira russa.

Nesta sessão, o índice abriu em forte queda e, às 10h30, as negociações foram interrompidas quando a desvalorização superou 10%. Esse é o nível para que se acione o chamado circuit breaker, que leva à suspensão do pregão. É o primeiro circuit breaker desde o episódio conhecido como Joesley Day, em maio de 2017, e sexto da história. A suspensão foi de meia hora.

Os mercados financeiros de todo o mundo vivem nesta sessão a perfeita definição de dia de pânico. O dólar disparou, apesar da intervenção do BC (Banco Central). O risco-país tem alta recorde. Os juros futuros sobem.

Desde o pico mais recente, quando atingiu a máxima histórica de 119.527 pontos, em 23 de janeiro, o índice cai mais de 27%. A queda apaga todo o ganho do mercado de ações desde o início do governo de Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019.

O dólar abriu nesta segunda em forte alta. Na máxima, bateu R$ 4,794, mas teve a disparada parcialmente contida pela venda à vista de US$ 3 bilhões de reservas pelo BC – o triplo do inicialmente previsto. O plano, na sexta-feira (06/03), era vender US$ 1 bilhão.

À tarde, o BC fez mais um leilão à vista, vendendo US$ 465 milhões. Apesar das intervenções, a moeda fechou em alta de 2%, a R$ 4,727. O turismo está a R$ 4,92 na venda. Em algumas casas de câmbio, chega a ser vendido acima de R$ 5.

Dentre emergentes, o real teve a quarta pior queda da sessão, atrás dos pesos colombiano e mexicano e do rand sul-africano. O BC anunciou novo leilão à vista na terça (9), de US$ 2 bilhões, entre 9h10 e 9h15, logo na abertura das negociações.

O pessimismo sinaliza principalmente uma piora nas perspectiva de impacto econômico com a disseminação do coronavírus. A desaceleração da economia global por causa da doença já é considerada inevitável. Pesam neste início de semana a decisão do governo da Itália de colocar 16 milhões de pessoas no norte do país em quarentena, e da guerra de preços do petróleo entre grandes países produtores.

O quadro é de muita aversão a risco, com investidores em todo o mundo buscando ativos considerados mais seguros, como ouro, dólar e títulos do Tesouro americano. A busca pelo Tesouro faz o rendimento destes títulos desabarem. Nesta sessão, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de dez e de trinta desabaram para suas mínimas históricas: 0,997% ao ano e 0,543% ao ano.

Economistas agora aguardam medidas do governo brasileiro para amenizar o impacto da crise. Nesta manhã, o FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendou aos governos do mundo que sejam ágeis na adoção de planos para evitar que o coronavírus tenham efeitos prolongados de retração econômica. Sugeriu medidas como aumento do crédito e liberação de seguro-desemprego.

O risco-país brasileiro, medido pelo contrato de CDS (Credit Default Swap) de cinco anos sobe 40%, a maior alta da história em um dia. O índice retorna ao patamar de dezembro de 2018, aos 200 pontos. Desde a deterioração dos mercados acionários com a epidemia de coronavírus, em 20 de janeiro, a Bolsa brasileira cai 27,3%. Esse é o primeiro período de grande turbulência de pequenos investidores, que mais que dobraram a sua participação na Bolsa.

De 2018 até fevereiro, o número de CPFs com ações compradas saltou 813 mil para 1,95 milhão. “O psicológico fica afetado. Investidores inexperientes ficam ainda mais aflitos porque é primeira vez que enfrentam uma queda acima de 10% e acabam se desfazendo das ações. Quem não tem uma assessoria, acaba tomando decisões precipitadas”, afirma Carolina Barros, sócia da Ella's Investimentos, agente autônomo de investimentos ligada à XP.

Segundo Carolina, os clientes pessoa física se desfizeram de cerda de metade da sua cesta de ações, em busca de investimentos mais seguros, com preferência a CDBs de liquidez diária e Tesouro Selic. A deterioração nos mercados nesta segunda sinaliza ainda os efeitos negativos da retração no preço do petróleo. O contrato futuro do barril do tipo Brent chegou a cair mais de 30% nesta sessão e agora é negociado ao patamar de US$ 34,47, queda de 23,8%. É a menor cotação desde 2016.

“A decisão da Arábia Saudita pega os mercados de surpresa e adiciona preocupações. Por ora, o impacto nos mercados está sendo avassalador”, escreveu a corretora Guide em relatório desta segunda.

As ações da Petrobras, cuja receita é atrelada ao preço do barril de petróleo, tiveram a maior queda percentual da história. As preferenciais (mais negociadas) despencaram 29,7%, a R$ 16,05. As ordinárias (com direito a voto) caíram 31%, a R$ 16,92. Os patamares são os menores desde agosto de 2018, quando a estatal se recuperava de perdas decorrentes da paralisação dos caminhoneiros, quando a companhia adotou programa de subvenção e o preço do diesel caiu.

“A mudança no preço do petróleo envolve diretamente a rotina operacional não só da Petrobras, mas de todas as companhias que pautam suas orientações com esse preço de referência”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

No ano, o petróleo cai quase 50%, reflexo da percepção de que a demanda pelo produto será menor com a redução da atividade econômica global. Uma queda de consumo já é certa: querosene de aviação, com a redução das viagens causada pelo coronavírus.

O Goldman Sachs apontou que o óleo pode ficar ao redor de US$ 30 por barril ao longo do segundo e do terceiro trimestre, sem descartar uma queda para US$ 20.

Já os juros brasileiros sobem, reflexo do temor de investidores sobre os impactos da doença sobre a economia brasileira. Na dúvida, a preferência é por cobrar mais para emprestar ao governo. A curva de juros futuros mostra uma aposta do mercado em Selic a 4% ao ano, se distanciando dos 3,5%. Hoje, a taxa básica está a 4,25% ao ano.

Uma queda de braço entre a Arábia Saudita (membro da Opep) e a Rússia, que se recusou a cortar a produção para fazer frente à queda do preço da matéria-prima já está sendo chamada de guerra do preço do petróleo, com impactos em escala global.

O Banco do Brasil se disse confiante na retomada da economia brasileira e que está preparado para atender clientes em momentos de necessidade e capital de giro.

“É natural que os ânimos do mercado se exaltem diante de incertezas, mas os fundamentos econômicos de longo prazo não mudaram, continuam sólidos. O coronavírus e o stress internacional são pontuais e transitórios. Os mercados tendem a se acomodar após o susto do inesperado, estamos confiantes na reaceleração da economia e do crédito", afirma Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil.

No exterior, Bolsas americanas tiveram o pior pregão desde 2008, ano da crise financeira. S&P 500 caiu 7,6%, Dow Jones, 7,8% e Nasdaq, 7,3%.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado

quinta-feira, 5 de março de 2020

‘Reformas’ comprometeram a capacidade de crescimento do país, diz Ladislau Dowbor


Para o economista e professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Ladislau Dowbor, as reformas neoliberais e as medidas de ajuste fiscal tomadas pelos governos Temer e Bolsonaro estão reduzindo a capacidade de consumo das famílias. A situação é agravada pelo endividamento generalizado, que deixa quase metade da população fora do mercado consumidor. O resultado, diz o professor, não poderia ser outro: o baixo crescimento econômico do país, os elevados índices de desemprego e o aumento da informalidade.

“Quando se reduziu a capacidade de consumo das famílias, a pretexto de reduzir o déficit, na verdade, travou-se também a capacidade de produção das empresas. O empresário diz assim: ‘Realmente está mais barato para contratar. Mas para que vou contratar, se não tenho para quem vender?'”, criticou Dowbor, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (4).     

Segundo ele, medidas como as ditas “reformas” trabalhista e da Previdência têm o mesmo “denominador comum”, que é a redução da capacidade de consumo da população. A Lei do Teto, outra medida fiscalista, aos restringir os investimentos públicos em áreas como saúde e educação, também acaba comprometendo parte da renda das famílias, que são obrigadas a recorrer a, nestes casos, planos de saúde privados e escolas pagas.

Outro agravante, segundo Dowbor, são as taxas de juros que permanecem elevadas, tanto para o consumidor, quanto para os pequenos e médios empresários. “A cada ano, quando chega agosto ou setembro, dizem que no ano que vem vamos crescer 3%. Quando chega dezembro, vamos crescer 2,5%. Em março, vamos crescer 1%. E a gente termina crescendo 0,8%. Estamos parados, porque não tem para quem vender, não tem como se financiar. A coisa não funciona”, afirma o economista.

Solução

Para o professor da PUC, a saída passa pela adoção de políticas de estímulo ao consumo das famílias, como a valorização do salário mínimo e o fortalecimento de programas de transferência de renda como o Bolsa Família. Com medidas como essas, as empresas passam a contratar.

O passo seguinte, explica, é que com o crescimento da produção e do consumo, as receitas do Estado também se elevam, por conta da arrecadação com impostos e tributos e pode, então, investir em infraestrutura e políticas sociais, que melhoram a eficiência das empresas e reduzem os gastos das famílias, ensejando um ciclo de crescimento.

PIB de 2020 pode ser pior que o 1,1% de 2019, alerta Marcio Pochmann


Para o economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o resultado do PIB de 2019, com crescimento “pífio” de 1,1%, revelam que as “reformas” neoliberais – trabalhistas e da Previdência – não alcançaram os resultados defendidos pela dupla Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, com o apoio da mídia tradicional, além de escancarar o “descompasso” entre as projeções do governo e do mercado e a realidade.

“Se não houver uma mudança de rumos, a tendência é que o crescimento em 2020 seja ainda pior, em função dos impactos globais da epidemia de coronavírus”, afirma.

Aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (5), Pochmann reforçou que os economistas liberais praticam fake news, e que os resultados da atividade econômica do país no ano passado só não foram piores por conta de medidas “heterodoxas”, como a liberação das contas do FGTS.

“Defendiam que as reformas e os cortes de gastos públicos levariam a uma retomada do setor privado e, portanto, o país voltaria a crescer. Infelizmente essas promessas não se realizaram. Estamos nesse início de 2020 com uma renda per capita 7,3% inferior àquela que os brasileiros tinham em 2014”, disse o economista.

‘Deforma’ e autocrítica

Para o professor, os “porta-vozes” do mercado financeiro precisam fazer uma “autocrítica” sobre as medidas por eles defendidas e que não tiveram os resultados pretendidos. “Cobram autocrítica da esquerda, mas para o centro e a direita parece não haver esse tipo de circunstância. É fundamental entender onde erramos para poder mudar.”

Segundo Pochmann, não se trata de reformas, mas “deformas”. “É uma espécie de crença, um ilusionismo, de que o crescimento está muito próximo. Mas para chegar lá tem que fazer essa e aquela reforma. Na verdade, a palavra reforma não seria mais adequada. São ‘deformas’. Estão deformando o país e nos levando a uma trajetória cuja decadência é evidente”.

Juros e emprego

A redução da taxa de juros, segundo Pochmann, é importante para frear o avanço da “financeirização” da economia, mas insuficiente para fazer o país crescer, se não vier acompanhada de medidas de estímulo à produção e ao consumo.

A flexibilização dos contratos de trabalho pela reforma trabalhista, com retirada de direitos, também produziu aumento estatístico na ocupação, sem garantir aos trabalhadores as condições mínimas para se manterem. “Estão criando uma categoria de trabalhadores pobres. O trabalho já não é mais suficiente para sair da condição de pobreza”.

Reservas

Além de não fazer o que se deve em prol do crescimento, a equipe econômica do governo Bolsonaro adota medidas que inviabilizam a adoção de medidas que colaborariam para uma saída mais rápida para a crise. Ele defende, por exemplo, a utilização de parte das reservas internacionais na aplicação de um plano emergencial para a retomada do crescimento.

“Ocorre que estamos vendo uma fuga de dólares no país. Para poder evitar que a nossa moeda se desvaloriza ainda mais, o Banco Central (BC) vem queimando as reservas. Perdemos quase 10% do acumulado até o governo Dilma. Estamos queimando as pontes para sair da crise. A administração da economia é capenga e incompetente.”

Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br

quarta-feira, 4 de março de 2020

PIB do Brasil cresce 1,1% em 2019, menor avanço em 3 anos

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,1% em 2019, segundo divulgou nesta quarta-feira (4) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o desempenho mais fraco em 3 anos, com o resultado afetado principalmente pela perda de ritmo do consumo das famílias e dos investimentos privados. Em valores correntes, o PIB do ano passado totalizou R$ 7,3 trilhões em 2019.


Foi a 3ª alta anual consecutiva após 2 anos de retração, mas a recuperação lenta ainda mantém a economia do país abaixo do patamar pré-recessão. Já o PIB per capita (por habitante) teve alta de apenas 0,3% em termos reais em 2019, alcançando R$ 34.533 em 2019.

“São três anos de resultados positivos, mas o PIB ainda não anulou a queda de 2015 e 2016 e está no mesmo patamar do primeiro trimestre de 2013”, destacou Rebeca Palis, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE.

Segundo ela, em valores correntes, o PIB brasileiro ainda segue 3,1% abaixo do pico (ponto mais alto da economia brasileira), registrado no primeiro trimestre de 2014. "Por outro lado, estamos a 5,4% do vale, o ponto mais baixo que foi alcançado no 4º trimestre de 2016", explicou.

Em 2017 e 2018 o crescimento foi de 1,3% em ambos os anos, após retrações de 3,5% em 2015 e de 3,3% em 2016.
Apesar de mais um ano de crescimento decepcionante, o resultado veio dentro do esperado pelo mercado que, após resultados fracos da atividade econômica em novembro e dezembro, passou a projetar mais um ano de taxa bem próxima de 1%. No começo de 2019, a estimativa era de um avanço de mais de 2% no ano. A estimativa do Ministério da Economia era de uma alta de 1,12%.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Estimativas para o PIB foram caindo ao longo do ano; entenda

Veja os principais destaques do PIB em 2019:

Serviços: 1,3%
Indústria: 0,5%
Agropecuária: 1,3%
Consumo das famílias: 1,8%
Consumo do governo: -0,4%
Investimentos: 2,2%
Construção civil: 1,6% (1ª alta após cinco anos consecutivos de queda).
Exportação: -2,5% (1ª queda em 5 anos)
Importação: 1,1%
 
Investimentos desaceleram

Os investimentos tiveram uma desaceleração mais forte, registrando uma alta de 2,2% no ano passado, após um salto de 3,9% em 2018 e queda de 2,6% em 2017. Já a despesa de consumo do governo caiu 0,4%, em meio ao rombo das contas públicas e dificuldades orçamentárias.

A taxa de investimento em 2019 foi de 15,4% do PIB, acima do observado em 2018 (15,2%), mas ainda bem abaixo do patamar acima de 21% registrado em 2013. Já a taxa de poupança caiu para 12,2%, ante 12,4% em 2018.

No setor de serviços, as atividades que registraram maior avanço no ano foram: informação e comunicação (4,1%) – maior taxa de crescimento entre todos os componentes do PIB –, atividades imobiliárias (2,3%) e comércio (1,8%).

Na agropecuária, o crescimento foi puxado pelo cultivo de milho (23,6%), algodão (39,8%), laranja (5,6%) e feijão (2,2%).

Perspectivas para 2020

Após um início de ano de maior otimismo sobre as perspectivas para a economia brasileira, preocupações em torno dos impactos do coronavírus na economia global e incertezas sobre o ritmo de aprovação de reformas no Congresso têm derrubado as projeções para o PIB do Brasil em 2020.

Embora não faça projeções, o IBGE considera que a economia brasileira será afetada negativamente pelo coronavírus. "Quando a gente divulgar o primeiro trimestre do ano provavelmente a gente vai ver o impacto do coronavírus sobre a economia", disse a gerente das Contas Nacionais, Rebeca Palis. "Vai ser um impacto no todo, provavelmente vai afetar o comercio exterior e, também, a produção nacional", acrescentou ao ser questionada sobre quais setores devem ser impactados.

O mercado brasileiro reduziu para 2,17% a previsão a alta do PIB neste ano, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, mas diversos bancos e consultorias já estimam um crescimento abaixo de 2% e mais cortes na taxa básica de juros.

Economia deve ter retomada apenas gradual até o fim do governo Bolsonaro
Até o final de janeiro deste ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se dizia confiante em uma taxa de crescimento de 2,5% em 2020. Nesta quarta, em comunicado, o ministério da Economia afirmou que o coronavírus tornou o crescimento este ano 'desafiador', ao reduzir a expectativas de crescimento mundial e "adicionar incertezas" sobre a evolução do comércio internacional.

A estimativa atual do governo para o crescimento da economia em 2020 segue em 2,4%, mas o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, já adiantou que, até o início da próxima semana, a projeção oficial deverá ser revisada.

terça-feira, 3 de março de 2020

Lula em Paris: reduzir a desigualdade exige mexer no coração da riqueza


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou hoje (3), na Escola de Economia de Paris, sobre a experiência brasileira de combate à miséria. Lula foi convidado pelo economista Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século 21. Piketty coordena um laboratório de estudos sobre a desigualdade no mundo. O encontro, avisou o economista, deve ser o primeiro ato de uma importante colaboração sobre o desafio de se reduzir a desigualdade no mundo. “Foi muito interessante. Vamos tentar ir ao Brasil com nossa equipe para aprofundar esse debate”, disse Piketty.

Dados do extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) mostram que a proporção de pobres no Brasil caiu de 23,4% em 2002, para 7% em 2014. Isso significa que 26,3 milhões de pessoas deixaram de viver abaixo da linha de pobreza. Em 12 anos, o número de pobres caiu de 40,5 milhões para 14,2 milhões.

“Quero agradecer a oportunidade de fazer o debate de uma coisa que me é muito cara”, disse o ex-presidente no encontro que reuniu, em Paris, pesquisadores da desigualdade de todo o mundo. “Nós temos que expor a desigualdade como um problema político, uma questão de dignidade humana. Não haverá diminuição da desigualdade se a gente não mexer no coração da riqueza”, avaliou.

Elite escravocrata
Durante os governos Lula e Dilma Rousseff – a ex-presidenta também integra a comitiva na França – foram retiradas 36 milhões de pessoas da miséria e 42 milhões alçadas à classe média.

Lula destacou o papel da elite brasileira nessa situação aviltante que voltou a reinar no Brasil após o golpe de 2016.  “É muito difícil compreender o Brasil se não levar em conta os 350 anos de escravidão. Somos uma sociedade escravagista, embora a escravidão formalmente tenha sido extinta. Ela existe na economia brasileira. Existe no patrimonialismo. A elite brasileira nunca efetivamente se deu conta da necessidade de elevar a qualidade de vida dos mais pobres”, expôs.

Programas sociais
O ex-presidente fez uma exposição dos programas sociais que foram a base dos governos petistas com objetivo de combater a pobreza e reduzir a desigualdade, como o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o ProUni. E lembrou como essas medidas mesmo incentivando a economia, geraram incômodo em setores da elite brasileira.

“Fazer transferência de renda foi uma decisão contra tudo e contra todos. Contra os chamados especialistas. Quando tomamos a decisão de criar o Programa Fome Zero, muita gente no Brasil escrevia que era melhor investir em estradas, em infraestrutra. Meu argumento era: o povo não come cimento. O povo come feijão e arroz e é disso que ele está precisando agora.”

Sobre como reduzir a desigualdade que se agrava cada vez mais, Lula foi enfático. “Não existe explicação humanitária para um cidadão ter 100 bilhões de dólares na sua conta e 100 milhões de pessoas não terem o que comer. Não sei quanto tempo vou viver. Mas se eu puder quero ajudar a criar indignação com a concentração de renda no mundo.”

Lula na Europa
Na tarde desta terça-feira, Lula participou, ainda do Festival Lula Livre, no Teatro du Soleil, em Paris. O evento, com lotação esgotada há dias, foi promovido por uma série de entidades internacionais como os comitês Lula Livre.

Lula iniciou seus compromissos na França no domingo (1º), reunindo-se com políticos como deputado francês Eric Coquerel e o líder do grupo França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que visitou Lula em Curitiba quando o ex-presidente estava preso na sede da Polícia Federal.

A agenda do ex-presidente seguirá por outros países europeus. Em visita a Genebra, no dia 6, Lula se encontrará com representantes do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), que congrega mais de 340 igrejas em mais de 120 países. Na pauta, o ex-presidente deve voltar a falar da desigualdade social, tema central também do encontro com o Papa Francisco, no Vaticano. Ainda na Suíça, o ex-presidente participa de encontro com representantes de sindicatos globais.

Já em Berlim, na Alemanha, o petista se reunirá com lideranças políticas e com representantes do movimento sindical alemão. No dia 9, participa de encontro em defesa da democracia no Brasil, em ato público com representantes dos comitês internacionais Lula Livre.

domingo, 1 de março de 2020

Papa Francisco propõe um sistema econômico mais justo e sustentável


Mais de 2 mil jovens de 120 países confirmaram até agora a participação no encontro Economia de Francisco, de 26 a 28 de março de 2020 na cidade de Assis, Itália. Convocada pelo papa e estruturada com o auxílio do economista americano Joseph Stiglitz, a iniciativa conta com apoio do indiano Amartya Sen, ambos vencedores do Prêmio Nobel.

A reunião pretende repensar, debater e buscar novos rumos para a economia mundial, hoje dedicada de modo quase exclusivo aos interesses de maximização dos lucros de empresas e de poucos indivíduos, de modo a direcioná-la para a proteção da maioria e do meio ambiente.

As atividades preparatórias no Brasil incluíram um encontro com cerca de 500 interessados no fim de novembro, na PUC de São Paulo. O País terá 30 representantes vinculados a diferentes experiências. Inovador no conteúdo e no formato, o encontro pretende debater experiências e promover rodas de conversa em substituição às tradicionais exposições de papers e mesas-redondas.

A liderança caberá a jovens de até 35 anos, entre acadêmicos, agentes comunitários e empreendedores. A iniciativa floresceu em maio, quando o papa e Stiglitz comprometeram-se a trabalhar em conjunto para promover globalmente uma “economia social” que “olha para o futuro com a voz dos jovens em mente”. Os dois advertiram sobre os problemas de certas formas de economia de mercado que incentivam o comportamento individualista e invertem papéis.

“É necessário aprofundar as discussões sobre questões sociais e as mudanças geradas pela globalização nas sociedades, bem como pensar em ideias concretas sobre o que devemos fazer para a tecnologia e os mercados servirem à humanidade, e não o contrário”, propôs Stiglitz.

É fundamental, alertou, “trabalhar na educação de sistemas alternativos que não adoram dinheiro. Temos de tentar desenvolver programas e estudos sobre o conceito de economia circular, que contribuam para uma educação que esteja ciente dos limites do meio ambiente e que ensine a devolver ao ambiente o que é retirado dele”.

A convocação feita pelo papa sugere um encontro inédito sobre economia: “Estou escrevendo para convidá-los a uma iniciativa que tanto desejei, um evento que me permita conhecer quem hoje está se formando e está iniciando a estudar e praticar uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã”, conclamou Francisco.

“Na ‘Carta Encíclica Laudato si’”, prossegue o papa, “enfatizei como hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente conectado e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com os pobres e da solução dos problemas estruturais da economia mundial. É necessário, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações”.

Estima-se que a liderança mundial do papa, realizador do Sínodo da Amazônia, em outubro, durante o auge de queimadas na floresta, contribuirá para tornar o evento um marco na crítica à economia dominante. A iniciativa convergirá em torno de três grandes eixos, detalhados durante o evento preparatório na PUC-SP pela professora Patricia Dorneles, vice-coordenadora do curso de graduação em terapia ocupacional da UFRJ.

O primeiro são as linhas gerais e as perspectivas de articulação de outra economia, inclusiva, marcada pela justiça social, ética e humanismo. O segundo eixo é a agregação e valorização das práticas concretas que incluem, no País, “inúmeras experiências de economia solidária, agroecológicas, de bancos de crédito comunitários, criação de novas moedas, atividades de economia criativa, de controle territorial de produção e distribuição”.

O terceiro eixo, prossegue, são as mudanças nos currículos das faculdades de economia no mundo. “Não podemos pensar em outra economia se formarmos economistas a partir de uma concepção única ou absolutamente voltada para a competição e as técnicas, muitas delas antiéticas, que geram sofrimento e privações a grande parte da população. O chamamento do papa é no sentido de os participantes formularem nova orientação curricular para formar economistas humanistas e integradores”, sublinha a professora.