A capa do relatório — que
contém sete reportagens em 11 páginas — traz uma imagem do Cristo Redentor
usando uma máscara de oxigênio e a manchete "On the brink" ("Na
beira").
"Seus desafios [do
Brasil] são assustadores: estagnação econômica, polarização política, ruína
ambiental, regressão social e um pesadelo ambicioso. E teve de suportar um
presidente que está minando o próprio governo. Seus comparsas substituíram funcionários
de carreira. Seus decretos têm forçado freios e contrapesos em todos os
lugares", diz o texto de abertura do relatório assinado pela
correspondente do Economist no Brasil, Sarah Maslin.
No artigo que conclui o
relatório — intitulado "Hora de ir embora" — a revista diz que o
futuro do Brasil depende das eleições de 2022, e que a prioridade mais urgente
do país é se livrar de Bolsonaro.
"Os políticos precisam
enfrentar as reformas econômicas atrasadas. Os tribunais devem reprimir a
corrupção. E empresários, ONGs e brasileiros comuns devem protestar em favor da
Amazônia e da constituição", diz a revista.
"Será difícil mudar o
curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A prioridade mais urgente é votar
para retirá-lo do poder."
A revista não sugere qual
candidato seria o mais indicado para governar o Brasil.
"As pesquisas sugerem
que Lula ganharia em um segundo turno [contra Bolsonaro]. Mas, à medida que a
vacinação e a economia se recuperam, o presidente pode recuperar terreno. Lula
deve mostrar como a forma de [Bolsonaro de] lidar com a pandemia custou vidas e
meios de subsistência, e como ele governou para sua família, não pelo Brasil. O
ex-presidente deve oferecer soluções, não saudades."
A revista, fundada em 1843 e
lida por muitos empresários e políticos em todo o mundo, costuma fazer
relatórios detalhados do Brasil. A imagem do Cristo Redentor costuma ser usada
nas capas da revista como analogia para a sua opinião sobre o país.
Em 2009, uma capa mostrava o
Cristo Redentor decolando, como se fosse um foguete, com a manchete "O
Brasil decola" — elogiando políticas econômicas da época. Mas em 2013, em
uma imagem semelhante, o mesmo Cristo Redentor aparecia na capa como um foguete
desgovernado e a manchete "O Brasil estragou tudo?". Naquela edição,
a revista criticava uma mudança de rumo nas políticas econômicas.
'Década
de desastres'
A publicação afirma que o
Brasil já enfrentava uma "década de desastres" antes mesmo da chega
do presidente ao poder, mas que agora o país está retrocedendo — com Bolsonaro
e com a pandemia de covid-19.
"Antes da pandemia, o
Brasil sofria de uma década de problemas políticos e econômicos. Com Bolsonaro
como médico, o Brasil agora está em coma."
A Economist argumenta que
Bolsonaro não deu um golpe de Estado — como alguns temiam que pudesse acontecer
—, mas possui instintos autoritários que enfraqueceram as instituições
democráticas brasileiras, com suas constantes agressões.
"Muitos especialistas
disseram que as instituições brasileiras resistiriam a seus instintos autoritários.
Até agora, eles provaram estar certos. Embora Bolsonaro diga que seria fácil
realizar um golpe, ele não o fez. Mas, em um sentido mais amplo, os
especialistas estavam errados. Seus primeiros 29 meses no cargo mostraram que
as instituições do Brasil não são tão fortes quanto se pensava e se enfraqueceram
sob suas agressões."
A revista diz que Bolsonaro
encerrou a investigação da Lava Jato após acusações feitas contra seus filhos —
beneficiando "políticos corruptos e grupos criminosos organizados" —,
não promoveu mais reformas significativas desde a reforma da Previdência de
2019 e causou danos à Floresta Amazônica, por se solidarizar com madeireiros,
mineiros e fazendeiros que promovem o desmatamento.
"Ele levou uma
motosserra para o Ministério do Meio Ambiente, cortando seu orçamento e
forçando a saída de pessoal competente. A redução do desmatamento requer um
policiamento mais firme e investimento em alternativas econômicas. Nenhum dos
dois parece provável."
Em outra reportagem, a
revista afirma que depois de uma "geração de progresso", a mobilidade
social está desacelerando no país. Segundo a revista, anos de políticas
voltadas para o controle da inflação e diminuição da pobreza foram seguidos por
uma "década de políticas ruins e sorte pior ainda".
A revista critica as gestões
do PT por investirem pouco em infraestrutura, abandonarem reformas pró-negócios
e por adotarem políticas semelhante à substituição de importação. Bolsonaro e
seu ministro da Economia, Paulo Guedes, também são criticados.
" Guedes se gabava de
que seriam feitas reformas para simplificar o código tributário, reduzir o
setor público e privatizar empresas estatais ineficientes. No entanto, o
espírito reformista se mostrou fugaz. Bolsonaro não é muito liberal. Seu desgosto
por reformas duras tornou fácil para o Congresso ignorar a agenda de
Guedes."
O relatório traz também
análises sobre corrupção e crime, Amazônia, reformas políticas e eleitores
evangélicos.
Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/brasil
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