Em tempo: não se trata de
negar a política, nem rechaçar discussões ideológicas, filosóficas,
conceituais, nem cair na cantilena da “discussão técnica” – como se a técnica
não fosse fruto de concepções de mundo, ou fosse “neutra”. Trata-se de
canalizar modos de enxergar o mundo para repensar o viver nas cidades. Diante
de contexto tão sui generis – uma crise fitossanitária escancarada e acentuando
mazelas históricas – tal repensar se torna ainda mais relevante. E
determinante.
Como candidatos e candidatas a
Prefeituras e Câmaras de Vereadores – e são mais de 542 mil postulantes em todo
o Brasil, segundo o Tribunal Superior Eleitoral – pretendem, por exemplo,
conduzir o retorno às aulas presenciais em 2021? O que propõem para a volta
segura, e inclusiva? O que apresentam para recuperar este ano letivo, perdido,
para boa parte de crianças e adolescentes?
Quando falamos “retorno às
aulas”, “volta segura” não estamos a tratar apenas de exigir álcool em gel e
máscara para estudantes e educadores. Estamos falando de políticas educacionais
no âmbito municipal adequadas ao tal “novo normal”, levando em conta um baita
empecilho extra: a total falta de uma articulação coordenada pelo Ministério da
Educação, a julgar por palavras recentes do próprio titular da pasta.
Que instrumentos – fiscais,
inclusive – o poder público municipal pode lançar mão para combater
desigualdades socioeconômicas locais? Precisamos perguntar isso aos postulantes
ao Executivo e Legislativo municipais, e exigir dessas centenas de milhares de
candidatos coerência e propostas de equidade. Garantir renda básica, fomentar a
economia solidária – ou a Economia de Francisco e Clara – é conduzir a vida nas
cidades por um caminho mais justo, seguro e sustentável.
Frente à artilharia pesada
contra a natureza lançada de Brasília pelo Ministério do Meio Ambiente, como
prefeitos e vereadores podem agir, em suas localidades, para assegurar
preservação e o uso racional de recursos? Entendem a importância da adoção em
edificações públicas de fontes renováveis de energia, por exemplo? Estão
dispostos a enfrentar o culto ao automóvel para implementar medidas de
prioridade absoluta ao transporte coletivo?
O repensar o viver as cidades
passa ainda pela forma com que a máquina pública vai ser administrada. Quais
candidatos defendem funções do Estado nas mãos do poder público, e não
terceirizadas a organizações que em nada melhoram a qualidade no atendimento de
UPAs, postos de saúde e ambulatórios de especialidades? Propõem uma vida mais
saudável, ao priorizar merenda orgânica, incentivar feiras agroecológicas,
investir em equipes de saúde da família por todo o território?
As alianças, a definição das
chapas deveriam ter se baseado nessas perspectivas. Infelizmente não foi a
regra; as composições mais miraram 2022 – pavimentando candidaturas, ou
tentando tirar outras do páreo – e menos estiveram voltadas para a convergência
de nomes e siglas em torno de um caminho para um outro mundo, possível. Mas ainda
dá tempo de inverter essa ordem de prioridades.
Fonte: https://brasildebate.com.br
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