Ao invés de utilizar a verba
nesta finalidade, o presidente Jair Bolsonaro desviou o valor doado
especificamente para a compra de testes rápidos da Covid-19 para o programa
Pátria Voluntária, liderado pela primeira-dama, Michelle. Ou seja, contrariou
informação dada pela Casa Civil da Presidência da República que havia dito que
o dinheiro seria usado para fazer os testes.
No dia 1º de julho, no
entanto, com o dinheiro já transferido, o governo Bolsonaro consultou a Marfrig
sobre a possibilidade de utilizar a verba em outras ações de combate à
pandemia. O jornal Folha de São Paulo mostrou na quarta-feira (30/09), que o
programa da Michelle repassou dinheiro do Arrecadação Solidária, sem edital de
concorrência, a instituições missionárias evangélicas aliadas da ministra
Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), para a compra e
distribuição de cestas básicas.
A doação da Marfrig
representam quase 70% da arrecadação do programa até agora - R$ 10,9 milhões. Na
ocasião das doações a empresa citou o Ministério da Saúde e celebrou o gesto.
"Esperamos que nossa iniciativa seja seguida por outras companhias
brasileiras", disse o presidente do conselho de administração da empresa,
Marcos Molina.
Ela também lembrava que em 22
de março, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que o
governo tentaria firmar parcerias com a iniciativa privada para financiamento
de parte das compras dos kits. Reportagem da Folha publicada em 1º de abril
mostrou que, para conseguir fazer os testes na época, era necessário ser
profissional de saúde ou de segurança, estar em estado grave ou ter morrido.
Segundo a Marfrig, a Casa
Civil da Presidência, responsável por coordenar o programa da primeira-dama,
enviou em 20 de maio "comunicação oficial" com detalhes sobre o
programa de voluntariado e informando que os valores doados deveriam ser
depositados numa conta da Fundação do Banco do Brasil, gestora dos recursos do
Pátria, "com fim específico de aquisição e aplicação de testes de
Covid-19".
“Dias depois, a Marfrig
realizou a transferência bancária do valor proposto, de acordo com as
orientações da Casa Civil”, relatou a empresa à Folha. No dia 1° de julho,
segundo ela, o destino do dinheiro transferido ao governo mudou.
A empresa diz ter sido então
consultada "sobre a possibilidade de destinar a verba doada não para a
compra de testes por parte do Ministério da Saúde, mas para outras ações de
combate aos efeitos socioeconômicos da pandemia de Covid-19, especificamente o
auxílio a pequenos negócios de pessoas em situação de vulnerabilidade".
“Como a ação estava
diretamente ligada à mitigação dos danos causados pela pandemia, a Marfrig
concordou com a nova destinação dos recursos doados”, disse a empresa. A Folha
questionou a Casa Civil sobre o caso, mas não houve resposta até a conclusão da
reportagem.
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