Powered By Blogger

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

O passa e repassa de R$ 7,5 milhões ao programa de Michelle Bolsonaro

No dia 23 de março, a Marfrig, um dos maiores frigoríficos de carne bovina do país, anunciou que doaria R$ 7,5 milhões ao Ministério da Saúde para a compra de 100 mil testes rápidos do novo coronavírus. Na ocasião o país enfrentava as primeiras semanas da pandemia e a falta desse material, enquanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) orientava testar a população.

 

Ao invés de utilizar a verba nesta finalidade, o presidente Jair Bolsonaro desviou o valor doado especificamente para a compra de testes rápidos da Covid-19 para o programa Pátria Voluntária, liderado pela primeira-dama, Michelle.​ Ou seja, contrariou informação dada pela Casa Civil da Presidência da República que havia dito que o dinheiro seria usado para fazer os testes.

 

No dia 1º de julho, no entanto, com o dinheiro já transferido, o governo Bolsonaro consultou a Marfrig sobre a possibilidade de utilizar a verba em outras ações de combate à pandemia. O jornal Folha de São Paulo mostrou na quarta-feira (30/09), que o programa da Michelle repassou dinheiro do Arrecadação Solidária, sem edital de concorrência, a instituições missionárias evangélicas aliadas da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), para a compra e distribuição de cestas básicas.

 

A doação da Marfrig representam quase 70% da arrecadação do programa até agora - R$ 10,9 milhões. Na ocasião das doações a empresa citou o Ministério da Saúde e celebrou o gesto. "Esperamos que nossa iniciativa seja seguida por outras companhias brasileiras", disse o presidente do conselho de administração da empresa, Marcos Molina.

 

Ela também lembrava que em 22 de março, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que o governo tentaria firmar parcerias com a iniciativa privada para financiamento de parte das compras dos kits. Reportagem da Folha publicada em 1º de abril mostrou que, para conseguir fazer os testes na época, era necessário ser profissional de saúde ou de segurança, estar em estado grave ou ter morrido.

 

Segundo a Marfrig, a Casa Civil da Presidência, responsável por coordenar o programa da primeira-dama, enviou em 20 de maio "comunicação oficial" com detalhes sobre o programa de voluntariado e informando que os valores doados deveriam ser depositados numa conta da Fundação do Banco do Brasil, gestora dos recursos do Pátria, "com fim específico de aquisição e aplicação de testes de Covid-19".

 

“Dias depois, a Marfrig realizou a transferência bancária do valor proposto, de acordo com as orientações da Casa Civil”, relatou a empresa à Folha. No dia 1° de julho, segundo ela, o destino do dinheiro transferido ao governo mudou.

 

A empresa diz ter sido então consultada "sobre a possibilidade de destinar a verba doada não para a compra de testes por parte do Ministério da Saúde, mas para outras ações de combate aos efeitos socioeconômicos da pandemia de Covid-19, especificamente o auxílio a pequenos negócios de pessoas em situação de vulnerabilidade".

 

“Como a ação estava diretamente ligada à mitigação dos danos causados pela pandemia, a Marfrig concordou com a nova destinação dos recursos doados”, disse a empresa. A Folha questionou a Casa Civil sobre o caso, mas não houve resposta até a conclusão da reportagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário