O novo coronavírus revela-se
veloz no contágio. Através da circulação de pessoas pelo mundo chegou a todos
os cantos do planeta em poucas semanas. Sem remédio eficaz e sem vacina para
imunização, tem rápida e alta letalidade.
Os países que bem organizaram
o difícil processo de isolamento estão colhendo bons resultados: controle da
infecção, diminuição do contágio e queda do número de mortes. O isolamento abre
um tempo precioso para planejar a luta de todos contra esse inimigo invisível e
desconhecido. Realizar investimentos no sistema de saúde, produzir e orientar o
uso de equipamento de proteção e difundir os protocolos de distanciamento
social; organizar a proteção à saúde dos trabalhadores em atividades essenciais
e planejar a retomada segura das atividades para um momento futuro. Investir em
pesquisas para inventar remédio e vacina. No isolamento, usar o tempo para
construir saídas.
Por isso, a previsibilidade
desejada e requerida é construída com inteligência de gestão, investimento na
criação de medidas e procedimentos, na cooperação entre governantes, gestores
públicos, empresas, sindicatos e comunidades. Comitês multipartites de gestão
da crise com assessoria de grupos científicos são essenciais. Quem apostou na
cooperação, na ciência e investiu na coordenação e mobilização está colhendo
bons resultados.
No Brasil o Governo Federal
aposta em outra estratégia na qual joga com o confronto, a descoordenação, a
desinformação, a competição com os entes federados e o descrédito da ciência. O
país insiste em seguir na contramão dos casos de sucesso no combate a esta
pandemia. Repudiado no mundo, aqui o genocídio tem cara e método. O Governo
Federal dividiu quando deveria unir, competiu quando deveria cooperar,
concorreu quando deveria colaborar, desorganizou quando deveria coordenar. Essa
estratégia dará vitória à morte, destruirá a economia e produzirá o caos
social.
E daí? Afirma o Presidente da
República!
Abrem-se valas para enterrar
os milhares, pobres e trabalhadores, que tombaram na linha de frente comandada
pela governança da morte. O Brasil já disputa o topo da lista do pior caso de
gestão dessa crise no planeta.
Perdeu-se no país precioso
tempo nos isolamentos iniciados em março e que agora seguem para a
flexibilização. Não temos o SUS ampliado e atuando nacionalmente com as equipes
de saúde da família na prevenção; não há estruturas locais suficientes para o
isolamento; é limitada a capacidade de atendimento dos hospitais; não existe um
sistema coordenado de rastreamento do vírus, nem método difundido de
isolamento; faltam controles e testes em massa. O isolamento abriu tempo para
fazer todas essas coisas. Fez-se pouco diante do que era necessário.
O contágio continua crescendo
e o número de mortes aumenta a cada dia. Os governos locais cedem às pressões e
começam a flexibilizar o isolamento, o fluxo de pessoas explode, as proteções
prometidas inexistem na maioria dos casos. No caos, o invisível vírus mobiliza
o espectro da morte na segunda onda de contágio e de óbitos. Cidades e estados
já colhem resultados e enterram seus mortos. Uma crise humanitária sem
precedentes ganha a cada dia mais crueldade.
Previsibilidade nessa
dinâmica? A que temos é que até agosto serão 120 mil mortes e 200 mil até o
final do ano!
Prognóstico: medo, insegurança
e recuos. A economia passará a operar em uma dinâmica de sanfona, abrindo e
fechando as atividades, dinâmica que mata empregos e empresas. A paralisação da
atividade produtiva nessa primeira fase de isolamento, em uma economia que já
vinha cambaleante, indica uma recessão com queda de 10% no PIB neste ano. Uma
economia em queda e que opera em sanfona, abre a porta para a depressão
econômica.
Probabilidade: caos social e
conflitos que abre a possibilidade para aventuras políticas autoritárias.
Não se pode voltar no tempo e
fazer o que não se fez. É preciso olhar para frente. Poderíamos ter evitado a
capotagem tão grave da economia. Não há mais como evitar o que já está em
curso. Há que mitigar os danos, cuidar dos estragos e das destruições. Retomar
o caminho o já!
Criando comitê nacional de
gestão da crise com a participação de governadores, secretários, de cientistas
e especialistas, para promover um novo e bom plano de atuação para a proteção
da vida de todos e, em paralelo, a proteção das empresas, dos empregos e da
renda.
Mobilizar a proteção da
democracia e manter funcionando bem as instituições do Estado Democrático de
Direito.
A sociedade civil e política
deve investir na coordenação das ações, na cooperação entre iniciativas e
planos, na articulação e integração de projetos e propostas.
Por: Clemente
Ganz Lúcio, sociólogo, assessor técnico das Centrais Sindicais, professor e foi
diretor técnico do DIEESE (2004-2019) e membro do CDES (2004-2016).
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