Nos últimos 50 anos a
indústria brasileira é que mais apresenta recuo no mundo. Pesquisa encomendada
pelo Iedi - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial - mostra que
participação do setor no PIB caiu de 21,4% a 12,6% nesse período e o setor no
Brasil teve a terceira maior retração entre 30 países, desde 1970, ficando
atrás apenas de Austrália e Reino Unido.
Nos anos 1980 o peso da
indústria de transformação no PIB era de 33%, hoje é de 16% - nos últimos cinco
anos o comércio exterior desse setor passou de um superávit para um déficit de
65 bilhões de dólares. A relação de manufaturados nas exportações totais chegou
a atingir 59%, mas atualmente está na casa dos 40%.
Os números atestam que enfrentamos
um processo contínuo de desindustrialização. Os dados levam em conta o
resultado da produção industrial até 2017. No ano seguinte, houve avanço de
1,1%, mas o setor voltou a ter desempenho negativo neste ano, e sinaliza que a
recuperação ainda está distante.
Em maio, a indústria recuou
0,2%, com isso, acumula queda de 0,7% nos primeiros cinco meses do ano. Na opinião
dos economistas Paulo Morceiro e Milene Tessarin, da Fipe/USP os resultados
impressionam não apenas pela queda, mas também pelo fato de que esse declínio é
considerado prematuro.
Para Paulo Morceiro, um dos
motivos para o declínio industrial brasileiro foi a falta de investimento em
tecnologia. “A nossa desindustrialização é diferente. Acontece desde 1981, e a
nossa renda per capita aumentou pouco, de US$ 12 mil para US$ 15 mil. Nos
outros países ela aumentou muito mais. A desindustrialização é precoce não só
porque a indústria perdeu participação muito cedo, mas porque a renda per
capita avançou muito pouco” explica.
E que em outros países, ao
perder a participação no PIB, à indústria migra para serviços dinâmicos, a
partir de um investimento anterior na área tecnológica. Atualmente, os países
desenvolvidos já investem na indústria 4.0, que integra diversas tecnologias.
“Nos EUA, por exemplo, a
indústria perde participação, mas a indústria que fica é a tecnológica. As
empresas que produziam computadores começaram a desenvolver softwares.
Conseguiram fazer uma melhor transição, porque dentro da indústria os setores
de maior tecnologia ganharam participação. No Brasil não, a indústria que
perdeu participação não conseguiu amadurecer. Aqui, dois terços da nossa
produção industrial é de baixa ou média tecnologia, não é na parte dinâmica. E
o que foi para serviços, foi para serviços de menor qualidade, como o informal e
o comércio — ressalta”.
O economista do Iedi, Rafael
Cagnin diz que o caso brasileiro é mais grave porque nossa indústria começou a
perder peso na estrutura produtiva antes mesmo de a população enriquecer, não
ter ainda atingido um melhor nível de renda quando começou o processo e observam-se
dois períodos de retrocesso, entre 1981 e 1998 e de 2009 até hoje, que não
houve crescimento do PIB per capita, como em outros países.
“Quando um país se
desenvolve, a renda per capita das famílias cresce e, com isso, é natural que
eles consumam mais serviços e menos bens. Isso faz com que haja uma redução no
peso do setor da indústria no PIB ao longo do processo de enriquecimento dos
países, como aconteceu nos EUA, na Europa e no Japão”. Para ele o caso brasileiro
é mais grave por ser uma desindustrialização prematura.
“É uma desindustrialização
prematura, já que a nossa indústria começou a perder peso na estrutura
produtiva antes mesmo de a população enriquecer. Não atingimos a renda per
capita dos outros países à medida que perdemos participação da indústria no PIB”,
explica.
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