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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Desindustrialização no Brasil faz participação do setor no PIB cair


Nos últimos 50 anos a indústria brasileira é que mais apresenta recuo no mundo. Pesquisa encomendada pelo Iedi - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial - mostra que participação do setor no PIB caiu de 21,4% a 12,6% nesse período e o setor no Brasil teve a terceira maior retração entre 30 países, desde 1970, ficando atrás apenas de Austrália e Reino Unido.

Nos anos 1980 o peso da indústria de transformação no PIB era de 33%, hoje é de 16% - nos últimos cinco anos o comércio exterior desse setor passou de um superávit para um déficit de 65 bilhões de dólares. A relação de manufaturados nas exportações totais chegou a atingir 59%, mas atualmente está na casa dos 40%.

Os números atestam que enfrentamos um processo contínuo de desindustrialização. Os dados levam em conta o resultado da produção industrial até 2017. No ano seguinte, houve avanço de 1,1%, mas o setor voltou a ter desempenho negativo neste ano, e sinaliza que a recuperação ainda está distante.

Em maio, a indústria recuou 0,2%, com isso, acumula queda de 0,7% nos primeiros cinco meses do ano. Na opinião dos economistas Paulo Morceiro e Milene Tessarin, da Fipe/USP os resultados impressionam não apenas pela queda, mas também pelo fato de que esse declínio é considerado prematuro.

Para Paulo Morceiro, um dos motivos para o declínio industrial brasileiro foi a falta de investimento em tecnologia. “A nossa desindustrialização é diferente. Acontece desde 1981, e a nossa renda per capita aumentou pouco, de US$ 12 mil para US$ 15 mil. Nos outros países ela aumentou muito mais. A desindustrialização é precoce não só porque a indústria perdeu participação muito cedo, mas porque a renda per capita avançou muito pouco” explica.

E que em outros países, ao perder a participação no PIB, à indústria migra para serviços dinâmicos, a partir de um investimento anterior na área tecnológica. Atualmente, os países desenvolvidos já investem na indústria 4.0, que integra diversas tecnologias.
“Nos EUA, por exemplo, a indústria perde participação, mas a indústria que fica é a tecnológica. As empresas que produziam computadores começaram a desenvolver softwares. Conseguiram fazer uma melhor transição, porque dentro da indústria os setores de maior tecnologia ganharam participação. No Brasil não, a indústria que perdeu participação não conseguiu amadurecer. Aqui, dois terços da nossa produção industrial é de baixa ou média tecnologia, não é na parte dinâmica. E o que foi para serviços, foi para serviços de menor qualidade, como o informal e o comércio — ressalta”.

O economista do Iedi, Rafael Cagnin diz que o caso brasileiro é mais grave porque nossa indústria começou a perder peso na estrutura produtiva antes mesmo de a população enriquecer, não ter ainda atingido um melhor nível de renda quando começou o processo e observam-se dois períodos de retrocesso, entre 1981 e 1998 e de 2009 até hoje, que não houve crescimento do PIB per capita, como em outros países.

“Quando um país se desenvolve, a renda per capita das famílias cresce e, com isso, é natural que eles consumam mais serviços e menos bens. Isso faz com que haja uma redução no peso do setor da indústria no PIB ao longo do processo de enriquecimento dos países, como aconteceu nos EUA, na Europa e no Japão”. Para ele o caso brasileiro é mais grave por ser uma desindustrialização prematura.

“É uma desindustrialização prematura, já que a nossa indústria começou a perder peso na estrutura produtiva antes mesmo de a população enriquecer. Não atingimos a renda per capita dos outros países à medida que perdemos participação da indústria no PIB”, explica.

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