Doria venceria com um
resultado de 40,6% a 38,1% do presidente. Como a pesquisa tem 2 pontos porcentuais
de margem de erro para cima ou para baixo, eles ainda estão empatados, mas é a
primeira vez que o governador paulista aparece no páreo para se eleger. Em
maio, Doria ficava 6,1% atrás de Bolsonaro na simulação de segundo turno.
O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ampliou a vantagem sobre Bolsonaro em comparação à pesquisa
anterior e venceria por 49,2% contra 38,1%, num eventual segundo turno, num
cenário com 12,8% de votos nulos ou brancos. Em maio, a vantagem de Lula era de
4,7% sobre o presidente. “A tendência é de fortalecimento de Lula”, diz o
cientista político Andrei Roman, CEO do Atlas. “Desde o início do ano, Lula vem
numa trajetória constante de crescimento”, completa.
Também Ciro Gomes (43,1% a
37,7%), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (42,9% a 37,5%), e o
ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (41,9% a 38,4%) ampliaram sua
preferência, e poderiam frustrar o sonho da reeleição do presidente em 2022.
O levantamento confirma o
momento de baixa de Bolsonaro, enquanto ele intensifica a campanha contra o
sistema eleitoral eletrônico, mesmo sem ter provas para sustentar o que afirma,
como mostrou sua live nesta quinta. Segundo a Atlas Político, a rejeição ao
presidente subiu e chegou a 62% neste final de julho, contra 36% de aprovação.
Trata-se de uma alta de cinco pontos porcentuais em relação a maio, quando a
CPI da Pandemia começou. A Comissão Parlamentar apontou irregularidades em
contratos de compra de vacinas, como a indiana Covaxin, e suspeitas de pedidos
de propina em outras negociações que atingem inclusive militares que ocupavam
cargo no Ministério da Saúde.
Roman lembra que o
noticiário tem sido negativo para Bolsonaro desde o início do ano, com a
pandemia, que teve seu ápice em março e abril, até que a vacinação pegasse
velocidade. “Há, ainda, os problemas da vida cotidiana. O impacto econômico da
pandemia, com os brasileiros desempregados, a renda menor. E milhares de
brasileiros que perderam alguém querido para pandemia”, explica Roman.
As ameaças à democracia,
quando sugeriu, no início deste mês, que as eleições poderiam não se realizar ,
não são fatores captados pelo eleitor ouvido na pesquisa. “Pode ser que isso
gere uma polarização maior na sociedade, que neste momento se consolide uma
maioria contra Bolsonaro, mas também é algo que mobiliza a sua base”, observa
Roman. “Não há derretimento de sua imagem por causa da retórica contra as
instituições, nem com a insistência na fraude em eleição, uma tese aventada
desde as eleições de 2018”, completa.
Mas seus adversários também
se fortalecem. O ex-presidente Lula, por exemplo, que já teve 60% de rejeição
em maio do ano passado, hoje tem 54%. Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à
presidência, também já teve 60% de rejeição em novembro do ano passado e hoje
tem 50%. Ciro, porém, ainda avança lentamente no ranking de preferência dos
eleitores. Alcança 6,2% da preferência numa simulação de primeiro turno com
Lula, Bolsonaro, Mandetta, os apresentadores Danilo Gentile e Luiz Datena, além
do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB). Em maio, Ciro tinha 5,7% das
preferências.
Rejeição
no Nordeste e no Sul
Na divisão dos eleitores por religião, o presidente tem uma aprovação de 52% dos entrevistados evangélicos, contra 45% que desaprovam o seu desempenho. Entre os católicos, a rejeição vai a 69% contra 29% que o aprovam. Já na divisão por renda, Bolsonaro tem rejeição maior que 50% em todas as faixas. Seu melhor desempenho está entre os eleitores que ganham entre 3000 e 10.000 reais (43% dos entrevistados aprovam sua gestão) e 2.000 e 3.000 reais (42%). Sua maior rejeição vem entre os que ganham até 2.000 reais (69%), e os que ganham acima de 10.000 reais (também 69%, como mostra o quadro abaixo). Os eleitores do Nordeste e Sul do Brasil são os mais refratários ao presidente: 73% e 65%, respectivamente.
O cientista político lembra
que apesar do momento de baixa, a rejeição ao presidente não é irreversível.
“Quem não votou nele continua rejeitando, mas quem votou, não”, diz Roman. A
pesquisa mostra que 70% dos eleitores que votaram nele em 2018 continuam
aprovando seu Governo. “Bolsonaro se elegeu com 57,7 milhões de votos. Mesmo
com a perda de apoio de parte desses eleitores, ele continua forte”, explica.
Os
‘nem nem’ e Eduardo Leite
Segundo Roman, há 23% do
eleitorado que não quer votar nem em Lula nem em Bolsonaro. É nesse espaço que
seus adversários tentam construir uma terceira alternativa para o eleitor, por
ora, sem sucesso. Na simulação com todos os potenciais candidatos, nenhum
alcança dois dígitos nas preferências, até o momento. Não é uma tarefa fácil,
explica o CEO da Atlas Político, pois seria necessário um nome que tirasse
votos de ambos que têm um eleitorado já consolidado. Juntos, eles somam mais de
70% do eleitorado.“Esse é um espaço que não foi criado, e o potencial candidato
precisa mostrar que as suas propostas são melhores que as de Lula e Bolsonaro”,
avalia.
Roman vê no governador
Eduardo Leite um potencial de crescimento capaz de criar essa alternativa. Seu
nome foi testado na pesquisa da Atlas Político em maio, quando alcançou 1,1%
das preferências. No início deste mês, Leite ficou no centro das atenções do
país após uma entrevista ao jornalista Pedro Bial em que assumiu publicamente
sua homossexualidade. Falou também da sua intenção de concorrer as prévias
tucanas para ser candidato à presidência, distiaciando-se dos dois líderes nas
pesquisas. Depois da exposição, foi entrevistado por jornais de todo o Brasil e
seu nome ganhou mais força.
Na pesquisa desta sexta, ele
aparece com 3,1% das preferências, logo atrás do governador João Doria, que tem
3,5%. “Ele é o fator novidade. Se ultrapassar o Doria, fica numa posição bem
interessante para avançar, com chances do segundo turno”, opina Roman. “Aí,
todo o jogo político seria reinventado”, completa.
Leite tem a vantagem de ser
desconhecido (43% dos entrevistados não sabiam quem é ele) e portanto com
rejeição menor que os outros nomes no páreo: 37% contra 62% de rejeição a
Bolsonaro e 54% de Lula. Já o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que está
menos exposto ao público nos últimos meses, tem uma rejeição similar à de Lula
e numa simulação de segundo turno seria derrotado por Bolsonaro.
A um ano e três meses da
próxima eleição, ainda é cedo para cravar qualquer resultado, especialmente num
cenário em que se desenham cascas de banana com a campanha do presidente contra
a urna eletrônica. A pesquisa da Atlas Político foi feita a partir entrevistas
online com 2.884 pessoas levando em conta região, faixa etária, gênero e faixa
de renda. As respostas são calibradas por um algoritmo de acordo com o perfil
do eleitorado.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil
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