As empresas estão mudando a
estrutura e a organização do sistema produtivo. A propriedade empresarial vai
passando para novos acionistas, que estão ávidos pelo máximo lucro. Para isso,
terceirizam riscos e custos. Novas tecnologias para a energia, a comunicação e
o transporte criam condições inéditas para uma outra concepção de cadeia
produtiva, de logística e de localização. O custo hora de um metalúrgico
europeu é 25 vezes maior do que o de um metalúrgico argelino.
A inteligência artificial e
a internet geram a possibilidade, em velocidade alucinante, de as máquinas
ocuparem cada vez mais espaços nas atividades produtivas e passam a transformar
em atividades econômicas todas as atividades humanas. A industrialização
transforma, potencialmente, todas as atividades humanas em produção econômica e
consumo.
Rapidamente, todas as
atividades laborais passam a ser mediadas ou assistidas por máquinas e
inteligência artificial. Em breve, e cada vez mais, as máquinas substituirão as
atividades humanas e os humanos vão auxiliá-las.
As empresas, em velocidade
estonteante, disputam mercados e aceleram mudanças para competir e ganhar o
jogo da concorrência! Para isso, domínio da vanguarda tecnológica, velocidade e
intensidade na redução de custos laborais. Máquinas no lugar de gente, sem
custo e sem resistência.
A legislação trabalhista
muda para proteger as empresas, assegurando que as mudanças ocorram sem que
haja passivo trabalhista, sem mediação coletiva do sindicato. Formas flexíveis
de contrato, jornada e remuneração, redução dos direitos dão às empresas a
possibilidade de ajuste estrutural da força de trabalho para promover a
presença crescente da máquina.
O novo sistema produtivo
emerge no atual velho mundo e ganha dominância. Os sindicatos são sujeitos
coletivos que nasceram e fizeram história nesse sistema produtivo que definha,
morre e, ao mesmo tempo, se transforma. Os sindicatos que conhecemos definharão
e morrerão junto com esse sistema produtivo.
Mas não é só isso. Os
sindicatos devem ser intencionalmente colocados fora do jogo social para não
atuarem e disputarem essa mudança econômica. O mundo do trabalho deve ser
flexibilizado no limite do necessário, sem resistência. A lógica dominante é
sair do emprego para o trabalho, da proteção social para o assistência, do
direito para o mérito. Há um novo jovem trabalhador sendo ideologicamente
formado, avesso ao outro e à solidariedade, individualista e sem utopia para o
futuro.
O sindicato de hoje não é a
organização que produzirá a resposta dos trabalhadores para esse novo sistema
produtivo; os dirigentes atuais não conhecem esse novo mundo do trabalho e não
serão capazes de, sozinhos, produzir a resposta sindical necessária. Sindicatos
e dirigentes têm enorme dificuldade para dialogar com esses novos trabalhadores
e não os compreendem.
Dramaticamente, é urgente
acordar! Esses sindicatos têm data marcada para morrer!
É essencial olhar para o
futuro! Para ser protagonista das mudanças que possibilitem aos trabalhadores,
desde já, serem sujeitos da história das novas e difíceis lutas que esse outro
mundo do trabalho exigirá. A utopia que leva à mudança, orientada pela justiça
social, precisa do fermento da criatividade e da ousadia da invenção.
Não
sejamos os coveiros da luta! Sejamos semeadores, no solo social da
transformação econômica, dos novos instrumentos e da nova organização para as
lutas sociais e políticas que ainda não somos capazes de imaginar, mas que
virão.
Por:
Clemente
Ganz Lúcio é Sociólogo, diretor técnico do DIEESE
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