A extrema pobreza subiu no
Brasil e já soma 13,5 milhões de pessoas sobrevivendo com até 145 reais
mensais. O número de miseráveis vem crescendo desde 2015, invertendo a curva
descendente da miséria dos anos anteriores. De 2014 para cá 4,5 milhões de
pessoas caíram para a extrema pobreza, passando a viver em condições
miseráveis. O contingente é recorde em sete anos da série histórica do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta do desemprego,
os programas sociais mais enxutos e a falta de reajuste de subvenções como o
Bolsa Família aumentam o fosso do mais pobres. O indicador de pobreza do Bolsa
Família, por exemplo, é de 89 reais, abaixo do parâmetro de 145 reais utilizado
pelo Banco Mundial.
A miséria atinge
principalmente estados do Norte e Nordeste do Brasil, em especial a população
preta e parda, sem instrução ou com formação fundamental incompleta. Mesmo os
filhos dessas famílias que queiram superar a condição de estudos dos pais
acabam paralisados pela limitação econômica familiar. A falta de renda acaba
empurrando os estudantes desse estrato para a evasão escolar. Entre ir à escola
ou trabalhar para evitar que a família passe fome, a segunda opção é a mais
óbvia. Segundo o IBGE, 11,8% dos jovens mais pobres abandonaram a escola sem
concluir o ensino médio no ano passado. Trata-se de um índice oito vezes maior
que o dos jovens ricos.
O crescimento da extrema
pobreza coincide com o início da recessão que começou em 2014 no Brasil e
terminou em 2016. Embora tenha continuado a subir, a velocidade é bem menor. De
2017 para 2018 foram 200.000 pessoas a mais que assumiram o status de
miseráveis. Um ano antes, porém, de 2016 para 2017, a alta havia sido de 1.339
milhão. Nesse período, o Brasil ajudou a inflar os dados de extrema pobreza em
todo o continente, como mostrou um estudo da Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (CEPAL, um órgão da ONU).
O IBGE, porém, aponta a
necessidade de um trabalho focado para este grupo. Segundo André Simões,
gerente do estudo Síntese de Indicadores Sociais, a saída da miséria desta
população depende de cuidados maiores. “É fundamental que as pessoas tenham
acesso aos programas sociais e que tenham condições de se inserir no mercado de
trabalho para terem acesso a uma renda que as tirem da situação de extrema
pobreza”, diz ele. Um dado do IBGE, porém, chama a atenção. Dos 13,5 milhões de
miseráveis, 13,6% tinham alguma ocupação, ainda que informal, cumprindo abaixo
das 40 horas de trabalho semanal.
O estudo sugere um
investimento extra de 1 bilhão de reais mensais para atender aos brasileiros em
condição de extrema pobreza. A projeção, porém, esbarra num momento em que o
Governo de Jair Bolsonaro está focado no aprofundamento do ajuste fiscal, como
mostrou o pacote do ministro Paulo Guedes nesta terça, e na ideia da redução do
papel do Estado, que foi abraçada pelo país desde o governo de Michel Temer.
Essa mudança se reflete, por exemplo, no número de usuários do Bolsa Família.
Hoje, 13,7% dos lares brasileiros recebem o benefício, contra 14,9% em 2014.
Uma das maiores críticas ao
governo de Jair Bolsonaro e à política econômica que adotou é a falta de foco
nos programas sociais. Bolsonaro foi criticado em julho deste ano por não ter
reconhecido que o país tinha um quadro preocupante de crescimento da pobreza,
que incluía uma população que passava fome.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/06/politica
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