“O Brasil vai ficar com os
casos explodindo e fronteira fechada por uns bons anos, se a gente continuar na
estratégia contra a covid que estamos usando agora.” A afirmação é do doutor em
microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) Atila Iamarino, na live mais
recente que ele apresentou no YouTube, na quarta-feira (31). Diante disso, foi
taxativo em prever que não haverá carnaval em 2022, da mesma forma como não
houve este ano.
O divulgador científico
afirmou que “o que a gente tá fazendo até agora não resolve a pandemia aqui no
Brasil”. Utilizando alegorias para explicar o cenário, disse que não adianta
apenas a vacinação, ela tem de vir junto com o lockdown. “Sem essas medidas,
isso não vai passar. Não tem carnaval de 2022. Não sou eu falando, estou
constatando o que está acontecendo. A gente está com o braço quebrado e se a
gente não parar para deixar esse braço se regenerar, ele vai continuar doendo e
você vai continuar sem poder usar esse braço. O Brasil não está deixando a
ferida da covid cicatrizar.”
Atila continua seu raciocínio
reforçando o que ele mesmo já havia dito, além de um sem número de outros
especialistas na área. “As vacinas sozinhas não fazem o trabalho de segurar o
vírus. É preciso das medidas de distanciamento social, de fechamento, de
máscara”, afirma, acrescentando as conclusões de um estudo sobre o Reino Unido,
que usam vacinas com a mesma eficácia que o Brasil. “São suficientes pra
impedir o vírus? Não são. Só essas vacinas, mesmo se grandessíssima parte for
vacinada, não impedem a transmissão do vírus.”
Troca de presidente
Outro exemplo usado por ele
para mostrar a necessidade urgente da combinação entre medidas claras de
distanciamento e imunização eficiente é a melhora consistente na situação da
crise nos Estados Unidos. Segundo o biólogo, o país está até ensaiando ter o
Dia da Ação de Graças com as pessoas se reunindo no final deste ano, em 25 de
novembro.
Os Estados Unidos eram de
longe o país mais crítico no que diz respeito à pandemia, com mortes diárias
acima de 3 mil entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano. Porém,
neste meio tempo houve a troca de governo. Saiu Donald Trump, “mestre” de Jair
Bolsonaro, e entrou Joe Biden, que passou a valorizar as medidas de isolamento
sugeridas por toda a comunidade científica internacional, e acelerou a
vacinação. Resultado, nas últimas semanas eles raramente superam mil mortes
diárias em uma curva claramente descendente.
Bolsonaro não comprou vacinas
em 2020
A farmacêutica Pfizer fez a
primeira oferta de 70 milhões de doses em 14 de agosto de 2020 e o governo
federal não se interessou. Instituto Butantan ofereceu milhões de doses da
CoronaVac ao governo em 30 de julho, 18 de agosto e 7 de outubro. O governo
nunca se interessou.
Além disso, embora o
ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, tenha afirmado que encontrou
dificuldade em negociações com o consórcio Covax Facility, da Organização
Mundial de Saúde (OMS), pessoas ligadas às conversas, segundo apurou matéria da
Folha de São Paulo, apontam que foi da pasta a decisão de adquirir doses para
apenas 10% da população por meio da iniciativa.
A Pfizer não foi a única a ter
propostas rejeitadas. Documentos mostram que outros laboratórios também tiveram
ofertas que previam entregas mais cedo ignoradas, a exemplo do Instituto
Butantan, que hoje é responsável por pelo menos 78% das vacinas já distribuídas
no país contra a Covid.
Desumanidade
Aqui no Brasil, por outro
lado, os números da covid só sobem e há mais de um mês não tem um dia em que
não são registrados pelo menos dois mil óbitos. A chamada média móvel está
beirando 3 mil por dia, batendo recorde atrás de recorde. O número oficial de
mortes já está acima dos 330 mil, com uma subnotificação estimada em torno de 35%.
Segundo a Universidade de Washington, serão mais de 560 mil mortes até meados
de julho.
“A gente podia ter esse
discurso de que covid não matava quando era uma pessoa na TV que aparecia
morrendo. Agora já é alguém do bairro, do quarteirão, do condomínio, da
família, um amigo próximo”, diz Atila Iamarino. “Eu não sei o que a gente
precisa ver pra mudar essa situação no Brasil. O meu limiar de desumanidade já
passou faz muito tempo, mas aparentemente, pra quem toma decisões, isso ainda
não chegou”, conclui.
Por: Rovena
Rosa/Agência Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário