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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

A maior das ameaças; opinião de Orlando Silva


Os ataques cada vez mais destemperados de Bolsonaro e seus principais auxiliares à imprensa, aos jornalistas, ao parlamento, ao Supremo e a quase tudo aquilo que ainda lembra a institucionalidade democrática brasileira são evidências de que vivemos tempos anormais – e muito perigosos.

Aqueles que acreditaram que Bolsonaro seria moderado pelo exercício do poder deram com os burros n`água e agora percebem, perplexos, que estamos diante de um presidente autoritário por convicção e com aspirações a déspota. O “teste de estresse” institucional permanente, conforme apontou Sergio Fausto, diretor da Fundação FHC, em entrevista ao Valor Econômico, é o modus operandi do bolsonarismo, com vistas a solapar a democracia e não a aperfeiçoar.

A tática consiste em atacar sempre e em várias frentes. Havendo reação à altura, ensaia-se um arremedo de recuo a pretexto de má compreensão ou distorção daquilo que foi dito. Mantendo-se em ofensiva permanente, Bolsonaro pode desviar o foco de assuntos que lhe são desfavoráveis, como a estranha morte do miliciano da cozinha de sua família, e avançar linhas rumo ao arbítrio, transformando as aberrações em “novo normal” da política.

Vou exemplificar para tornar mais nítido. O país mal se recuperou da grotesca e misógina afirmação do presidente sobre a repórter Patrícia Campos Mello – caso claro de quebra de decoro, diga-se – e seu braço direito, General Augusto Heleno, resolveu voltar suas baterias contra o parlamento: “Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se”, disse. Na mesma semana, dois golpes contra colunas mestras da democracia, a imprensa livre e o legislativo independente.

O ministro-chefe do GSI, inclusive, é reincidente em seus rompantes antidemocráticos. Basta lembrarmos que o general participou das manifestações de nítido viés fascista, em meados do ano passado, que tinham entre suas pautas o fechamento do STF e do Congresso, ou da contemporização quando Eduardo Bolsonaro ameaçou o país com a reedição do AI-5, entre outras posturas absurdas.

É muito preocupante o tipo de relação estabelecido pelo governo e figuras provenientes das forças armadas. Atualmente, os postos mais importantes do 1º escalão, aqueles do entorno do presidente, são exercidos por militares. As Forças Armadas desempenham importante papel institucional, são uma carreira de Estado, respeitadas pela sociedade. Esse valor simbólico, recuperado décadas após o término da ditadura, pode ser maculado ao deixarem que a instituição seja confundida com as idiossincrasias do presidente ou do governo.

O ano não será nada fácil para o país e para o governo. Os sinais apontam que a economia continuará se arrastando, sem a prometida retomada vigorosa. As complicações políticas e policiais que cercam o presidente e seu clã se avolumam e projetam turbulências ainda maiores que em 2019. Acoado e sem resultados a mostrar, a tendência é que Bolsonaro e seus sequazes se tornem mais agressivos e flertem com a ruptura.

Os otimistas dizem que as instituições estão funcionando, mas talvez a prudência recomende o questionamento no lugar da afirmação: funcionarão por quanto tempo? Daí a necessidade premente de unir as forças políticas e a sociedade para defender o país da maior das ameaças.

Por: Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Algo se move nas elites contra Bolsonaro


As elites brasileiras sempre souberam se livrar dos incômodos, mesmo dos criados por ela mesma. Alguém já disse algo parecido. Desde que entramos no inverno da democracia, na ladeira dos retrocessos e nas trevas do obscurantismo,  com a posse de Bolsonaro, esta é a primeira vez que algo começa a se mover neste sentido,  de forma ainda incipiente, não planejada e imposta pelos desatinos do presidente e de seu governo.

Pois ainda que dispostas a aturar ataques à democracia e regressos civilizatórios em nome da agenda neoliberal, as elites podem estar começando a perceber que sob Bolsonaro não haverá reformas, nem ajuste fiscal, nem crescimento. Ficará o país andando de lado, assustando o mundo e os investidores com a algaravia do radicalismos bolsonaristas, enquanto os conservadores do Congresso tentam montar uma rede de proteção a Guedes, para que não jogue a toalha.  Na percepção das elites, Guedes faz e Bolsonaro desfaz, embora Guedes também dê seus tiros nos pé. Pediu desculpas às domésticas mas Bolsonaro, que até aqui sabotou a agenda econômica, agora cobra-lhe que dobre o pibinho até julho. No dia 4 de março o IBGE divulga oficialmente um PIB de algo em torno de 0,90% em 2019. Menor que o de 1,34% do último ano de Temer, 2018.

Aconteceram coisas graves demais nesta semana pré-carnaval. Bolsonaro ultrapassou todos os limites da indulgência ao atacar de forma indecorosa uma jornalista, com insultos misóginos, vulgares e machistas. Violou, como tenho dito, o inciso 7 do capítulo V da Lei 1070/50, a lei que tipifica os crimes de responsabilidade para efeito de impeachment do presidente, dos ministros de estado, de ministros do STF e do Procurador-Geral da República. Até agora não vingou nenhuma proposição penal, nem mesmo por crimes comuns, que também foram cometidos, como calúnia e difamação, mas algo se trincou. As condenações uníssonas vieram do Congresso, de toda a mídia, dos artistas, dos jornalistas, dos intelectuais, de toda a sociedade, e dos governadores.

Em seguida o general Heleno, ministro do GSI, foi flagrado chamando os congressistas de chantagistas. Na volta do carnaval os governistas terão de se virar para evitar que seja aprovado o requerimento do líder do PT no Senado, Rogerio Carvalho, convocando Heleno a dar explicações. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, está deixando correr.

O bolsonarismo militante tentará, no dia 15, corresponder ao que Heleno propôs nas redes. Que Bolsonaro chamasse o povo para explicitar apoio a ele, contra o Congresso. É a manifestação do “foda-se”, como está sendo chamada, ecoando o xingamento do general ao Congresso.  Esta receita, de Executivo peitando Legislativo, não costuma resultar em boa coisa. O Congresso voltará do Carnaval querendo garantir o acordo sobre as emendas orçamentárias: deixarão os R$ 31 bilhões em emendas por apenas R$ 20 bilhões mas o governo precisa enviar projeto neste sentido. Se não...derrubam o veto de Bolsonaro.

O Supremo lá está, espantado com o avanço da insubordinação policial, com as reiteradas ofensas ao decoro do cargo e o conflito entre os outros dois poderes. O amotinamento no Ceará, bem como as ameaças em outros estados, decorre do endosso do bolsonarismo às polícias. Bolsonaro criticou o senador Cid Gomes pelo uso da retroescavadeira, mas alguém o ouviu criticar os policiais encapuzados? Já seus filhos se solidarizaram: legítima defesa.

O governadores lá estão, tratando de se juntar para resistir à ofensiva anti-federação de Bolsonaro. Quem poderia imaginar João Dória defendendo o petista Camilo Santana, do Ceará? E não fica no caso das polícias. O Fundeb, que financia a educação básica, está parado no Congresso. O MEC lhes impõe políticas, como nova metodologia de alfabetização, sem qualquer diálogo. Noves fora a tentativa de Bolsonaro de lhes empurrar a conta pela alta dos preços dos combutíveis. Não haverá reforma tributária contra os governadores.

A mídia deu um sonoro basta em matérias e editoriais na quinta-feira. Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Istoé, todos descobrindo que Bolsonaro é uma ameaça à democracia.

Já o poder econômico vai concluindo que Bolsonaro é uma ameaça a seus interesses. O agronegócio vai perder muito dinheiro, por conta de tolices ideológicas, como confrontar os árabes prometendo transferir a embaixada em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém. Por conta também da política ambiental desastrosa, que transforma o Brasil em vilão global do meio ambiente.

A turma do capital financeiro já teme que, com tanta beligerância, não haverá reformas, nem ajuste fiscal, nem crescimento, nem segurança para investidores. E todos sabem que Bolsonaro não vai mudar, ele é o que é, e ninguém pode dizer que não sabia. Ele veio para tumultuar, não para harmonizar.

Onde ele quer chegar?  Talvez ao golpe, alegando que Congresso, mídia, governadores, esquerdas e outros mais não o deixam governar.  Mas os outros também podem se antecipar, se enxergarem condições políticas, pois a jurídicas existem. A toda hora ela comete um crime de responsabilidade por conduta.

Agora todos vão se calar para que as baterias toquem. Mas tenho a impressão de que, após o carnaval, o Brasil terá dobrado uma esquina.

Por: Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Lula e o papa Francisco condenam fascismo que cresce no Brasil


Depois de ter se encontrado nesta quinta-feira (13/02) com o papa Francisco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em Roma que “a ganância dos interesses empresariais e financeiros” é responsável pela revogação de conquistas dos trabalhadores e pelo aumento da desigualdade no mundo. Lula denunciou a “má vontade dos governantes” diante da questão ambiental e exortou os jovens a “lutar para garantir o seu espaço e o seu futuro no planeta terra”.

Lula foi recebido pelo papa em audiência privada na residência Santa Marta, no Vaticano, durante cerca de uma hora. Foi o primeiro encontro dos dois líderes, que havia trocado correspondência em 2018, quando Lula cumpria prisão ilegal em Curitiba. Em entrevista, o ex-presidente destacou os pontos principais da audiência: o combate à desigualdade, que será tema em março de um encontro mundial de jovens economistas convocado pelo papa, e também a questão ambiental.

“O mundo está ficando mais desigual e maioria dos trabalhadores está perdendo direitos”, disse Lula. “Muitas das conquistas que tivemos no Século XX estão sendo derrubadas pela ganância dos interesses empresariais e financeiros”. Lula recordou ter participado de encontros do G-20 após a crise financeira global de 2008, mas sem resultados: “Todas as decisões que tomávamos envolvendo interesses dos trabalhadores, desenvolver os países mais pobres, nada disso aconteceu”.

“O que aconteceu é que o sistema financeiro saiu mais forte e a economia mundial está financeirizada”, afirmou. “Hoje se ganha dinheiro produzindo papéis e vendendo facilidades, ao invés ganhar fabricando produtos e gerando empregos”. Lula disse que é alentadora a iniciativa do papa de debater a desigualdade com jovens economistas, porque “toca num assunto vital para o futuro”. E indagou: “Quem é que vai oferecer trabalho aos trabalhadores? Quem vai pagar salários? Quem é que vai cuidar das pessoas pobres, que nem oportunidade de emprego têm?”

Lula disse ter ouvido do papa que este, aos 84 anos de idade, “quer fazer coisas que sejam irreversíveis, que fiquem para sempre no seio da sociedade”. Segundo o ex-presidente, a inciativa de estimular a juventude a discutir a nova economia do mundo é uma necessidade. “Isso deve servir de exemplo para o movimento sindical, para outras igrejas e para os partidos políticos do mundo inteiro”.

O ex-presidente Lula foi às redes sociais nesta quinta-feira para demonstrar sua insatisfação com a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, que celebrou a alta do dólar em discurso permeado por preconceito de classe. Ele e o papa Francisco, reunidos nesta quinta-feira, condenaram o distanciamento entre os governantes e a parcela mais pobre da população brasileira, gesto típico dos regimes fascistas combatidos no mundo todo.

“É triste, e muita gente acha que exagero quando digo isso. Mas essa gente não suporta nem a ascensão social dos mais pobres, nem o desenvolvimento soberano do Brasil”, escreveu o líder petista, em uma rede social.

Solidariedade

Na véspera, em pronunciamento feito no Seminário de Abertura do Ano Legislativo da Revista Voto, em Brasília, Guedes disse que o dólar alto “é bom para todo mundo” e que em outros tempos, quando a economia brasileira estava melhor e o real mais valorizado, era uma “festa danada”, pois empregadas domésticas iam à Disneylândia.

Lula teve seu primeiro encontro com o Papa Francisco nesta quinta-feira. O contato entre os dois se iniciou ainda durante o cárcere político do ex-presidente. “Quero lhe manifestar minha proximidade espiritual e o encorajar pedindo para não desanimar e confiar em Deus”, disse o líder da igreja católica, em uma das cartas enviadas a Lula.

Na semana passada, o petista disse que vai agradecer o Papa pela solidariedade “em um momento difícil” e pela dedicação dele “ao povo oprimido”. Lula também afirmou que quer debater com a autoridade católica a experiência brasileira no combate à miséria.

Mapa da fome

Em entrevista ao jornal semanal Brasil de Fato, o teólogo brasileiro Leonardo Boff pontuou que um dos grandes temas do encontro seria a desigualdade social e afirmou que o papa Francisco “quer perguntar a Lula como é que ele conseguiu diminuir a desigualdade no Brasil”.

— É o encontro de dois grandes carismáticos, líderes reconhecidos mundialmente. Isso será bom para o papa, que colherá a experiência do Lula no processo de diminuição da desigualdade. Para o Lula, será importante encontrar-se com o papa, que tem as mesmas propostas de acusar e rejeitar esse sistema mundial que cria tantos pobres, agride a natureza e é anti-vida. O papa tem acusado essa desigualdade como consequência de uma forma de produzir e de explorar os trabalhadores e a própria natureza — disse o teólogo.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a pobreza no país caiu de um patamar de 42 milhões de pessoas, em 2002, para 14 milhões em 2014, ano em que o Brasil deixou o Mapa da Fome das Nações Unidas.

Lula foi presidente de 2003 a 2010. A fome no país teve uma redução de 82% entre 2003 e 2014, momento em que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) anunciou que o país tinha menos de 5% da população em condição de insegurança alimentar.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Bruno Covas reduziu verba para combate a enchentes em São Paulo

São Paulo amanheceu nesta segunda-feira (10) em meio ao caos. Com intensa chuva desde a noite de domingo, a cidade encontra-se com diversos pontos de alagamento, chegando ao ponto das marginais Tietê e Pinheiros, principais vias da cidade, serem interditadas por conta do transbordamento do Rio.

Segundo dados levantados por reportagem do R7, a gestão de Bruno Covas reduziu em 16,2% o valor orçado para combater as enchentes na cidade, no período de 2017 a 2019.

Em 2017 o valor orçado para obras contra enchente era de R$ 964.884.153 milhões. Neste ano, a quantia é de R$ 807.913.364 milhões — uma redução de 16,2% (R$156.970.789).

O temporal de hoje é equivalente à quase metade das precipitações esperadas para todo o mês de fevereiro, informou o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). A previsão é de que a chuva continue durante todo o dia, diminua na terça-feira e só deva parar na quarta-feira (12).

Fonte: https://www.brasil247.com

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

27 milhões sobrevivem com um salário mínimo e Bolsonaro ainda debocha


No mesmo dia em que o Estadão publica levantamento mostrando que 27,3 milhões de trabalhadores sobrevivem hoje com um salário mínimo por mês, o capitão Jair Bolsonaro resolveu fazer uma parceria com o ex-jornalista Alexandre Garcia para debochar dos brasileiros.

Ao menosprezar nossa capacidade de mudar o país, Garcia afirmou em vídeo que foi compartilhado pelo presidente nas redes sociais: “Alguém duvida de que os japoneses transformariam isso aqui em primeira potência do mundo em 10 anos?”

“Isso aqui” é como o ex-global se refere ao Brasil governado pelo ex-tenente, que tuitou em seguida, junto com o link no Youtube: “Alexandre Garcia: 2 minutos para mudar o Brasil. Essa é para assistir algumas vezes e compartilhar muitas”.

Nem o guru Olavo de Carvalho tinha chegado a tanto em suas apopléticas agressões ao Brasil e seu povo. Em apenas quatro anos, desde o golpe de 2016, 1,8 milhão a mais de trabalhadores passaram a ganhar até um salário mínimo por mês. Reportagem especial de Douglas Gavras e Erika Motoda traçou o perfil de vários desses sobreviventes desprezados por Jair & Alexandre, que nunca souberam o que é viver com um salário mínimo.

Economista da Consultoria IDados, Ana Tereza Pires, que fez a análise dos dados do IBGE a pedido do Estadão, atribui esses números à explosão da informalidade nos últimos anos, que já atinge a 41,1 milhões de trabalhadores.

“Sem a estrutura básica que os empregos com carteira assinada oferecem aos trabalhadores, os informais ficaram expostos a condições piores e baixas remunerações.” É difícil acreditar que os japoneses de Jair & Alexandre estejam interessados em se submeter a essas condições degradantes para salvar o Brasil.

Não satisfeito em compartilhar essa barbaridade do ex-jornalista, nesta mesma segunda-feira Bolsonaro resolveu cometer outra grosseria com os governadores do nordeste, ao participar do lançamento da pedra fundamental do Colégio Militar de São Paulo, em companhia do parça Paulo Skaf, da Fiesp dos patos amarelos.

“Se quiserem seguir formando militantes e desinformando, tudo bem”, disse Bolsonaro ao criticar o fato de oito dos nove governadores nordestinos não terem aderido ao programa de escolas cívico-militares do MEC.

O ataque bolsonarista veio logo após o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciar um aumento salarial dos professores do Estado para R$ 6,3 mil, enquanto o piso nacional da categoria reajustado pelo governo federal é de R$ 2,3 mil.

A resposta de Dino não demorou:

“Aqui no Maranhão não “inauguramos” pedra fundamental de escola. Aqui a gente inaugura escola. Pronta. Temos cerca de 1.000 obras educacionais. Centenas de escolas novas. Ou seja, enquanto uns gritam e tentam chamar atenção com confusão, estamos trabalhando com seriedade”.

Não precisamos importar trabalhadores japoneses, mas poderíamos seguir o exemplo deles, e investir mais em educação, principalmente nos professores, como faz o governador Flávio Dino no Maranhão.

Vida que segue.

Por: Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia