O
que se conhece como emprego, ocupação, direitos sociais e trabalhista e Estado
estão mudando e se transformarão radicalmente nos próximos anos. O que virá é
completamente desconhecido. Organizada a partir do mundo do trabalho, a luta
por direitos, pela liberdade, democracia, igualdade e justiça terá que ser
reinventada.
Crianças
e jovens de hoje serão os construtores do novo mundo, por meio do trabalho.
Somente eles, que participarão desta construção, poderão achar as respostas
para problemas, desafios, conflitos e contradições que surgirão, e serão
inéditos. Para esse mundo que romperá com as atuais referências, será
necessário criar adequadas formas de organização, de mobilização e de luta. A
luta social e sindical terá que ser profundamente modificada.
E
quais serão essas mudanças todas? A organização do sistema produtivo
capitalista, oriundo das três revoluções industriais, está ficando para o
passado. Há novos paradigmas produtivos irrompendo no cotidiano no mundo da
produção e do consumo, alterando todas as dimensões do mundo do trabalho.
A
riqueza financeira, reunida em fundos de investimento e articulada pelos
bancos, está comprando as empresas nacionais e multinacionais e a riqueza
natural. O objetivo é gerar o máximo lucro para distribuir resultados
trimestrais para os acionistas. As estratégias e funções econômicas e sociais
dessas organizações são outras.
Verdadeiros
tsunamis de inovação tecnológica visam a incrementar a produtividade e passam a
substituir intensivamente o trabalho humano na indústria, na agricultura, no
comércio e nos serviços. As mais variadas máquinas tomam o lugar do homem na
força de trabalho e, de maneira acelerada, ampliam as possibilidades de substituir
a inteligência humana em amplas áreas de conhecimento e profissões. Os efeitos
disruptivos sobre as ocupações, os empregos e as profissões já são, e serão
cada vez mais surpreendentes, e, muitas vezes, devastadores.
São
transformações por dentro do sistema capitalista de produção, de consumo e de
distribuição, que agora se defrontam com as potencialidades e o poder das
máquinas; com o desemprego estrutural de massas excluídas; com o aumento da
desigualdade, sem precedentes; com os problemas ambientais (as mais diversas
formas de poluição, a mudança climática e o aquecimento global); com as
múltiplas formas de guerra, inclusive a nuclear; com a escalada da violência,
das drogas, do tráfico. Ou seja, a quantidade (quase incontável), a
complexidade e a escala dos problemas afetarão de maneira radical diversas
dimensões do mundo do trabalho.
Essas
transformações promoverão rupturas em todo o sistema produtivo. Os agentes
econômicos já viabilizam a máxima flexibilidade para promover, atuar e reagir a
essa transformação, sem resistência e com segurança. As mudanças institucionais
(reforma trabalhista, por exemplo) preparam e entregam esse ambiente.
As
reformas dos Estados, privatizações e venda de recursos naturais oferecem ao
mercado ampliadas oportunidades de negócio. Está claro para a elite que as
democracias devem ser controladas, para não gerar insegurança (a chamada
confiança do investidor), e orientadas para aguentar as mudanças. Onde não for
possível ou houver resistência, as democracias podem ser sacrificadas. O
Brasil, com as riquezas e o sistema produtivo, é um dos maiores jogadores nesse
mundo e faz parte desse tsunami transformador.
O sindicalismo tem o desafio de mergulhar na reflexão sobre o futuro, prospectar os desafios, articular a compreensão da complexidade e enunciar lutas inovadoras para essa nova etapa histórica. O sindicalismo tem, mais uma vez, a tarefa de trazer para o jogo social o trabalhador como sujeito coletivo, como classe, como ator político que constrói a história de todos, das nações, dos países e, hoje, do planeta.
É
preciso pensar 10, 20, 30 anos para a frente. Por isso, os principais
protagonistas desse movimento são os jovens trabalhadores. Serão eles que
estarão produzindo, revelando as contradições da nova produção e distribuição
desse outro sistema capitalista. É esse mundo, que será nosso também, mas
produzido pelos jovens, que deve instruir o debate. Serão os jovens de hoje que
terão que imaginar e criar outras formas de luta a partir do mundo do trabalho.
São eles que terão que se colocar em movimento. Nós seremos seus companheiros
de luta e estaremos juntos, para o que der e vier, enquanto estivermos vivos!
Por:
Clemente Ganz Lúcio é
sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social.
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