Com esse desempenho, o
Brasil entra em recessão técnica – dois trimestres seguidos de queda – com um
declínio persistente acendendo um alerta ainda maior pela completa ausência de
perspectivas no horizonte. Pelo lado da oferta, o resultado do terceiro
trimestre foi influenciado pelo setor agropecuário (-8,0%) pelo encerramento da
safra da soja, grão que domina a produção agrícola e principal item da pauta
exportadora brasileira.
A indústria, que responde
por cerca de 20% do PIB nacional e poderia ser um vetor de crescimento e
desenvolvimento, segue estagnada (0,0%) e o resultado só não foi pior por conta
do crescimento na construção civil (3,9%). Analisando especificamente a
indústria de transformação, são três trimestres seguidos de queda: no primeiro
trimestre de 2021 (-0,4%), no segundo trimestre (-2,5%) e no terceiro trimestre
(-1,0%), depois de encerrar 2020 com um tombo de 4,4%.
Conforme dados da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil, num
conjunto de 48 países, foi um dos poucos que registrou resultado negativo no
terceiro trimestre de 2021, juntamente com Bulgária, México, Indonésia, Japão,
Argentina, Austrália e Islândia.
A
autorregulação dos mercados não entrega o que promete
O Brasil vai mal na
economia, ao contrário do propagado pelo ministro da economia, que tem alvos
bem definidos, ainda que dissimulados, e que comemora resultados que não
existem. Um padrão econômico profundamente excludente e gerador de
desigualdades.
O país segue na contramão
das grandes economias que abandonaram o dogma da autorregulação dos mercados e
estão se recuperando mais rapidamente. Ora a história e as experiências
empíricas nos mostram que o mercado é promotor de desigualdades e não de
igualdade. São caminhos que já se mostraram desastrosos pela vasta destruição
na estrutura produtiva e no tecido social.
Mundo afora, países correm
para retomar o crescimento com um Estado atuante na proteção social, nos
investimentos contracíclicos, na oferta de crédito e nas ampliações de bens
públicos. As projeções da OCDE para o PIB brasileiro em 2022 – mais otimistas
do que a dos analistas financeiros por aqui –, são de crescimento menor para o
Brasil (1,2%) frente a outros países da América Latina como a Argentina (2,5%),
Chile (2,0%), Colômbia (5,5%), Costa Rica (3,9%) e México (3,3%).
Crescimento
para quem?
No Brasil, o mercado
financeiro revisou para baixo pela oitava semana seguida a projeção de
crescimento do PIB de 2021: 4,7% e, para 2022, apenas 0,5%. E ainda precisamos
considerar que em 2021 será um crescimento em relação a uma base retraída (o
PIB encolheu 3,9% em 2020), além do paradigma crescimentista: crescimento de
quê e para quem? O PIB poderá crescer, mas o desemprego permanece alto, com
aumento da desigualdade e queda da renda.
Num quadro de estagnação,
para piorar, o Brasil segue aumentando juros e com taxas mensais que no resto
do mundo se cobra ao ano e que não resolvem o problema de preços, como defende
o governo. A disparada da inflação não é
resultado de uma demanda maior e sim de custos, de choques de oferta e de
políticas (ou ausência delas) do próprio governo. É um cenário que dificulta
ainda mais qualquer possibilidade de retomada econômica, seja pela inibição do
investimento, seja pelo encarecimento do crédito para as famílias e empresas.
E juros maior pressiona para
cima o custo da dívida pública, transferindo bilhões para o setor financeiro.
Segundo levantamento da Instituição Fiscal Independente (IFI), um aumento de um
ponto percentual na taxa de juros significa R$ 53 bilhões a mais por ano a
detentores de títulos da dívida pública.
Desemprego
Enquanto isso, o país segue
com a quarta maior taxa de desemprego (12,6% no trimestre móvel julho a setembro)
numa lista de 44 países, de acordo com a agencia Austin Rating, sendo a taxa
mais alta do G20.
A desigualdade de um país
diminui conforme aumenta sua complexidade econômica e isso passa, dentre outros
fatores, pela indústria, pela inovação. O problema é que o Brasil vem trilhando
o caminho oposto, salvo algumas ilhas de excelência, com uma economia
simplificada, com redução do papel da indústria de transformação.
Por:
Daniela
Sandi, economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
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