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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Atila Iamarino: não haverá carnaval em 2022 e pandemia vai durar anos

Doutor em Microbiologia pela Universidade de São Paulo reforça que a única forma de superar a covid-19 é combinando vacinação acelerada e medidas fortes de distanciamento social. É bom revelar também que o governo Bolsonaro rejeitou em 2020 a compra de 70 milhões de doses da farmacêutica Pfizer e por diversas vezes ofertas do Instituto Butantan e de outras vacina.

“O Brasil vai ficar com os casos explodindo e fronteira fechada por uns bons anos, se a gente continuar na estratégia contra a covid que estamos usando agora.” A afirmação é do doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) Atila Iamarino, na live mais recente que ele apresentou no YouTube, na quarta-feira (31). Diante disso, foi taxativo em prever que não haverá carnaval em 2022, da mesma forma como não houve este ano.

O divulgador científico afirmou que “o que a gente tá fazendo até agora não resolve a pandemia aqui no Brasil”. Utilizando alegorias para explicar o cenário, disse que não adianta apenas a vacinação, ela tem de vir junto com o lockdown. “Sem essas medidas, isso não vai passar. Não tem carnaval de 2022. Não sou eu falando, estou constatando o que está acontecendo. A gente está com o braço quebrado e se a gente não parar para deixar esse braço se regenerar, ele vai continuar doendo e você vai continuar sem poder usar esse braço. O Brasil não está deixando a ferida da covid cicatrizar.”

Atila continua seu raciocínio reforçando o que ele mesmo já havia dito, além de um sem número de outros especialistas na área. “As vacinas sozinhas não fazem o trabalho de segurar o vírus. É preciso das medidas de distanciamento social, de fechamento, de máscara”, afirma, acrescentando as conclusões de um estudo sobre o Reino Unido, que usam vacinas com a mesma eficácia que o Brasil. “São suficientes pra impedir o vírus? Não são. Só essas vacinas, mesmo se grandessíssima parte for vacinada, não impedem a transmissão do vírus.”

Troca de presidente

Outro exemplo usado por ele para mostrar a necessidade urgente da combinação entre medidas claras de distanciamento e imunização eficiente é a melhora consistente na situação da crise nos Estados Unidos. Segundo o biólogo, o país está até ensaiando ter o Dia da Ação de Graças com as pessoas se reunindo no final deste ano, em 25 de novembro.

Os Estados Unidos eram de longe o país mais crítico no que diz respeito à pandemia, com mortes diárias acima de 3 mil entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano. Porém, neste meio tempo houve a troca de governo. Saiu Donald Trump, “mestre” de Jair Bolsonaro, e entrou Joe Biden, que passou a valorizar as medidas de isolamento sugeridas por toda a comunidade científica internacional, e acelerou a vacinação. Resultado, nas últimas semanas eles raramente superam mil mortes diárias em uma curva claramente descendente.

Bolsonaro não comprou vacinas em 2020

A farmacêutica Pfizer fez a primeira oferta de 70 milhões de doses em 14 de agosto de 2020 e o governo federal não se interessou. Instituto Butantan ofereceu milhões de doses da CoronaVac ao governo em 30 de julho, 18 de agosto e 7 de outubro. O governo nunca se interessou.

Além disso, embora o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, tenha afirmado que encontrou dificuldade em negociações com o consórcio Covax Facility, da Organização Mundial de Saúde (OMS), pessoas ligadas às conversas, segundo apurou matéria da Folha de São Paulo, apontam que foi da pasta a decisão de adquirir doses para apenas 10% da população por meio da iniciativa.

A Pfizer não foi a única a ter propostas rejeitadas. Documentos mostram que outros laboratórios também tiveram ofertas que previam entregas mais cedo ignoradas, a exemplo do Instituto Butantan, que hoje é responsável por pelo menos 78% das vacinas já distribuídas no país contra a Covid.

Desumanidade

Aqui no Brasil, por outro lado, os números da covid só sobem e há mais de um mês não tem um dia em que não são registrados pelo menos dois mil óbitos. A chamada média móvel está beirando 3 mil por dia, batendo recorde atrás de recorde. O número oficial de mortes já está acima dos 330 mil, com uma subnotificação estimada em torno de 35%. Segundo a Universidade de Washington, serão mais de 560 mil mortes até meados de julho.

“A gente podia ter esse discurso de que covid não matava quando era uma pessoa na TV que aparecia morrendo. Agora já é alguém do bairro, do quarteirão, do condomínio, da família, um amigo próximo”, diz Atila Iamarino. “Eu não sei o que a gente precisa ver pra mudar essa situação no Brasil. O meu limiar de desumanidade já passou faz muito tempo, mas aparentemente, pra quem toma decisões, isso ainda não chegou”, conclui.

Por: Rovena Rosa/Agência Brasil.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Reações adversas à cloroquina disparam 558% e Anvisa já registra nove mortes

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) notificou, após de março de 2020, nove mortes por efeitos adversos decorrentes do uso de medicamentos do chamado "kit Covid" como cloroquina e hidroxicloroquina, remédios sem comprovação científica no tratamento contra a Covid-19. No caso da cloroquina, recomendado por Jair Bolsonaro, o aumento nas notificações por efeitos adversos foi de 558%. Os dados constam de um levantamento feito pelo jornal O Globo com base no Painel de Notificações de Farmacovigilância mantido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os números apontaram que notificações por efeitos adversos associados ao uso da cloroquina aumentaram de 139 em 2019 para 916 em 2020, alta de 558%. No mesmo período, a quantidade de notificações referentes a todos os medicamentos saiu de 8.587 em 2019 para 19.592 no ano seguinte, aumento de 128%.

Do total de eventos adversos notificados, 96% estavam no Amazonas, um dos estados que mais sofreram com a pandemia, chegando a faltar até tubos de oxigênios em unidades de saúde. Entre os principais efeitos adversos notificados estão: distúrbios dos sistemas nervoso, gastrointestinal, cardíaco e psiquiátrico.

Gerente-geral de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária da Anvisa, Suzie Gomes reforçou que o "único produto autorizado na Anvisa para o tratamento da doença Covid-19 é o Remdesivir, que pode ser administrado no ambiente intra-hospitar".

"É importante frisar que nenhum medicamento é isento de riscos. E esses riscos podem ser agravados pelo uso indiscriminado e sem orientação profissional. Isso vale para todos os medicamentos", disse. "A avaliação dos possíveis eventos adversos é uma rotina da área de farmacovigilância e compõe uma etapa importante da avaliação de segurança, mas não é a única".

Ministério recomendou cloroquina

Em janeiro, usuários do Twitter criaram perfis fictícios para acessar o aplicativo do ministério da Saúde, então comandado pelo general Eduardo Pazuello, e constataram que a plataforma receitou a cloroquina contra a Covid-19, diferentemente do que havia dito o general.

Pessoas que nem sabiam se estavam com a doença receberam como sugestão o uso do remédio, que também valeu até para recém-nascido.

Estatísticas da pandemia

De acordo com a plataforma Worldomters, que disponibiliza dados globais sobre a pandemia, o Brasil registrou, até o momento, 12,9 milhões de casos de coronavírus, número que só é inferior ao dos Estados Unidos (31,4 milhões). O governo brasileiro também contabilizou a segunda maior quantidade de óbitos (331 mil). Os EUA têm o contingente de mortes mais alto (568 mil).

No sábado (3), o Brasil chegou a 19.182.802 de pessoas que tomaram a primeira dose de vacina contra a Covid-19. Do total, 5.342.361 pessoas receberam a segunda dose, o que representa 2,52% da população com a imunização completa.