O dia 24 de janeiro de 2018 ficará marcado na
história como o dia em que Lula se libertou. Acabou a apreensão, o nervosismo
da expectativa de um possível julgamento justo. O que se viu em Porto Alegre,
durante horas e horas de sessão, foi a confirmação de que o Judiciário
brasileiro não tem o menor pudor em assumir diante das câmeras que tem um lado:
o das elites brancas, escravocratas e raivosas.
Longuíssimas leituras e discursos políticos
dos magistrados e nem uma migalha de provas da culpabilidade do ex-presidente
da República. Como os inquisidores nada conseguiram provar, mostraram para seus
patrões da mídia e do Kapital que são ainda mais cruéis que o TorqueMoro e
aumentaram a pena.
Tramando a confirmação do crime, vilipendiaram
as leis, a Constituição, o Estado Democrático de Direito. Com punhos de renda,
prestaram contas ao rentismo. Com inteligência média, ganharam as manchetes da
mídia. E voltaram pra suas casas com as mãos sujas dos carrascos.
E ali começou a libertação
de Lula do seu pequeno corpo físico de metalúrgico migrante do agreste
pernambucano. O que era carne virou verbo: Lular. Se de um lado, o prefeito de
Porto Alegre, seu inimigo figadal, tucano de filiação e MBL (essa seita
dirigida por garotos fascistas, financiada por abastados e seguida por
abestados) por convicção, não conseguiu juntar uma centena de g(p)atos
pingados; do outro, 70 mil pessoas de todo o Brasil lularam numa demonstração
gigantesca de apoio ao seu líder e que a mídia Golpista ocultou dos seus
leitores.
Certamente, Lula é o réu que
mais arrastou simpatizantes para um julgamento na história da humanidade. E a
massa lulava com força, com gana, com raça, com coragem, mesmo sabendo que os
juízes jogavam no time adversário.
A farsa acabou, os véus
foram rasgados, as máscaras deixadas nos bolsos das togas. Despiram-se das
fantasias a menos de vinte dias do carnaval. E quando o mundo abriu os olhos,
os três patéticos estavam nus diante do tribunal da verdade, aquela que adoece,
mas nunca morre. A guilhotina foi armada para decapitar o maior líder popular e
o presidente mais bem avaliado da história do Brasil.
Mas Lula desencantou, bateu
asas na Esquina Democrática da capital gaúcha, sobrevoou o Guaíba, se misturou
ao vento e se espalhou pelo país. Se fez matéria nas universidades e institutos
tecnológicos que construiu, nos 40 milhões que ajudou a tirar da miséria, na
retirada do Brasil do mapa da fome da ONU, nas águas transpostas do Velho
Chico, na Luz que ofertou para Todos, nos alimentos da Agricultura Familiar que
saciou a fome nas merendas escolares, nos tetos seguros do Minha Casa Minha
Vida, nos milhares de jovens negros e pobres que ingressaram nas universidades
e adquiriram conhecimento até ultrapassaram nossos limites geográficos no
Ciência Sem Fronteiras.
Esfumando-se da cidade que
foi por vezes sede do Fórum Social Mundial, Lula aterrissou na Praça da
República (ironia da história), na capital do Kapital brasileiro. Ali, num tom
sereno, dos que portam a certeza da sua inocência, acalmou e orientou para a
luta os 50 mil militantes que o ouviram atenta e emocionadamente.
Paradoxalmente, a poucos quilômetros dali, na Avenida Paulista, os vitoriosos
do dia não conseguiram amealhar mais do que 300 adeptos.
Sintoma de que a população
se cansou de ser manipulada por grupelhos infanto-fascistas e pela mídia
golpista. Senão, como explicar que os torcedores do time campeão recolheram-se
em seus lares e os “derrotados” desfilaram na avenida como se tivessem ganho o
campeonato? E o mar de vozes e bandeiras vermelhas lulou até a Paulista, onde
já não havia o menor sinal dos “vitoriosos”.
Lula não é mais de carne e
osso. Não é mais um nordestino de voz rouca e língua presa. Lula virou pássaro,
virou canção, virou poesia. Já entrara pra história como um dos nossos melhores
presidentes, senão o melhor. Agora se perpetuará como um dos mais injustiçados,
caçados, esquadrinhados, revirados, tripudiados.
Seu corpo de 72 anos pode
até ser encarcerado, mas não se pode prender seus ideais, seus projetos, seus
sonhos, seus feitos, sua utopia. Eles não cabem nas gaiolas da FIESP, da Rede
Globo, da FEBRABAM, da Veja ou da Folha de São Paulo, pois já estão fecundados
nos corações e mentes de milhares de brasileiros e brasileiras que não
desistirão nunca de serem livres. Lula não mais se pertence. Ele agora é do
povo, dos mais humildes, dos mais conscientes, dos mais necessitados, dos
excluídos.
Não por acaso, lidera
folgado todas as pesquisas de intenção de voto para presidente da República. E
já não precisa mais receber nenhum desses votos, pois virou lenda, virou mito,
virou luz na escuridão que o Golpe nos jogou. Virou estrela no céu cinzento,
virou sol em meio a tempestade. Seus algozes quiseram transformá-lo em cinzas,
mas Lula é Fênix. Renasce e cresce a cada derrota. O sapo barbudo ficará na
história, os juízes na escória.
Contam que depois da
sentença, pré-anunciada pela crônica, ouviu-se Lula declamando os versos do
gaúcho (talvez uma homenagem à cidade que o abraçou e o fez mártir) Mário
Quintana: todos esses que aí estão, atravancando o meu caminho, eles
passarão...Eu passarinho!
Voa Lula, voa!
Jeter Gomes - Engenheiro
mecânico, poeta, especializado em Economia do Trabalho e Sindicalismo, mestre
em Educação e consultor para assuntos de Sindicalismo, Economia Solidária,
Cooperativismo e projetos sociais.
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