O levantamento revela que em
12 anos o número de domicílios vagos aumentou 87%, o que não diminuiu o déficit
habitacional para 6 milhões de pessoas, mesmo com11 milhões de casas vazias. São
Paulo é o estado que mais impulsiona o dado. Os dois milhões de moradias vazias
representam 12% de todas as que existem no estado.
Só na capital paulista, desde
o Censo anterior feito em 2010, o número de casas e apartamentos sem ninguém
morando duplicou. Atualmente são 588 mil.
A quantidade de casas e apartamentos inutilizados é o dobro do número de
famílias que não têm onde morar ou que vivem em condições muito precárias.
O déficit habitacional
brasileiro alcança, segundo o último levantamento da Fundação João Pinheiro
feito em 2019, quase seis milhões de domicílios. Uma das informações que mais
chamou a atenção no novo levantamento do IBGE - Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística foi o crescimento populacional abaixo do esperado.
Os cálculos estimavam que os
habitantes do país chegariam a 207 milhões. A pesquisa constatou, no entanto,
sermos atualmente 203 milhões. Entre 2010 e 2022, enquanto a população no país
cresceu 6%, os domicílios vazios saltaram 87%. Entre 2010 e 2022, o número de
domicílios aumentou 34%, chegando a 90 milhões.
Roberto do Carmo, sociólogo e
demógrafo explica que o baixo crescimento populacional está associado à
diminuição do número de nascimentos – uma tendência observada dos últimos 50
anos para cá – e o aumento da expectativa de vida que, por sua vez, eleva a
mortalidade. É o que se chama transição demográfica.
Roberto, que é também
professor do departamento de demografia da Unicamp e pesquisador do Núcleo de
Estudos de População Elza Berquó, elenca três processos pelos quais o país
passa há décadas e que o Censo 2022 reforça. São eles: a crescente população em
áreas urbanas, mudanças na estrutura da família e a lógica das cidades regidas
pelo mercado imobiliário.
“Ao longo desses 60 anos,
houve um aumento da população residindo nas áreas urbanas do Brasil da ordem de
150 milhões de pessoas”, destaca Carmo. “Esse processo longo e complexo
aconteceu sem planejamento anterior e grande parte da população até hoje não
conseguiu ter acesso a um pedaço de terra para moradia digna”, aponta, e salienta
que a dinâmica se reproduz das grandes até as pequenas cidades.
O professor ponderou que as
diferenças entre classe sociais já que famílias de baixa renda compartilham
mais numerosamente o mesmo teto, o demógrafo expõe que ao longo das últimas
décadas o Brasil vive uma mudança na característica geral das famílias. O
aumento dos divórcios e da longevidade são características que podem explicar
que existam mais pessoas vivendo sozinhas e, portanto, mais demandas por
domicílios.
O grande fator destacado é a
“superprodução habitacional”: “As cidades brasileiras, em grande parte, são
organizadas pelo mercado imobiliário. E o mercado imobiliário, principalmente
nos últimos anos, não tem muita correspondência com a realidade. É marcado pela
ideia do imóvel como investimento”, caracteriza.
“Veja, quando há investimento,
não é necessário ter uma demanda concreta de pessoas para comprar aquele bem. Com
isso, existe essa superprodução de imóveis fora da realidade da demanda
habitacional, e isso necessariamente terá que ser revisto à luz dos dados
apresentados pelo Censo”, defende Carmo.